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    Europa tentou aumentar adesão à vacina com incentivos; agora, testa restrições

    Vacinação contra a Covid-19 mostra sinais de desaceleração na Europa. Governos buscam formas de convencer as pessoas que resistem a receber os imunizantes

    Tara John, CNN

    Enquanto o ritmo de vacinação contra a Covid-19 na Europa mostra sinais de desaceleração, os líderes de diversos países estão correndo para encontrar respostas para um dilema-chave da próxima fase: como convencer os cidadãos relutantes sobre a importância da vacinação.

    De pagamentos em dinheiro a dados de telefone, de passeios gratuitos a estádios de futebol a carnes grelhadas de graça. São inúmeros os incentivos oferecidos para atrair as pessoas.

    Agora, enquanto a variante Delta atravessa o continente, ameaçando desencadear outra rodada de restrições no auge do verão no hemisfério Norte, alguns líderes estão abrindo mão dos incentivos e avaliando a implementação de restrições para quem optou por não ser vacinado.

    Na madrugada desta segunda-feira (26), o parlamento francês aprovou uma lei que exige um “vale de saúde” com comprovante de vacinação ou um teste PCR negativo para entrar em restaurantes, bares e para viagens em trens e aviões de longa distância, a partir de agosto.

    “Vamos estender o passe de saúde o máximo possível para forçar que o maior número possível de pessoas se vacine”, explicou o presidente francês Emmanel Macron em meados de julho, quando anunciou a legislação. Ele também disse que a vacinação seria necessária para os profissionais de saúde a partir de 15 de setembro e sugeriu a possibilidade de tornar a vacinação obrigatória para todos se a pandemia piorar.

    A Grécia enfrenta um aumento nas infecções que ameaça o renascimento de sua crucial indústria de turismo. O país deu um passo além da França em meados de julho, impedindo a presença dos não vacinados em restaurantes, bares, cafés e cinemas fechados. Também ordenou a vacinação obrigatória para profissionais de saúde.

    A Itália, que determinou obrigatoriedade de vacinas para profissionais de saúde e farmácia em abril, anunciou na quinta-feira (22) que também poderia impor restrições semelhantes em locais fechados para moradores sem prova de imunidade. “A mensagem que, como governo, queremos transmitir é: vacinem-se! Vacinem-se! Vacinem-se!”, disse o ministro da Saúde do país.

    Barrar os não vacinados de círculos da vida social é a última de muitas restrições que antes eram impensáveis nas democracias ocidentais, mas agora estão se tornando comuns. As medidas geraram protestos e renovaram o debate se a vacinação deve ser deixada para a escolha individual ou exigida pelo Estado para o bem coletivo.

    “Será muito interessante ver como eles [certificados para Covid-19] serão tolerados porque, em março de 2020, ninguém pensou que você poderia estabelecer um lockdown num país ocidental e ainda assim foi exatamente o que aconteceu”, disse à CNN Oliver Watson, pesquisador que modela a transmissão de Covid-19 no Imperial College de Londres.

    Também não está claro se forçar as pessoas a tomar vacinas vai funcionar. “Os estudos anteriores que avaliaram o impacto da obrigatoriedade sobre a adesão das vacinas provavelmente não irão capturar a infinidade de razões pelas quais a hesitação vacinal relacionada à Covid-19 será muito diferente em relação à obrigatoriedade da vacinação infantil contra o sarampo”, disse Watson.

    As restrições vão funcionar?

    Mais de 160 mil pessoas participaram de protestos contra as medidas de prevenção à Covid-19 da França no sábado (24), pedindo que o governo cancele as novas regras.

    O parisiense Axel Miaka Mia ficou furioso quando soube do plano. “Sou totalmente contra”, disse ele à CNN na terça-feira (20). Isso não quer dizer que Miaka Mia encarou a pandemia de forma leviana. Ele passou 2020 preocupado com a saúde de seus pais e de familiares idosos.

    O governo francês fará “muitos sentirem que precisam ser vacinados para voltar a ter uma vida um tanto normal”, disse ele. Mas Miaka Mia não receberá a vacina tão cedo. Seu local de trabalho não exige que ele seja vacinado e ele pode ajustar sua vida às regras atuais, já que elas não se aplicam a pequenos comércios.

    Especialistas afirmam que pode ser difícil determinar o efeito que os certificados da Covid-19 têm sobre a aceitação da vacina, uma vez que tais medidas são “geralmente acompanhadas de mais cobertura na mídia e mais discussão em torno da vacinação, o que pode ser a causa da mudança nos níveis de adesão”, observou Watson.

    Independentemente disso, o anúncio de Macron estimulou uma corrida para a vacinação, pelo menos a curto prazo. O Doctolib, um portal francês para agendar a vacinação, viu um recorde de 3,7 milhões de agendamentos para a semana seguinte, de acordo com o site.

    O secretário de Estado para os Assuntos Europeus francês, Clément Beaune, disse que os agendamentos crescentes mostram “que entre as pessoas que não foram vacinadas, uma minoria muito pequena é a antivacinação“. É uma declaração corroborada por pesquisas recentes, que mostram que os franceses estão se animando com a ideia das vacinas contra a Covid-19 depois de se classificarem como um dos países europeus mais céticos no início da pandemia.

