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    Exclusivo CNN: vídeos contestam relato do Pentágono sobre saída do Afeganistão

    Imagens obtidas pela CNN mostram rajadas de tiros após explosão em aeroporto de Cabul; 13 militares americanos e pelo menos 170 civis morreram no ataque

    Nick Paton WalshMick Krever

    Novas provas em vídeo descobertas pela CNN refutam o resultado de duas investigações do Pentágono sobre um ataque suicida do Estado Islâmico-K na área do aeroporto de Cabul durante a retirada das tropas americanas do Afeganistão em agosto de 2021. A segunda das duas investigações foi revelada na semana passada.

    O incidente marcou um encerramento tenebroso para a guerra mais longa enfrentada pelos Estados Unidos, com o saldo de 13 militares americanos e cerca de 170 afegãos mortos. Os afegãos procuravam  desesperadamente a ajuda dos EUA para fugir do país após a retomada do poder pelos talibã. Durante dois anos, as forças dos EUA insistiram que as mortes daquele dia foram causadas por uma única explosão, e que os militares que estavam sob ataque e revidavam provavelmente ficaram confusos no meio do cenário, alguns sofrendo do choque após a explosão.

    No entanto, o vídeo captado pela câmera GoPro de um fuzileiro naval – que ainda não foi visto publicamente na íntegra – mostra que houve muito mais tiros do que o admitido pelo Pentágono. Mais de dez militares dos EUA que estavam na cena e falaram à CNN sob anonimato por medo de represálias descreveram o tiroteio em detalhes.

    Um deles disse à CNN que ouviu que a primeira grande rajada de tiros veio de onde os fuzileiros americanos estavam posicionados perto do local da explosão. “Não foram poucos”, disse o fuzileiro. “Foi uma quantidade enorme de tiros”.

    Um médico afegão que aceitou falar com a CNN abertamente disse que retirou pessoalmente balas dos feridos. Ele e sua equipe do hospital contaram dezenas de afegãos que morreram de ferimentos a bala.

    Em conjunto, as novas evidências contestam a credibilidade dos dois inquéritos militares dos EUA e abrem sérias questões para o Pentágono, que continuou a repudiar provas crescentes de que civis foram mortos a tiros.

    A explosão, às 5h36 da tarde de 26 de agosto de 2021, nos arredores do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, foi o pior incidente em número de vítimas civis afegãs e militares dos EUA no Afeganistão em mais de uma década.

    Durante dias, centenas de afegãos desesperados – incluindo mulheres, crianças, idosos e militares – se mantiveram em filas no calor alucinante daquela área. A esperança deles era conseguir chegar no aeroporto e embarcar nos aviões de carga dos EUA que retiraram mais cem mil pessoas em segurança naqueles dias.

    A cena fora do Portão da Abadia do aeroporto, onde as multidões eram mais densas, já era horrível mesmo antes da explosão. Ex-tradutores, intérpretes e outros afegãos que auxiliaram as forças de OTAN no país durante quase 20 anos andavam pelo canal de drenagem que circunda a área, com o lixo e esgoto na altura dos joelhos.

    Depois que um terrorista suicida do Estado Islâmico-K detonou um dispositivo numa mochila um pouco acima do canal de drenagem lotado de cidadãos, a operação de retirada foi drasticamente reduzida.

    O Pentágono insistiu que todas as mortes e ferimentos foram causados pela explosão e pela disparada da multidão que se seguiu a ela. Embora tenha reconhecido que tiros foram disparados pelas forças americanas e britânicas, o Pentágono diz que foram apenas três rajadas quase simultâneas – uma de 25 a 30 tiros de advertência das tropas britânicas, e duas das tropas americanas mirando militantes suspeitos, e que não atingiram ninguém.

    Em setembro de 2023, o Comando Central do Exército dos EUA ordenou uma revisão suplementar sobre o incidente, depois de ser criticado quanto às conclusões da sua investigação. O principal ponto, levantado em depoimentos angustiantes de sobreviventes nas redes sociais e em audiências do Congresso, era se a explosão poderia ter sido evitada.

    Os resultados, que foram divulgados recentemente, em 15 de abril, reafirmaram que uma única explosão do Estado Islâmico-K era a causa do incidente. Além disso, “novas informações obtidas durante a revisão não impactaram de forma material as descobertas da investigação de novembro de 2021”, e a revisão “não recomendou nenhuma modificação nessas descobertas”. A revisão não usou os inúmeros relatos de afegãos vítimas de tiros logo após a explosão.

