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    Europa planeja eliminar importações e impor novas restrições à energia da Rússia

    Diversos países impuseram sanções contra o carvão russo; presidente da Comissão Europeia diz que petróleo e gás podem ser os próximos alvos

    Anna Coobanda CNN

    Os líderes europeus estão planejando eliminar gradualmente as importações de carvão russo em resposta às cenas angustiantes em Bucha, um subúrbio de Kiev, capital da Ucrânia.

    Na terça-feira (5), a Comissão Europeia propôs a proibição de 4 bilhões de euros (US$ 4,3 bilhões) em importações de carvão russo por ano como parte de um quinto pacote de sanções destinado a diminuir ainda mais o cofre de guerra do presidente russo, Vladimir Putin. Outras propostas visam importações de tecnologia e manufatura russas, no valor de outros 10 bilhões de euros (US$ 10,9 bilhões).

    A Europa tem imposto sanções punitivas à economia da Rússia desde que os tanques de Putin chegaram à Ucrânia no final de fevereiro, mas não atingiu o setor de energia da Rússia — até agora. Imagens de civis desarmados, amarrados e baleados, deitados ao longo das estradas de Bucha — que até recentemente estavam sob ocupação russa — convenceram os líderes a mudar de rumo.

    O petróleo e o gás da Rússia podem ser os próximos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse aos legisladores da União Europeia que a quinta rodada de sanções “não será a última”.

    “Sim, nós proibimos o carvão agora, mas agora temos que observar atentamente o petróleo”, disse ela.

    Charles Michel, que preside reuniões de líderes da UE, disse em uma postagem no Twitter que “medidas sobre o petróleo e até mesmo sobre o gás também serão necessárias mais cedo ou mais tarde”.

    Mais detalhes do novo pacote, incluindo o cronograma para a proibição do carvão, podem vir na quarta-feira (6), quando os embaixadores da UE se reunirem para negociações. As medidas ainda precisam da aprovação de todos os 27 estados membros.

    Sancionar o carvão afetará alguns países europeus, mas está entre as fontes de energia mais fáceis de eliminar — grande parte do mundo já está fazendo exatamente isso. A pergunta mais complicada é: o que acontece a seguir?

    Quanto carvão russo vai para a Europa?

    A Rússia foi o terceiro maior exportador mundial de carvão em 2020, atrás da Austrália e da Indonésia, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), sendo a Europa de longe seu maior cliente.

    O continente recebeu 57 milhões de toneladas de carvão russo naquele ano, em comparação com 31 milhões de toneladas para a China, mostram dados da AIE. Isso representou mais da metade do carvão da Europa naquele ano, de acordo com o Eurostat.

    Mas a União Europeia já estava se afastando do combustível fóssil mais sujo do mundo.

    A quantidade de eletricidade gerada pelo carvão diminuiu constantemente em todo o bloco nos últimos anos, caindo 29% entre 2017 e 2019, de acordo com uma análise do think tank de energia Ember.

    E apesar de um breve aumento no ano passado, quando os preços do gás atingiram recordes, a AIE prevê que a demanda europeia por carvão retomará seu declínio constante. Esperava-se que as importações totais caíssem 6% até 2024, mesmo antes da invasão da Ucrânia pela Rússia.

    Outros países podem intervir para comprar carvão russo. A AIE espera que as importações de carvão da Índia aumentem 4% em 2024 e mais de 6% no Sudeste Asiático. A Rússia já se beneficiou de um salto nas exportações para a China após o bloqueio de Xi Jinping às importações australianas, disse a agência em um relatório de dezembro.

    O que uma proibição da UE significará para os preços do carvão?

    Ainda assim, uma crise de oferta — mesmo que seja gradual — pode causar dor de cabeça para países que ainda usam carvão para grande parte de sua geração de eletricidade, incluindo Polônia e Alemanha.

    Uma queda na oferta, juntamente com a recuperação da demanda na China, ajudou a elevar os preços globais do carvão a máximas históricas em outubro de 2021 – antes de cair novamente, de acordo com a análise da AIE.

    Mas os preços elevados podem se tornar mais pegajosos sob uma proibição da União Europeia às importações russas. Os futuros de carvão de Roterdã, referência para os preços do carvão europeu, fecharam em US$ 257 a tonelada na segunda-feira (4), mas foram negociados pela última vez em US$ 295, mostraram dados do Independent Commodity Intelligence Services.

    Matthew Jones, analista-chefe de energia e carbono da UE na ICIS, disse à CNN que a proibição do carvão “tornará ainda mais apertada uma situação de oferta europeia já muito apertada e levará a uma corrida para encontrar fontes alternativas de carvão”.

    “As negociações de futuros de carvão de Roterdã para um mês subiram quase 15% na bolsa ICE e para um ano, 13%, desde o fechamento de ontem em resposta às notícias”, acrescentou Jones.

    Mesmo assim, Henning Gloystein, diretor de energia, clima e recursos do Eurasia Group, acredita que os estados da UE podem resistir ao choque. O think tank também disse na terça-feira que qualquer compra de carvão australiano pela UE amortece o golpe.

    “A sanção do carvão também tornará a vida muito mais difícil para as concessionárias europeias, que consomem muito carvão russo, mas as empresas de energia podem lidar com isso”, disse Gloystein à CNN Business.

    O que resta para sancionar?

    Os suprimentos de petróleo e gás da Rússia estão notavelmente ausentes da última rodada de sanções. O bloco importou da Rússia 26% de seu petróleo bruto e 46% de seu gás em 2020, segundo o Eurostat.

    Mas o bloqueio das importações de petróleo está na mesa: a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse em comunicado na terça-feira que o bloco estava “trabalhando em sanções adicionais, inclusive sobre as importações de petróleo”.

    Os Estados Unidos já exploraram suas reservas estratégicas de petróleo, liberando 180 milhões de barris no mercado global, para ajudar a reduzir os preços da gasolina e combater a redução no fornecimento de petróleo russo. A AIE também concordou em liberar petróleo adicional de seus países membros em uma reunião de emergência na semana passada.

    O gás natural ainda é o alvo mais improvável das sanções, em parte por causa das diferenças entre os estados membros que dependem fortemente da energia russa e aqueles que querem avançar mais rápido para atacar o centro da economia russa.

    Os líderes da UE prometeram reduzir o consumo de gás russo em 66% antes do final deste ano e acabar com a dependência do bloco da energia russa até 2027.

    Um dos países foi mais longe. A primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Šimonytė, disse em um tweet no domingo (3) que “de agora em diante, a Lituânia não consumirá um centímetro cúbico de gás russo tóxico”. Conseguir o mesmo de países dependentes de importação, como Alemanha e Hungria, será mais desafiador.

    Mas, de acordo com Gloystein, a relutância do bloco em sancionar petróleo e gás é mais do que evitar a automutilação.

    “A UE está interessada em continuar aumentando sua resposta de acordo com os desenvolvimentos na Ucrânia”, disse ele. “Se Bruxelas agora impõe sanções máximas, como reage a uma nova escalada de Moscou?”.

    Gloystein também disse que visar o petróleo e o gás russos corre o risco de sair pela culatra.

    “Existem preocupações sérias e críveis de que tais ações possam desencadear uma escalada significativa por parte da Rússia, já que Putin pode se sentir forçado a agir de forma drástica e rápida, sabendo que seu cofre de guerra poderá secar em breve”.

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