    A questão da hesitação da vacina em alguns países europeus remonta a anos, e “não acho que os esforços de engajamento do governo tenham lidado com isso”, disse Deepti Gurdasani, especialista em saúde pública e epidemiologista da Queen Mary University London.

    “Acho que os programas de vacinas de maior sucesso requerem uma compreensão da hesitação da vacina que é distinta do sentimento antivacina”, disse ela à CNN. “Lidar com a hesitação da vacina requer o envolvimento da comunidade para realmente entender as razões e discutí-las, em vez de tratar as pessoas como ignorantes ou egoístas”.

    Ela tem fortes dúvidas sobre a eficácia dos esquemas de certificação da Covid-19 diante da variante Delta. “Com as variantes anteriores, poderíamos ter alcançado imunidade coletiva com altos níveis de vacinação, mas atualmente estamos lidando com a variante Delta com uma taxa reprodutiva (o número de pessoas, em média, que uma pessoa com o vírus infecta) de seis”, disse.

    Com isso, Gurdasani estima que 85% da população precisará ser vacinada para que a imunidade de rebanho seja alcançada. “Mesmo com altos níveis de vacinação, não vamos deter os surtos” sem outras medidas de mitigação, disse ela, como investimento em melhor filtragem do ar de ambientes internos e mudanças de cultura que priorizem a socialização ao ar livre em vez de ambientes fechados.

    A vacinação dos jovens

    Aproximadamente 55% de todos os adultos na União Europeia foram totalmente vacinados até quinta-feira (22), anunciaram autoridades da UE, o que significa que o bloco ficará aquém de sua meta original de 70% até o final de julho. Menos da metade da população foi totalmente vacinada na Alemanha e na França.

    Na França, pessoas entre 10 e 29 anos foram responsáveis por mais da metade dos novos casos na semana de 7 de julho. A Alemanha também observou um aumento nos casos entre os grupos mais jovens, bem como um atraso na aplicação das vacinas nas últimas semanas.

    Os políticos da Alemanha prometeram não impor o uso obrigatório de máscara, e não implementou o tipo de incentivo à vacinação de países vizinhos – embora em alguns estados alemães pessoas totalmente vacinadas possam entrar em bares ou restaurantes sem um teste negativo recente, disse Berit Lange, epidemiologista do Centro Helmholtz de Pesquisa de Infecções da Alemanha.

    Mas o país está começando a ver um aumento nos casos positivos entre as faixas etárias mais jovens, bem como um atraso na vacinação nas últimas semanas. “Os epidemiologistas estão dizendo que precisamos vacinar contra essa tendência, caso contrário, poderíamos ter uma quarta onda semelhante à que o Reino Unido está tendo”, disse ela em referência aos casos disparados no Reino Unido, que registrou 46.558 testes positivos para o vírus na terça-feira (20). A Alemanha reportou menos de 2 mil casos no mesmo dia.

    Embora as taxas de vacinação para grupos mais jovens sejam mais baixas em geral, visto que eles só se tornaram elegíveis após os grupos mais velhos, há uma preocupação crescente de que alguns jovens se tornaram complacentes em tomar a vacina.

    Na Inglaterra, lar de uma das maiores taxas de vacinação do mundo, o primeiro-ministro Boris Johnson afrouxou quase todas as restrições da Covid-19 na última segunda-feira (19), ao mesmo tempo em que anunciava que a vacinação completa seria uma condição para entrar em casas noturnas até o final de setembro, “quando todos os maiores de 18 anos terão a chance de receber as duas doses”.

    “Embora possamos ver o entusiasmo de milhões de jovens para receberem as doses, precisamos que ainda mais jovens adultos sejam protegidos, o que é de um benefício imenso para sua família e amigos – e para cada um. Portanto, gostaria de lembrar a todos que alguns dos prazeres e oportunidades mais importantes da vida tendem a depender cada vez mais da vacinação”, alertou Johnson.

    O governo do Reino Unido está considerando tornar a prova de vacinação completa contra Covid-19 obrigatória para todos os eventos com mais de 20 mil participantes, disse uma fonte do governo à CNN no domingo (25).

    A ideia ainda está em seus “estágios iniciais”, mas espera-se que a Premier League inglesa seja “uma das primeiras a adotá-la” se os planos forem confirmados, disse a fonte.

    Os especialistas perceberam uma nota de hipocrisia nos líderes que miram nos jovens com a proibição de entrada em locais como boates. “Acho que o problema é que muitos desses países minimizaram completamente os impactos da Covid-19 sobre os jovens”, disse Gurdasani. Ela observou que, no Reino Unido, três quartos de todas as pessoas que vivem com sintomas de Covid-19 longos eram de grupos de idades mais jovens.

    Nesse contexto, a perspectiva de Miaka Mia receber uma dose é quase zero. Em vez disso, ele planeja se juntar aos próximos protestos contra as medidas sanitárias da França. “Acho que eles [o governo] realmente roubaram nossa liberdade”, disse ele.

    Texto traduzido, leia o original em inglês.

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