    A filmagem da GoPro do fuzileiro naval acontece praticamente sem pausa durante muitos minutos antes e depois da explosão. O vídeo mostra 11 episódios de disparos após a explosão, ao longo de quase quatro minutos. São mais do que as três rajadas quase simultâneas de tiros que as investigações do Pentágono alegaram ter ocorrido.

    Uma sequência sustentada de cerca de 17 disparos acontece pouco mais de 30 segundos depois da detonação da bomba, de acordo com o vídeo. Há outras dez rajadas com duas a três disparos cada. O vídeo não capta em nenhum momento os fuzileiros disparando, nem mostra alguém sendo atingido por tiros. Não fica claro onde estão os atiradores ou em quem estão atirando.

    Nas imagens, fuzileiros navais, alguns em seu primeiro destacamento numa zona de guerra, correm para se proteger dos tiros e são sufocados com gás CS (semelhante ao gás de pimenta) liberado quando a explosão abriu uma lata de gás que estava no colete de um militar americano.

    Um fuzileiro naval, provavelmente o operador da câmera, observa depois da explosão: “Eu consegui filmar isso, cara”.

    Segundos depois, enquanto os afegãos parecem correr em direção aos muros do aeroporto em busca de segurança, outra voz acrescenta: “Eles estão avançando”. O restante das imagens mostra os fuzileiros que rapidamente buscam reunir suas próprias unidades, ainda tentando entender os impactos da explosão, e ouvindo uma série constante de explosões controladas e isoladas de tiros por perto.

    Ao assistir às imagens da CNN, Robert Maher, especialista forense em áudio na Universidade Estadual de Montana em Bozeman, encontrou pelo menos 11 episódios de tiros em uma janela de quatro minutos, totalizando um mínimo de 43 disparos.

    O especialista acrescentou que a explosão, perto do início do vídeo, continha pelo menos 17 tiros, com múltiplas armas provavelmente disparando e se sobrepondo. Segundo Maher, em duas outras rajadas, as rodadas de tiros parecem seguir uma sequência que eles chamam de “crack-boom” – a saída da bala atravessa a barreira do som e é gravada antes do som do tiro atingir o microfone – indicando que a bala passou sobre ou na frente da câmera.

    Sarah Morris, especialista em ciência forense digital da Universidade de Southampton, na Inglaterra, examinou tanto os arquivos de áudio como o vídeo em busca de evidências de alteração ou manipulação digital, e não encontrou nenhuma. Para Morris, os dados de localização e metadados dos dois clipes, antes e depois da explosão, mostraram que eles foram filmados “muito próximos um do outro”.

    De forma separada, a especialista inglesa usou um algoritmo para eliminar gradualmente o ruído de fundo previsível numa GoPro a partir de roupas ou movimentos, e descobriu 16 pontos nos quais houve picos de áudio que ela disse serem “ruídos incomuns que parecem consistentes com uma arma de fogo”. Os 16 se sobrepõem aos 11 episódios destacados por Maher.

    As imagens seguem. Enquanto alguns militares ajudavam os afegãos feridos, o vídeo também mostra que, 21 minutos e 49 segundos após a explosão, os fuzileiros navais dispararam contra um recipiente de gás CS do interior da área do aeroporto na direção da região perto da explosão. Os tiros podem ter caído perto de civis afegãos feridos e mortos, ainda reunidos em torno da trincheira de esgoto na cena explosão, de acordo com vídeos compartilhados nas redes sociais.

    Os inquéritos do Pentágono não citam o vídeo, meia hora do qual a CNN teve acesso. Não está claro quanto dele os oficiais do Pentágono viram antes da publicação desta reportagem. De toda a gravação, o Pentágono divulgou apenas quatro segundos  – o momento da explosão em si – como parte da sua primeira investigação em fevereiro de 2022. A fonte desse breve trecho permanece anônima.

    Antes de publicar esta reportagem, a CNN descreveu o vídeo completo e as descobertas desta reportagem com detalhes significativos para o Pentágono. Um porta-voz disse que o Pentágono precisaria ver qualquer “vídeo novo, antes inédito” antes de avaliá-lo. O tenente-coronel do Exército Rob Lodewick, assessor de assuntos públicos da equipe de revisão suplementar, afirmou que a última revisão do caso confirmou as descobertas iniciais do Pentágono.

