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    EUA investigam ‘síndrome’ misteriosa perto da Casa Branca

    Chamada 'Síndrome de Havana' causaria sintomas do sistema nervoso

    Katie Bo Williams, Jeremy Herb e Natasha Bertrand, da CNN

    Dois funcionários do Conselho de Segurança Nacional (NSC na sigla em inglês) da Casa Branca foram atingidos por uma doença misteriosa no final do ano passado. Os detalhes recém-revelados fazem parte de uma investigação para determinar quem ou o quê está por trás desses incidentes estranhos.

    Várias fontes disseram à CNN que os episódios ocorreram em novembro de 2020 – um deles no dia seguinte à eleição presidencial e o outro algumas semanas depois. Os casos são consistentes com uma série inexplicável de experiências sensoriais e sintomas físicos que adoeceram mais de 100 diplomatas, espiões e soldados norte-americanos em todo o mundo e passaram a ser conhecidos como “Síndrome de Havana”.

    A comunidade de inteligência ainda não tem certeza de quem está causando a estranha série de sintomas do sistema nervoso, ou se eles podem ser definitivamente chamados de “ataques”. A tecnologia que possa estar causando esse conjunto inconsistente de sintomas também é algo discutível.

    O primeiro incidente, relatado anteriormente pela CNN, ocorreu no dia 4 de novembro de 2020, quando o funcionário do NSC estava tentando passar por um portão sem guardas próximo ao Ellipse, de acordo com uma fonte com conhecimento direto do incidente. Essa pessoa apresentou apenas sintomas leves após o encontro, incluindo dores de cabeça e insônia, que desapareceram após uma semana.

    Vista aérea da Casa Branca e do Ellipse, em Washington
    Vista aérea da Casa Branca e do Ellipse, em Washington
    Foto: Shutterstock

     

    O segundo caso aconteceu semanas depois perto de uma entrada para os jardins da Casa Branca, segundo relataram duas fontes familiarizadas com o assunto à CNN. Esse segundo funcionário apresentou sintomas mais graves e precisou de tratamento médico imediato.

    Esses dois incidentes no centro de Washington, juntamente com um caso suspeito registrado no norte da Virgínia em 2019, levantaram preocupações de que episódios dessa ordem – antes relatados apenas entre norte-americanos no exterior – estejam ocorrendo agora em números crescentes dentro do país, talvez até na porta da frente do presidente. 

    Esta história é baseada em entrevistas com mais de uma dúzia de funcionários atuais e antigos com conhecimento dos esforços dos EUA para responder a tais incidentes misteriosos.

    Há cinco anos, os investigadores têm se esforçado para explicar as estranhas experiências relatadas por diplomatas dos EUA e outros funcionários do governo em Cuba, Rússia, China e outros lugares. São episódios que em alguns casos levaram a dores de cabeça crônicas e lesões cerebrais. As vítimas relataram sentir vertigens repentinas, dores de cabeça e pressão na cabeça, às vezes acompanhadas por um “ruído direcional penetrante”. Alguns disseram ser capazes de escapar dos sintomas simplesmente mudando-se para outra sala – e voltando a se sentir mal ao voltar a posição original.

    O número de casos suspeitos está aumentando em todo o mundo, de acordo com uma declaração recente dos líderes do Comitê de Inteligência do Senado. Foram mais de 130 ocorrências em todo o mundo nos últimos cinco anos, de acordo com o jornal “The New York Times”, que relatou pelo menos um episódio no exterior nas últimas duas semanas.

    Também houve casos suspeitos na Europa, conforme relatado anteriormente pela CNN, e outros estão sendo investigados internamente, de acordo com fontes com conhecimento do assunto.

    “Incidentes anômalos”

    Sob pressão de legisladores e vítimas, o governo Biden intensificou drasticamente os esforços para “identificar a causa desses incidentes, determinar a atribuição, intensificar a coleta de dados e prevenir” o que a comunidade de inteligência agora chama de “incidentes de saúde anômalos”, revelou um porta-voz da o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional em um comunicado na terça-feira (18).

    O diretor da CIA, Bill Burns, começou a receber briefings diários sobre o assunto, incluindo depoimentos de vítimas desses episódios estranhos, de acordo com duas fontes familiarizadas com o assunto.

    Ainda não há, no entanto, um diagnóstico definitivo relacionando esses casos à Síndrome de Havana, dizem as autoridades. Como as vítimas sofrem uma miríade de sintomas diferentes ao longo do tempo, cientistas, engenheiros e especialistas médicos estão divididos sobre atribuir a uma única causa todos os casos sob investigação.

    Por enquanto, o governo identificou e realizou com sucesso um exame de sangue que pode apontar alguns marcadores, de acordo com duas autoridades americanas com conhecimento direto do assunto. Esse teste está entre as ferramentas diagnósticas usadas em casos recentes de oficiais de inteligência que relataram sintomas consistentes com a “Síndrome de Havana” – incluindo uma das vítimas da Casa Branca, segundo fontes familiarizadas com o assunto. Mas o teste por si só não é suficiente para oferecer um diagnóstico claro.

    Várias agências também estão tentando criar ou reaproveitar um tipo de sensor que poderia ser usado para detectar atividades anômalas e, teoricamente, ajudar a estabelecer se o pessoal está sendo atingido, de acordo com dois atuais funcionários dos EUA e um ex-funcionário dos EUA. 

