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    Exclusivo CNN: Israel propôs que líderes do Hamas deixem Gaza em negociação por cessar-fogo

    Medida poderia enfraquecer controle do grupo armado na Faixa de Gaza

    Alex Marquardtda CNN

    Israel propôs que os principais líderes do Hamas deixem a Faixa Gaza como parte de um acordo de cessar-fogo mais amplo, disseram à CNN duas autoridades familiarizadas com as discussões internacionais em curso.

    A proposta, que não foi divulgada anteriormente, acontece em um momento em que Israel luta para alcançar o seu objetivo declarado de destruir completamente o Hamas.

    Apesar da guerra, que já dura quatro meses, Israel não conseguiu capturar ou matar nenhum dos líderes mais importantes do Hamas na Faixa de Gaza e não afetou cerca de 70% da força de combate do Hamas, de acordo com as próprias estimativas israelenses.

    Embora o possível acordo ofereça uma passagem segura para fora de Gaza aos principais líderes do Hamas que orquestraram o ataque de 7 de outubro, isso poderia enfraquecer o controle do Hamas sobre a área.

    Ao mesmo tempo, permitiria a Israel continuar perseguindo alvos de alto valor no exterior.

    Sabe-se que integrantes de alta patente do Hamas vivem em Doha, no Qatar, e na capital libanesa, Beirute, entre outros locais fora dos territórios palestinos. Um ataque aéreo israelense no início deste mês matou um importante comandante do Hamas em Beirute, por exemplo.

    A sugestão de Israel de que os líderes do Hamas possam deixar Gaza, embora seja improvável que o Hamas aceite, foi discutida como parte de negociações mais amplas de cessar-fogo ao menos duas vezes nas últimas semanas.

    Uma das vezes que o tema foi levantado foi no mês passado, em Varsóvia, pelo chefe da inteligência de Israel, o diretor do Mossad, David Barnea, e depois novamente este mês em Doha, com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, de acordo com uma autoridade familiarizada com as discussões.

    Isso também acontece em meio de uma onda de pressão diplomática para tentar conseguir uma pausa prolongada nos combates e libertar reféns que acreditam estarem vivos em Gaza.

    O principal funcionário da Casa Branca para o Oriente Médio, Brett McGurk, viaja nesta semana para o Egito e o Qatar para novas negociações.

    Autoridades americanas e internacionais familiarizadas com as discussões pontuaram que o recente envolvimento de Israel e do Hamas nas negociações é encorajador, mas que um acordo não parece iminente.

    Pressão sobre Netanyahu

    A pressão sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para que apresente algum tipo de resolução para a libertação dos reféns aumentou consideravelmente. A “vitória completa” sobre o Hamas que ele coloca como objetivo está muito distante, como ele próprio admite.

    Assim, também cresceu a raiva entre os israelenses pela aparente incapacidade do governo de trazer para casa os mais de 100 reféns detidos em Gaza.

    Israel “não está alcançando os seus objetivos militares”, afirma Aaron David Miller, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace.

    Isso, combinado com a “enorme pressão” sobre Netanyahu e o seu governo para trazer reféns para casa, criou uma situação em que Israel estaria disposto a propor que os líderes do Hamas deixem Gaza, ponderou Miller.

    “Acho que eles estão simplesmente esbarrando na realidade. E as famílias reféns estão começando a exercer uma influência tremenda”, complementou.

    Além disso, o sentimento internacional em relação a Israel tem se deteriorado devido ao bombardeamento contínuo de Gaza, que matou mais de 25 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas.

    Nos últimos dois meses, o governo dos Estados Unidos, por exemplo, tem pedido abertamente a Israel para a transição para uma fase de menor intensidade do conflito, que as autoridades americanas argumentam que começou a acontecer, embora continuem as operações no sul de Gaza.

    Proposta “nunca funcionaria”

    A proposta para os líderes do Hamas abandonarem Gaza foi levantada em Varsóvia, em dezembro, por Barnea, o principal responsável dos serviços secretos de Israel, quando se reuniu com o diretor da CIA — o serviço secreto dos EUA –, Bill Burns, e com o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, que agiu como intermediário com o Hamas.

    A fonte familiarizada com as discussões afirmou que o assunto foi levantado novamente quando Blinken esteve na capital do Catar no início deste mês.

    Nessa reunião, Al Thani ressaltou a Blinken que a ideia israelense “nunca funcionaria”, segundo a fonte. Isso devido à desconfiança do Hamas de que Israel iria de fato parar suas operações, mesmo após a saída da sua liderança.

    Uma segunda fonte também comentou sobre a proposta de Israel pelos EUA.

    O Departamento de Estado dos EUA, a CIA e o gabinete do primeiro-ministro de Israel se recusaram a comentar a notícia.

    Embora não seja claro se, nas discussões privadas, Israel nomeou quais os líderes do Hamas que espera que deixem Gaza, não há alvo maior do que Yahya Sinwar, a principal autoridade do grupo armado em Gaza.

    Sinwar passou duas décadas em prisões israelenses e é natural de Khan Younis, no sul de Gaza, onde se concentra atualmente a maior parte das operações de Israel em Gaza.

    Autoridades israelenses e norte-americanas disseram acreditar que Sinwar poderia estar escondido na vasta e profunda rede de túneis sob a cidade, a segunda maior do território palestino.

    Os seus confidentes e assessores mais próximos são Mohammed Deif, o líder do braço armado do Hamas, juntamente com o vice de Deif, Marwan Issa. O irmão de Sinwar, Mohammed, também é um comandante sênior do Hamas. Acredita-se que nenhum deles tenha sido encontrado ou morto por Israel.

    No mês passado, Israel lançou panfletos sobre Gaza oferecendo recompensas de centenas de milhares de dólares por informações sobre os líderes do Hamas, incluindo uma recompensa de US$ 400 mil por informações sobre Sinwar.

    “O objetivo é derrubar o Hamas como governante da Faixa de Gaza”, destacou Ofer Shelah, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel.

    “Não há diferença se [Sinwar] morrer ou se partir. Se ele morrer, alguém poderá assumir o controle da mesma maneira. Se trouxermos todos os reféns de volta e Sinwar partir, isso definitivamente fará com que a maioria das pessoas em Israel sinta que ganharam a guerra”, adicionou.

    As autoridades americanas acreditam que é altamente improvável que Sinwar e aqueles que o rodeiam concordem em deixar Gaza, preferindo morrer lutando contra o seu inimigo jurado.

    Israel promete caçar o Hamas globalmente

    Israel não escondeu a sua intenção de continuar a caçar os líderes do Hamas muito depois do fim da guerra.

    Netanyahu disse em novembro que tinha “instruído a Mossad a agir contra os chefes do Hamas onde quer que estejam”.

    Ronen Bar, diretor da agência de segurança interna de Israel, a Shin Bet, prometeu “eliminar o Hamas” em todo o mundo, mesmo que isso demore anos.

    “Em todos os lugares: em Gaza, Israel, Líbano, Turquia, Qatar, em todos os lugares”, afirmou Bar em gravação transmitida no início de dezembro pela emissora pública de Israel, Kan.

    Sinwar talvez pudesse ser convencido a partir, argumentou Miller, se Israel concordasse com uma troca “assimétrica” de prisioneiros palestinos detidos por Israel do que reféns israelenses.

    “Acho que ele só consideraria isso caso os israelenses também concordassem em libertar todos os prisioneiros palestinos”, avaliou o especialista.

    “Independentemente do que os israelenses concordem, Sinwar deve saber que vão tentar matá-lo”, acrescentou.

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