    Milhares de afegãos e suas famílias foram ao aeroporto de Cabul para tentar deixar o país
    Milhares de afegãos e suas famílias foram ao aeroporto de Cabul para tentar deixar o país / Sayed Khodaiberdi Sadat – 16.ago.2021/Anadolu Agency via Getty Images

    Lodewick declarou em comunicado: “A Investigação de 2021-2022 do Portão da Abadia analisou minuciosamente as alegações de um ataque complexo” que teria envolvido tiros de militantes após a explosão, “bem como alegações de saída de fogo dos EUA e das forças de coligação após a explosão. A Revisão Suplementar não encontrou nenhuma nova evidência de um ataque complexo, e não descobriu novas afirmações de disparo de fogo após a explosão. Consequentemente, a Revisão Suplementar não encontrou nenhum impacto material nas descobertas originais da investigação do Portão da Abadia.

    Um porta-voz do Ministério da Defesa britânico disse que suas tropas dispararam “tiros de advertência acima da multidão para evitar um levante” e que nenhum tiro foi disparado contra as pessoas – a mesma posição que manteve em 2022.

    A CNN já havia revelado que 19 testemunhas afegãs disseram que viram tiros ou até mesmo foram baleados.

    “Vi pessoas feridas na explosão tentando se levantar, mas sendo atingidas por disparos”, contou Shogofa Hamidi, cuja irmã Morsal foi baleada no rosto, em reportagem da CNN publicada em fevereiro de 2022.

    “Eles estavam mirando nas pessoas”, contou Nazir, 16 anos, à CNN. “Na minha frente, as pessoas estavam sendo baleadas e caindo”.

    Noorullah Zakhel, cujo primo morreu no ataque, disse que as balas pareciam atingir aqueles que tentaram fugir, e se lembrou que soldados estavam na sua frente quando ele caiu no chão, abaixo da parede do canal. Tais relatos se somam ao testemunho de um médico e 13 prontuários hospitalares que detalharam feridas de bala entre afegãos.

    Em 2022, o doutor Sayeed Ahmadi, diretor do hospital Wazir Akhbar Khan em Cabul, falou anonimamente à CNN, pois temia pela sua segurança. Atualmente asilado na Finlândia, ele concordou em falar abertamente sobre as cenas angustiantes naquela noite na sua unidade de trauma.

    “As lesões por explosão têm ferimentos graves e muitos buracos nos corpos”, explicou. “Mas as pessoas que foram baleadas tinham apenas um ou dois buracos no peito ou na cabeça”.

    Ahmadi passou muitos anos tratando feridos no Afeganistão devastado pela guerra. “É claro que, quando vemos [os ferimentos das] balas é algo totalmente diferente dos rolamentos [presentes nas bombas]. Todos soldados ou médicos sabem disso”.

    Enquanto os médicos tratavam os pacientes, Ahmadi disse que recebeu um telefonema ameaçador dizendo-lhe para impedir que sua equipe registrasse quais pacientes estavam feridos por balas e quais tinham morrido ou sido atingidos pela explosão.

    “A pessoa falou fluentemente na língua dari”, contou. “Ele me disse: ‘O que está fazendo, doutor? Você ama a sua vida. Você ama a sua família. Não é nada bom coletar esses dados. Isso causaria uma situação muito perigosa para vocês. Vocês devem parar isso o mais rápido possível”.

    O homem ligou outra vez para repetir o aviso, e Ahmadi aconselhou à equipe que parasse de registrar os dados e destruísse as provas que tinha recolhido.

    Em resposta à declaração anônima inicial de Ahmadi à CNN em 2022 abordando os feridos a bala, o Pentágono disse que o médico afegão estava enganado. Segundo a resposta, as lesões por tiros e por rolamentos são difíceis de distinguir – uma alegação contestada por vários médicos de combate que falaram com a CNN e pelo próprio Ahmadi.

    O doutor Ahmadi disse que nunca foi abordado por investigadores americanos.

    “Espero que um dia me perguntem”, afirmou. “Agora estou seguro. Sinto-me bem… Às vezes, apenas esse segredo que tenho na minha mente me assombra”.

    O porta-voz do Pentágono, Lodewick, disse que não foram entrevistados afegãos para a investigação original chamada AR 15-6 “porque o seu âmbito e foco nas operações dos EUA não exigiam dessa forma”. Para ele, a revisão complementar foi “ainda mais refinada” em seu escopo, focando mais nos eventos antes da explosão e no terrorista, “e novamente não apresentou nenhuma necessidade imensa para a busca de informações externas centradas no Afeganistão”.