    Algumas fontes, porém, alertam que essa ferramenta seria capaz apenas de detectar a atividade, e não de preveni-la. “Como rebater algo que você não sabe que está chegando?”, questionou um oficial de inteligência.

    Um relatório de março da National Academy of Sciences citou a “energia de radiofrequência pulsada e dirigida” – a chamada energia de micro-ondas – como a causa mais provável do estranho conjunto de sintomas, o que foi rejeitado publicamente por alguns acadêmicos. 

    “Isso é o que tem sido tão enlouquecedor. É baseado puramente nos sintomas”, afirmou uma fonte familiarizada com a inteligência sobre o assunto. “Não temos pistas concretas, apenas evidências circunstanciais”, acrescentou o funcionário. “E é uma evidência circunstancial de que também poderia ser algo completamente diferente”.

    Um memorando da Agência de Segurança Nacional tornado público em 2014 revelou que a agência tinha relatos da inteligência desde 2012 apontando para a possível existência de “uma arma de sistema de micro-ondas de alta potência projetada para banhar os aposentos de um alvo, causando vários danos físicos efeitos colaterais, incluindo um sistema nervoso danificado”. Mas o memorando não confirmava definitivamente a existência de tal arma, ou qual país poderia tê-la desenvolvido.

    Além disso, algumas autoridades questionaram como tal arma poderia ser acionada discretamente (especialmente no movimentado centro de Washington) e focada com tanta precisão que só causaria ferimentos no cérebro do alvo e não no resto do corpo.

    Igualmente obscuro é quem pode estar por trás desses incidentes, se eles de fato forem ataques. Algumas evidências circunstanciais apontam para a Rússia como um provável culpado, dizem as autoridades, por ser um dos poucos países dedicados à pesquisa e desenvolvimento do que alguns especialistas acreditam ser o tipo de arma capaz de provocar sintomas consistentes com a Síndrome de Havana.

    Alguns oficiais que rastreiam a Síndrome de Havana sugerem que, se um adversário estrangeiro estiver usando algum tipo de arma de energia dirigida, a intenção pode não ser assediar ou mutilar o pessoal dos EUA, mas sim coletar informações de seus telefones celulares.

    “Não sei se eles encontraram um mecanismo de coleta que permite que seja usado como sistema de armas ou se estão apenas tentando coletar (dados de telefones celulares) e isso causa efeitos colaterais adversos”, disse uma pessoa com conhecimento direto dos incidentes. “Pelo que li, o júri ainda não decidiu o que exatamente as pessoas pensaram que era”.

    “Não temos a prova cabal”

    Os novos incidentes, incluindo aqueles em Washington, geraram crescente frustração entre os legisladores no Capitólio, que dizem que a comunidade de inteligência não forneceu ao Congresso informações suficientes sobre o que sabe e não cuidou adequadamente das vítimas.

    “Estou chocado com o fato de que muitos desses indivíduos feridos no cumprimento do dever tiveram que lutar para obter cuidados médicos adequados, para que seus ferimentos fossem reconhecidos e para receber uma compensação financeira”, disse a senadora republicana do Maine Susan Collins no Comitê de Inteligência do Senado.

    Os legisladores dos comitês de Inteligência e Serviços Armados da Câmara e do Senado têm exigido detalhes adicionais e instado os oficiais de inteligência a divulgar informações sobre os ataques. Os legisladores elogiaram o compromisso declarado de Burns – o chefe da CIA – com a questão, mas um recente briefing a portas fechadas do Comitê de Inteligência do Senado sobre o assunto foi um dos mais controversos do comitê dos últimos tempos, de acordo com duas fontes familiarizadas com o briefing.

    O Congresso também expressou preocupação com o fato de o governo não ter conseguido coordenar suficientemente os esforços de várias agências (incluindo o Pentágono, a comunidade de inteligência e o Departamento de Estado) para resolver o problema.

    “Há muitas entidades no governo que estão olhando para isso. Precisamos coordenar melhor”, disse o presidente da inteligência do Senado, Mark Warner. “Acho que há um nível de seriedade dado a isso agora que, francamente, não existia até que o diretor Burns viesse e fizesse disso uma prioridade”.

    Warner, democrata da Virgínia, disse que era frustrante saber que, depois de cinco anos desde que esses aparentes ataques começaram a ocorrer, ainda haja dificuldade em tudo, tanto de cuidar dos feridos quanto de determinar quem é o responsável e até mesmo identificar quais ferramentas ou armas foram usadas.

    Para as vítimas desses estranhos incidentes – algumas delas sofrendo de problemas de saúde debilitantes até hoje –, a resposta do governo foi igualmente frustrante. Durante o governo Trump, os indivíduos que relataram ter esses sintomas nem sempre eram dignos de crédito, lembram. “Demorou um pouco para que certas pessoas levassem isso muito a sério”, disse uma autoridade com conhecimento direto dos incidentes.

    Mesmo agora, os funcionários que relatam esses sintomas são examinados de perto para confirmar se seus sintomas são físicos ou psicossomáticos. “O problema é encontrar as explicações definitivas para essa série de episódios”, disse o responsável. “Não temos a prova cabal”.

    (Texto traduzido, leia o original em inglês)

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