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    Rússia depende de armas pesadas não sofisticadas, mas brutais, dizem EUA

    Segundo autoridades americanas, abordagem russa na Ucrânia poderia sinalizar fraqueza surpreendente na campanha militar, que já sofre com problemas logísticos

    Katie Bo LillisJim Sciuttoda CNN

    A Rússia confiou muito mais em bombas menos sofisticadas, chamadas bombas “burras”, do que em seu arsenal de munições guiadas com precisão na guerra contra a Ucrânia. É uma dinâmica que as autoridades dos Estados Unidos estão observando atentamente atrás de pistas sobre o estado das forças armadas da Rússia – já que essas armas indiscriminadas matam dezenas de civis.

    A Rússia usou uma combinação de mísseis, artilharia e lançadores de foguetes para atingir grandes cidades ucranianas nas últimas duas semanas, disse o tenente-general Scott Berrier, chefe da Agência de Inteligência de Defesa, ao Comitê de Inteligência do Senado na quinta-feira (10).

    Na sexta-feira (11), a Rússia lançou vários ataques com mísseis contra uma ampla gama de alvos no centro e no oeste da Ucrânia, causando danos substanciais e usando o que o Ministério da Defesa da Rússia disse ser “armas de longo alcance de alta precisão”.

    Mas o número de “munições guiadas com precisão que estão sendo lançadas de aeronaves […] é pequeno”, afirmou Berrier.

    Autoridades americanas e ocidentais dizem que não sabem por que a Rússia não usou mais dessas armas mais sofisticadas, como sua frota de caças-bombardeiros Su-34, empregada regularmente junto com outras bombas não guiadas na Síria.

    É uma abordagem que alguns oficiais militares e de inteligência dos EUA dizem que poderia sinalizar outra fraqueza surpreendente na campanha militar da Rússia – ou simplesmente uma vontade aterrorizante de empregar táticas brutais que levam a inúmeras mortes de civis em uma guerra que muitas autoridades acreditam que possa durar semanas ou até meses.

    “É difícil dizer neste momento se isso é causado por questões de despesas, se é por falta de estoque ou apenas pelo desejo de ser mais brutal no uso da força”, disse um funcionário do alto escalão da Otan na quinta-feira, chamando isso de uma “grande questão”.

    As munições guiadas com precisão (PGMs, na sigla em inglês), são mais caras, demoradas e complexas de produzir do que as munições não guiadas, e há muito se especula que o estoque da Rússia é relativamente limitado. É possível, dizem alguns analistas externos, que a Rússia esteja simplesmente mantendo seus PGMs em reserva para usar mais tarde no conflito – ou como uma precaução de emergência caso a Rússia entre em conflito com a Otan.

    Uma fonte familiarizada com a informação disse que a Rússia queimou a proporção de seu arsenal PGM que alocou para a operação nos primeiros dias do conflito, quando Moscou impôs regras mais rígidas de engajamento que evitaram mortes de civis generalizadas.

    Mas seja qual for a razão, as autoridades dizem que o impacto agora está sendo suportado por hospitais, escolas e prédios de apartamentos ucranianos, destruídos pela campanha de bombardeios indiscriminados da Rússia – mesmo quando um funcionário do alto escalão da defesa advertiu na quarta-feira que os EUA não podem provar se munições guiadas ou não foram usadas contra um determinado alvo.

    A estratégia também pode criar custos diretos para a Rússia, de acordo com um oficial militar sênior familiarizado com as informações mais recentes. Essa pessoa disse que o uso de algumas das bombas “burras” da Rússia exige que seus pilotos voem mais baixo, tornando-os mais vulneráveis às defesas antiaéreas surpreendentemente eficazes da Ucrânia. Nos últimos dias, as autoridades notaram uma queda acentuada na atividade aérea russa sobre a Ucrânia.

    À medida em que a guerra entra em sua terceira semana, as forças russas estão atoladas não apenas por uma forte resistência ucraniana, mas também por inúmeros erros logísticos e de reabastecimento que, segundo autoridades ocidentais, mostram cada vez mais fraquezas fundamentais no planejamento e prontidão russos.

    O diretor da CIA, Bill Burns, disse na terça-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, lançou a invasão em parte com base na suposição de que seus militares eram capazes de uma vitória rápida e decisiva a um custo mínimo – uma das várias suposições que Burns disse que “se provou errada”.

    “É possível que saibamos mais sobre o verdadeiro estado dos combates, a prontidão e capacidade russas neste momento do que o próprio Putin”, disse o funcionário do alto escalão da Otan.