    Os relatos dos militares americanos dos momentos após o desastre têm sido frequentemente refutados por autoridades como produto do choque ou da concussão pela explosão, ou ainda por traumatismo cranioencefálico. Mas, conforme mais fuzileiros sobreviventes deixam a ativa e seguem lutando com seus traumas e com a narrativa oficial que se choca com suas experiências pessoais, crescem as divergências.

    A CNN falou com cerca de dez fuzileiros navais anonimamente, e muitos deles descreveram ouvir tiros e sentirem-se sob ataque. Alguns relataram ver o que achavam ser um atirador das forças inimigas. O Pentágono insistiu que nenhum pistoleiro abriu fogo na área no momento do ataque, exceto as tropas dos EUA e do Reino Unido nas rajadas de advertência já mencionadas oficialmente. Nenhuma testemunha norte-americana ou afegã afirmou especificamente que viu diretamente o fogo inimigo.

    Um fuzileiro naval que decidiu falar, mas pediu anonimato temendo represálias, tornou-se a primeira testemunha ocular americana a descrever tiros disparados de onde o pessoal dos EUA estava localizado. Ele disse que as rajadas de tiros após a explosão – ouvidas por testemunhas no chão e audíveis no novo vídeo – vieram da área em torno da torre de sniper do Portão da Abadia, onde os fuzileiros americanos estavam agrupados.

    Embora não tenha certeza de que os fuzileiros navais disparavam diretamente contra a multidão de civis afegãos à frente deles, ele disse: “Eles não estavam disparando para o alto”. Os fuzileiros navais foram instruídos a não dar tiros de advertência, segundo ele, já que essas rodadas disparadas para o alto muitas vezes aterram mais tarde em áreas civis. “Não era uma ordem direta”, acrescentou. “Mas era um entendimento comum: nada de tiros de advertência”. A testemunha disse que não achava que nenhum dos tiros disparados na janela de quatro minutos de disparos audíveis no novo vídeo teria sido de tiros de aviso.

    Ordens públicas emitidas pela Marinha em dezembro de 2020 proibiram tiros de advertência, a menos que especificamente autorizado no plano de destacamento. O relatório do Pentágono disse que os fuzileiros navais da unidade 2/1 (que compõem a maioria dos que estavam na cena) “não deram tiros de advertência e usaram apenas granadas de atordoamento com pouca frequência”. O fuzileiro disse que não viu nenhum militar dos EUA específico atirando e ele próprio não atirou.

    Ele descreveu calmamente os principais detalhes da explosão e das suas consequências, mas ficou emocionado ao discutir as investigações do Pentágono, incluindo o que ele descreveu como uma falta de transparência sobre o que aconteceu e o possível papel que os tiros dos militares desempenharam no aumento do número de mortes civis afegãos.

    Mas defendeu a resposta imediata dos seus colegas que estão sendo atacados. “A reação que os fuzileiros navais tiveram foi uma que, acredito, qualquer pessoa treinada para esse cenário teria tido”, disse o fuzileiro naval, sugerindo que eles estavam na primeira fase da prática de três estágios da RTR – sigla em inglês para revidar o fogo, achar uma cobertura e depois devolver com fogo preciso.

    “É preciso lembrar que são garotos. Eles são jovens. E só lhes foi ensinado aquilo. Alguns desses jovens estavam na unidade há literalmente dois, três meses antes de ser destacados. Eles não tinham o treinamento para reconhecer algumas das coisas que podem ter ocorrido – ninguém pode ter sido treinado para o que aconteceu em 26 de agosto. Ou para o que realmente aconteceu em Cabul”.

    A fonte disse que a resposta significativa com tiros de fuzileiros navais depois da explosão era de conhecimento comum entre os militares sobreviventes, apesar de não abordada publicamente. “É muito esquisito.  E frustrante. Por que se esconder do que aconteceu?”

    Em relação à alegação do Pentágono de que os relatos de militares dos EUA sobre o caso são resultado de trauma, a testemunha disse: “É uma desculpa ridícula. É loucura dizer que todos os fuzileiros navais, todos os soldados, todos os membros da Marinha no local têm uma lesão cerebral traumática e não conseguem se lembrar do que foram os tiroteios. É completamente desrespeitoso. E especialmente vindo de alguém que não estava lá”.

