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    Europa começa a flexibilizar isolamento, mas nada está de volta ao normal

    Donos de restaurantes se preocupam com o futuro e filas se formam em frente a cabeleireiros — o velho continente parece ter mudado para sempre

    De máscara, garçonete entrega café para viagem em um estabelecimento de Roma, Itália
    De máscara, garçonete entrega café para viagem em um estabelecimento de Roma, Itália Foto: Tiziana Fabi/AFP/Getty (4.mai.2020)

    Emma Reynolds, Valentina Di Donato e Stephanie Halasz,

    da CNN, em Roma

    Milhões de pessoas em toda a Europa puderam retomar algo que se assemelha às vidas que levavam antes da pandemia nesta segunda-feira (4), depois de semanas ou até meses de lockdown. Mas nem todos estão felizes com o “novo normal”.

    O comércio italiano está se perguntando se vai sobreviver com as restrições flexibilizadas, mas não abolidas. Alunos estão voltando para escolas aplicando o distanciamento social na Alemanha, onde as barbearias, recém-reabertas, encaram alta demanda para consertar semanas de cortes de cabelo mal-feitos. Os belgas podem voltar a usar o transporte público, com uso obrigatório de máscaras, ao mesmo tempo em que pequenas lojas voltam aos negócios na Grécia e em Portugal.

    A segunda fase do plano de flexibilização do levantamento na Itália começou nesta segunda, com mais de 4 milhões de pessoas previstas para voltarem ao trabalho, retomada de uma parte do transporte público e a reabertura de muitos estabelecimentos. O primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou no Facebook: “Como nunca antes, o futuro do nosso país estará em nossas mãos”.

    Indústrias têxteis e manufatureiras estão recomeçando, mas muitas lojas consideradas não-essenciais continuam fechadas. Bares e restaurantes foram autorizados a reabrir, mas só podem oferecer alimentos e bebidas para viagem.

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    Franco, dono do bar Il Bello Cafe em Roma, disse que a reabertura parcial não será suficiente para a manutenção de muitos estabelecimentos.  

    “Eu acabei de reabrir hoje, mas nem vale a pena. Tem tão pouco trabalho para nós, poucas pessoas estão vindo. E também, o bar não é só para comprar um café ou um cappuccino, é para conversar, para fazer uma social”, disse ele, que se recusou a divulgar seu sobrenome. “O governo faz o que tem que ser feito para conter a pandemia, mas o nosso trabalho funciona de maneira diferente — e não combina com essas medidas”.

    Ele disse que ainda está pagando aluguel, eletricidade e gás, mas ganhando apenas 30% da renda que tinha antes do lockdown. “Meus funcionários estão preocupados e eu também. Eu talvez tenha que fechar, depois de 14 anos neste lugar”, declarou. “Haverá muitas demissões neste setor”.

    O governo italiano afirmou que para reabrir totalmente lojas, bares e restaurantes, é necessário diminuir a taxa de reprodução do vírus para 0,5 — o que significaria que cada infectado contaminaria menos de uma outra pessoa (um índice de 1, por exemplo, significa que cada doente contamina uma outra pessoa). Para reabrir teatros, convenções e estádios, a Itália quer que esse número seja o mais próximo possível de zero. No momento, a cifra está entre 0,6 e 0,7, nacionalmente.

    Donos de restaurantes, bares e lojas em toda a Itália entregaram as chaves de seus negócios aos prefeitos na semana passada, em protesto à reabertura parcial. O primeiro-ministro se desculpou na última sexta (1º) por um atraso no pagamento do auxílio aos pequenos e médios negócios impactados pela pandemia.

    Uma carta conjunta das 13 das 20 regiões da Itália na última quarta-feira (29) pedia ao governo para “garantir a possibilidade de reabrir todos os negócios que respeitarem as medidas de prevenção”. “É claro que a saúde é o primeiro objetivo, mas não pode ser o único”, adicionava o texto.

    Cabeleireiro e cliente usam máscaras durante atendimento na Alemanha
    Cabeleireiro e cliente usam máscaras durante atendimento em Colônia, na Alemanha
    Foto: Thilo Schmuelgen/Reuters (4.mai.2020)

    Houve frustrações em outros países também. Os cabeleireiros na Alemanha reabriram após semanas fechados, mas os clientes não podem só entrar — precisam marcar horário e, em Berlim, preencher um questionário atestando o estado de saúde.

    Um salão de beleza em Hamburgo disse que estava “assoberbado” com tanto trabalho, enquanto Udo Walz, um cabeleireiro de famosos em Berlim, disse à CNN que seus salões estão com todos os horários preenchidos pelas próximas três semanas.

    “Estive na loja hoje mais cedo, todo mundo está usando máscaras, os clientes, os cabeleireiros, é um pouco engraçado”, disse. “A maioria dos clientes tem mais de dois centímetros de raiz aparente. Alguns tentaram cortar o cabelo sozinhos ou retocarem a tintura, mas na maior parte dos casos, isso não deu certo, apesar de eu ter dado dicas pelo telefone”.

    Os salões de beleza têm de manter o distanciamento social, então Walz afirmou que cadeiras intercaladas têm de ficar vazias. Para ele, funciona, porque tem estabelecimentos grandes. Apesar de não ter demitido nenhum dos seus 86 funcionários, ele reconhece que eles tiveram perdas na renda. “Eles não ganharam gorjetas, e essa é uma parte significativa, porque temos uma boa clientela. O salário também foi reduzido, mas temos uma ótima equipe”.

    Outros países europeus estão gradualmente relaxando as proibições. A Espanha permitiu que as pessoas saiam para praticar exercícios físicos individuais neste fim de semana pela primeira vez em sete semanas. Portugal reabriu lojas pequenas e os belgas podem pegar o transporte público, desde que usem máscaras.

    As ruas gregas começaram a se encher nesta segunda, com salões de beleza, floriculturas e livrarias reabrindo. Filas se formaram na frente de lojas de eletrodomésticos, de acordo com a Reuters. A Grécia planeja receber turistas novamente no início do verão no hemisfério norte, em junho.

    No Reino Unido, no entanto, as restrições estão mantidas, mas há planos para a volta ao trabalho. Um plano ainda em rascunho prioriza o trabalho remoto e medidas como ao menos dois metros de distanciamento social.

    O ministro dos Transportes, Grant Shapps, disse que a frota do transporte público seria normalizada em breve, mas sugeriu que as pessoas continuem andando ou pedalando até o trabalho. A sugestão foi recebida com preocupação pelos sindicatos britânicos de transporte sobre trilhos, que enviou uma carta ao primeiro-ministro nesta segunda dizendo que ainda não era o momento de retomar os trens, porque ainda não havia consenso em como proteger passageiros e funcionários.

    O ministro do Gabinete, Michael Gove, disse neste domingo (3) que a “pior coisa a fazer” seria relaxar as restrições prematuramente, e arriscar uma segunda onda da doença. Ele disse que o Reino Unido deve prosseguir com cautela, levantando questionamentos sobre qual será o impacto financeiro a longo prazo.

    Conforme a Europa reabre, a maior questão é como o vibrante continente vai se parecer em um futuro diferente do que qualquer um esperava. Certamente, mudou para sempre.