Ex-CFO da empresa de Trump é condenado a 5 meses de prisão por esquema de fraude
Allen Weisselberg, de 75 anos, atuou em uma fraude fiscal de dez anos, após ter servido como testemunha do estado contra a Trump Organization
Allen Weisselberg, ex-diretor financeiro do presidente Donald Trump, foi condenado pela justiça de Nova York a cinco meses de prisão por sua atuação em um esquema de fraude fiscal de dez anos, após ter servido como testemunha do estado contra a Trump Organization.
Logo depois da audiência no tribunal, Weisselberg, de 75 anos, deve se apresentar em Rikers Island, a notória penitenciária da cidade de Nova York, para começar a cumprir sua sentença imediatamente. Ele ficará em uma unidade de enfermaria e não fará parte da população em geral, disse uma pessoa familiarizada com o assunto à CNN.
Em agosto do ano passado, o ex-CFO tinha se declarado culpado de 15 crimes em um acordo com os promotores. Como parte do acordo, ele foi obrigado a testemunhar no julgamento da Trump Organization, pagar US$ 2 milhões (cerca de R$ 10,4 milhões) em impostos atrasados, juros e multas, e a renunciar a qualquer direito de apelação.
Weisselberg admitiu que deveria ter pago os impostos sobre sua renda extraoficial, totalizando cerca de US$ 200 mil (aproximadamente R$ 1,04 milhão) em um ano. A remuneração incluía gastos com um apartamento de luxo em Manhattan com vista para o rio Hudson, dois veículos Mercedes-Benz, estacionamento, despesas domésticas, móveis e escola particular para seus netos.
Na terça-feira (10), o juiz Juan Merchan afirmou que se já não tivesse prometido uma sentença de cinco meses a Weisselberg, teria determinado uma condenação mais dura, “muito maior” que cinco meses, após ouvir as provas apresentadas no julgamento.
Sem um acordo, Weisselberg estaria diante de uma sentença de cinco a 15 anos de prisão. Pelo sistema de crédito por bom comportamento, a sentença de Weisselberg pode ser reduzida em um terço, o que significa que ele pode acabar cumprindo cerca de 100 dias de prisão.
Merchan considerou a emissão fraudulenta de um cheque de US$ 6 mil (cerca de R$ 31,2 mil), pago à esposa de Weisselberg para que ela pudesse se qualificar para receber benefícios da Previdência Social, como o mais “ofensivo” dos crimes cometidos pela ganância do executivo da Trump Organization.
O juiz declarou que tinha de compartilhar essa sua visão em resposta ao advogado de Weisselberg, que havia solicitado uma sentença ainda menor para seu cliente, dada a sua idade e outros fatores.
O executivo de longa data da Trump Organization cumpriu as condições estabelecidas pelo acordo judicial, afirmou um promotor da Procuradoria do distrito de Manhattan ao tribunal, antes de Merchan proferir a sentença. Os promotores reiteraram que Weisselberg testemunhou com sinceridade contra duas empresas de Trump, condenadas em dezembro em conexão com o esquema de fraude fiscal, segundo a promotora Susan Hoffinger.
Weisselberg já pagou o saldo remanescente de pouco mais de US$ 1 milhão em impostos atrasados e multas que ele devia às autoridades fiscais na semana passada, confirmou Hoffinger. No total, ele pagou mais de 2 milhões de dólares.
O advogado de Weisselberg, Nicholas Gravante, disse na terça-feira (10) que “é obviamente um dia difícil para ele, mas também é um dia para o qual ele vem se preparando há meses, desde que chegou a um acordo em agosto do ano passado”.
“O senhor Weisselberg compareceu ao tribunal hoje pronto para iniciar o cumprimento de sua sentença, e está grato por ela já ter começado”, informou Gravante. “Ele lamenta profundamente o lapso de julgamento que resultou em sua condenação, e se arrepende mais pela dor que causou a sua amada esposa, seus filhos e lindos netos”.
O procurador do distrito de Nova York, Alvin Bragg, disse que a declaração e a sentença mostram que “em Manhattan, você tem de seguir as regras, não importa quem você é ou para quem trabalha”.
“Agora, ele e duas empresas de Trump foram declaradas culpadas, e Weisselberg vai cumprir sua pena na prisão por seus crimes”, acrescentou Bragg.
Há mais por vir?
A sentença encerra uma longa investigação, mas a procuradoria de Manhattan continua a investigar a Trump Organization. Os promotores estão conduzindo uma ampla investigação envolvendo a exatidão das demonstrações financeiras das empresas que, nos últimos meses, voltou a focar no envolvimento da companhia em pagamentos feitos para silenciar a estrela de filmes adultos Stormy Daniels, a fim de impedir que ela viesse a público com seu caso com Trump pouco antes das eleições de 2016, contaram pessoas familiarizadas com o assunto. Trump nega o caso.
Mas os problemas legais de Weisselberg ainda não acabaram. Ele também é réu em um processo civil de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) movido pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que alega que Trump, seus três filhos mais velhos, Weisselberg e outros fraudaram credores, seguradoras e autoridades fiscais ao terem inflado o valor de diversas propriedades da Trump Organization por mais de uma década. Trump nega irregularidades e afirma que o processo tem motivações políticas.
Em seu depoimento no julgamento por fraude fiscal da Trump Organization no fim do ano passado, Weisselberg declarou que conspirou com outros na empresa e descreveu as conversas que teve com Trump, seus filhos Eric Trump e Donald Trump Jr. No entanto, quando questionado pelos advogados de Trump, disse ao júri que não planejou ou conspirou com ninguém da família Trump.
No mês passado, após algumas horas de deliberações, duas entidades da Trump Organization foram declaradas culpadas de diversas acusações de fraude fiscal e falsificação de registros comerciais. Os advogados das entidades disseram que vão entrar com um recurso de apelação.
Uma fonte próxima informou que, desde terça-feira (10), Weisselberg não é mais funcionário da Trump Organization, descrevendo a situação como uma separação amigável com uma rescisão.
Esta reportagem foi atualizada com informações adicionais.