    Autoridades dizem que ainda não há dúvidas de que as forças armadas da Rússia são muito superiores à força de combate da Ucrânia e que as perspectivas da Ucrânia permanecem sombrias. Mesmo diante da resistência ucraniana, a Rússia tem feito progressos constantes em todo o país.

    Mas as autoridades de inteligência pararam de prever a queda iminente de Kiev, já que o conflito se transformou em uma guerra desgastante. O funcionário da Otan disse agora acreditar que a guerra possa ser medida em “meses ou anos”, em vez de dias ou semanas, como as autoridades ocidentais avaliaram inicialmente.

    Problemas russos

    A diretora de Inteligência Nacional, Avril Haines, disse na quinta-feira que a comunidade de inteligência dos EUA foi pega de surpresa pela execução desajeitada da estratégia militar de Putin.

    “Fizemos bem” prevendo que Putin tinha subestimado a resistência que enfrentaria na Ucrânia, disse ela. “Nós não nos saímos tão bem em termos de previsão dos desafios militares que ele encontrou com seus próprios militares.”

    Autoridades norte-americanas e ocidentais dizem que é difícil para eles determinar as perdas russas, tanto em termos de baixas no campo de batalha quanto de equipamentos destruídos. A Ucrânia informou que cerca de 12 mil soldados russos foram capturados ou mortos e mais de 100 aeronaves e helicópteros, 317 tanques e mais de 1.000 veículos blindados de transporte de pessoal foram eliminados.

    Segundo as autoridades, mesmo que esses números não possam ser confirmados, está claro que a Rússia sofreu perdas significativas de tropas e equipamentos.

    “Quando você olha apenas para o lixo que está vindo da Rússia nesses trens agora, em termos de caminhões e pequenos carros – agora eles têm caminhões civis e carros chegando em trens para tentar substituir alguns desses caminhões mais pesados que foram perdidos em contra-ataques ucranianos – isso é incrível”, disse o funcionário da Otan.

    Na quarta-feira, o Ministério da Defesa da Rússia também reconheceu que alguns recrutas estavam participando da guerra, enquanto autoridades dos EUA dizem que Moscou também está procurando recrutar combatentes estrangeiros da Síria. Outros combatentes da Chechênia já estão na Ucrânia, assim como o grupo mercenário Liga, anteriormente conhecido como Grupo Wagner.

    Autoridades ocidentais veem essas forças suplementares como um sinal potencial de que a Rússia está encontrando dificuldades para reunir poder de combate suficiente para continuar seu ataque.

    “Achamos digno de nota que [Putin] acredite que ele precisa contar com combatentes estrangeiros para complementar o que é um compromisso muito significativo de poder de combate dentro da Ucrânia”, disse um funcionário do alto escalão da defesa à imprensa na quinta-feira.

    A Rússia também tem encontrado dificuldades para suprir efetivamente suas formações de combate avançadas no campo com combustível, alimentos e armas. Unidades avançadas russas muitas vezes avançam na frente, deixando as unidades de apoio vulneráveis ao contra-ataque ucraniano.

    Enquanto isso, um comboio de 64 quilômetros de veículos de combate e logística russos ficou parado por dias ao norte de Kiev, em parte devido a problemas mecânicos e congestionamentos e em parte graças aos esforços ucranianos para impedir o progresso dele. No entanto, na quinta-feira, o comboio havia sido “em grande parte disperso e redistribuído”, de acordo com imagens de satélite da Maxar Technologies.

    Ainda assim, apesar dos erros russos, apesar do que as autoridades descreveram como uma heroica resistência ucraniana, os serviços de inteligência ocidentais não estão avaliando que a Ucrânia mudou a maré da invasão. As forças armadas da Rússia permanecem qualitativa e quantitativamente superiores.

    Putin continua a realizar um bombardeio contínuo de cidades ucranianas com bombas “burras” indiscriminadas – inclusive contra infraestruturas civis – mesmo diante da condenação internacional. As autoridades agora acreditam que ele está se preparando para tentar cortar alimentos, água e potencialmente o fornecimento de energia para Kiev, como fez em outras grandes cidades da Ucrânia.

    “Não vemos sinais de que Putin tenha se desviado de seus objetivos políticos estratégicos, nem vemos sinais de que os estados militares tenham mudado”, disse o funcionário da Otan. “A única grande diferença, além dos desafios miseráveis que eles estão enfrentando, é que eles se tornaram mais violentos – não apenas contra os militares, mas contra os civis”.

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