    “Para as famílias afegãs, eu digo que lamento que, depois de 20 anos de guerra, essa seja a forma como isso foi conduzido. E que não conseguimos cumprir uma promessa que demos ao  seu povo depois de remover o talibã em 2001. Que não devia ter terminado assim”.

    Muitos dos outros dez fuzileiros que falaram com a CNN sob anonimato também descrevem tiros.

    Um deles disse à CNN que atravessou um buraco na cerca para fora do Portão da Abadia no minuto após a explosão para ajudar os feridos. Ao sair, ouviu tiros de fuzil com silenciador muito próximos disparados por outro fuzileiro naval. Muitos dos fuzis dos fuzileiros americanos estavam equipados com supressores ou silenciadores, reduzindo o ruído do fogo, de acordo com imagens do incidente.

    “Eu acho que estavam a cinco, dez metros de distância de mim”, relatou. A fonte contou que os disparos não vinham de sua própria unidade, e depois que ele próprio atirou, “quem estava atirando contra nós parou de disparar”.

    Outro fuzileiro naval disse à CNN que estava a cerca de 20 metros da explosão. “Foi com toda certeza um tiroteio”, lembrou. “Passou raspando sobre nossas cabeças depois da explosão e não foram os talibã”. A fonte contou que usou a lente de seu fuzil para olhar para os talibã, que estavam a uma relativa distância dos contêineres usados para controlar o acesso à área do Portão da Abadia. “Quando olhei para eles, nenhum segurava as armas. Eles pareciam tão chocados como nós”.

    Outros militares americanos que disseram ter testemunhado disparos de armas no rescaldo da explosão falaram nas redes sociais.

    O sargento Romel Finley, que recebeu a condecoração Coração Púrpura, disse que outro sargento ordenou que as tropas americanas abrissem fogo depois da explosão da bomba. Finley disse ao canal The Brrks, no YouTube – um canal dirigido por um ex-fuzileiro que entrevista outros na ativa ou que deixaram o serviço – que, enquanto deixava a cena da explosão, “o sargento do meu pelotão passou correndo atrás de nós, dizendo pra gente encostar na parede e atirar naqueles filhos da **ta. Eu pensei na hora, ‘então estamos sob fogo de tiros’.”

    Finley, que sofreu lesões significativas nas pernas durante o ataque, acrescentou que não testemunhou fuzileiros navais atirando ou respondendo à ordem. Ele se recusou a comentar à CNN, assim como o sargento do  pelotão. A CNN está omitindo os nomes dos fuzileiros que não autorizaram sua identificação nas entrevistas.

    Christian Sanchez, outro fuzileiro naval sobrevivente, que foi ferido no braço esquerdo, disse também ao canal Brrks que abriu fogo após a explosão. “Tudo o que vejo são flashes. E tudo o que eu podia ouvir era um zumbido. Tudo era um zunido e uma p**** de flashes de luz. Daí comecei a ouvir tiros. E pense que tinha um p**** de um cara atirando em mim”, contou. “Daí comecei a atirar nele”, acrescentou, chorando em seguida.

    Sanchez também se recusou a falar com a CNN sobre suas lembranças e não está claro se ele viu especificamente o suposto atirador militante a fogo aberto.

    Lacunas significativas permanecem nas provas apresentadas pelo Pentágono. Os investigadores divulgaram apenas cinco minutos editados de filmagens de drones dos momentos após a explosão que, segundo eles, apoiavam suas descobertas de que nenhum tiro atingiu alguém.

    Uma recente audiência do Congresso para o então Chefe do Estado-Maior Conjunto Mark Milley e o então General-de-Comando Central Kenneth “Frank” McKenzie terminou com o deputado Darrell Issa apresentando aos dois generais uma lista de vídeos não publicados que, sob um pedido da Lei da Liberdade de Informação, o Pentágono havia admitido que possuía. Os generais disseram à sessão que tinham visto os vídeos, e que eles deveriam ser divulgados aos investigadores do Congresso.

    Outro sobrevivente militar americano que falou à CNN disse que enfrentou dois anos ouvindo “os líderes dizendo que o que gente viu não era a verdade”. Ele resumiu as duas investigações da seguinte forma: “Cale a boca. Vamos falar por você”.

    Equipe da reportagem especial de 2022 da CNN: Nick Paton Walsh, Sandi Sidhu, Julia Hollingsworth, Masoud Popalzai, Sitara Zamani, Abdul Basir Bina, Katie Polglase, Gianluca Mezzofiore.

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