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    EUA iniciam discussão sobre os aplicativos de passaporte de vacina

    Lançamentos de aplicativos que comprovam a vacinação contra a Covid-19 apresentam desafios nas regras de segurança, privacidade e padrões de compatibilidade

    Samantha Murphy Kelly, CNN Business

    À medida que a vacinação acelera e a economia mais ampla dos Estados Unidos se prepara para reabrir, as conversas sobre aplicativos de verificação de vacinas esquentaram.

    Empresas de tecnologia, prestadores de cuidados de saúde e até lojas de varejo estão trabalhando em aplicativos de passe digital de saúde que permitirão aos usuários mostrar a prova de vacinação antes de entrar em eventos e negócios.

    O estado de Nova York já está digitalizando o Excelsior Pass, desenvolvido pela IBM, na porta de locais como o Madison Square Garden antes dos eventos esportivos. Se você testou negativo para a Covid-19 ou recebeu uma vacina, pode assistir a um jogo de hóquei do Rangers pessoalmente.

    Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que não apoia a exigência de passaportes de vacinação para entrada ou saída de países. O posicionamento se dá devido à incerteza sobre se a vacinação contra Covid-19 evita a transmissão do vírus, e também por preocupações relacionadas à desigualdade no acesso aos imunizantes.

    Os aplicativos de verificação de vacinas podem desempenhar um papel fundamental no levantamento das restrições, mas especialistas em privacidade e segurança dizem que os lançamentos vão apresentar um punhado de desafios sobre padrões, interoperabilidade, dados pessoais e adoção – tanto de usuários quanto de empresas.

    Isso poderá ser agravado por um dilúvio de aplicativos vindo em nossa direção, com o governo norte-americano em grande parte pontuando que ficará de fora.

    “Menos é mais”, disse Alan Butler, presidente do Electronic Privacy Information Center. “São sistemas relacionados à saúde pública que devem ser gerenciados por departamentos de saúde pública e devem ser limitados na forma como são usados nesse contexto. Não queremos que sejam sistemas de coleta de dados abrangentes para todos os tipos de usos diferentes que existem agora além da crise de saúde pública”.

    A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou recentemente que não haverá “nenhum banco de dados centralizado de vacinas federais universais e nenhum mandato federal exigindo que todos obtenham uma única credencial de vacinação.” 

    “Queremos incentivar um mercado aberto com uma variedade de empresas do setor privado e soluções de desenvolvimento de coalizões sem fins lucrativos”, completou Jen.

    Mas deixar o processo para o setor privado e os governos locais pode apresentar consequências imprevistas. Por exemplo, o governador da Flórida, Ron DeSantis, já proibiu a exigência de documentos de comprovação de vacinação no estado – uma medida que preocupa a indústria de cruzeiros com planos de reabertura.

    Jenny Wanger, diretora de programas da Linux Foundation Public Health, disse que “centenas” de empresas estão ativamente envolvidas na criação de soluções de credenciais de vacinas.

    A Linux está por trás da Covid-19 Credentials Initiative, uma comunidade global composta por mais de 450 tecnólogos, acadêmicos e profissionais de saúde de mais de 100 organizações que estabelecem padrões para aplicativos de aprovação de vacinas.

    O objetivo é definir diretrizes para que os aplicativos possam ser interoperáveis e de código aberto, permitindo que os desenvolvedores vejam o que está acontecendo por trás da codificação para criar um processo mais transparente e colaborativo.

    Passaporte de vacina usado em Nova York
    Aplicativo que comprova a vacinação contra a Covid-19 disponível para os habitantes de Nova York, nos EUA
    Foto: Reprodução/Estado de Nova York

    “Nosso objetivo é que qualquer negócio desenvolva algo – as startups podem atuar neste espaço, assim como a IBM”, destacou Wanger. “Estamos trabalhando neste sistema para que nenhuma empresa ou grupo de empresas tenha poder sobre os registros de saúde ou ser abertamente dominante”.

    Na teoria, a diretora de programas afirmou que as pessoas terão a liberdade de escolher quais aplicativos desejam usar.

    “Não acho que veremos um futuro em que você possa comprar toalhas de papel por meio de um aplicativo do Walmart e também obter suas credenciais de vacina. Mas achamos que as pessoas serão capazes de gerenciar suas credenciais por meio de uma plataforma e, em seguida, usá-la internamente ou em outro continente”.

    Iniciativa inclui gigantes da tecnologia

    Da mesma forma, a Vaccination Credential Initiative (VCI) – que inclui IBM, Microsoft, Salesforce, Oracle, Mayo Clinic e Commons Project – é uma organização sem fins lucrativos com um aplicativo de passaporte de vacina atualmente trabalhando com algumas companhias aéreas.

    Também desempenha papel fundamental no desenvolvimento de padrões dos EUA para passes digitais de saúde, como abordagem à privacidade de dados.

    Os membros da organização serão obrigados a não coletar ou armazenar dados do usuário. Em março, o Walmart anunciou que usará o padrão que está sendo desenvolvido pela VCI para qualquer pessoa vacinada em suas lojas e locais do Sam’s Club.

    Jenn Markey, diretora de marketing da empresa de segurança Entrust, disse que o sucesso dessas implementações também dependerá em parte de como os aplicativos funcionam com vários sistemas.

    Vacinação móvel contra a Covid-19 em Nova York
    Com a vacinação em andamento dos Estados Unidos, órgãos e empresas de tecnologia estudam a criação do passaporte de vacinação
    Foto: GettyImages

    “A visão é um conjunto de credenciais digitais seguras onde o guarda de fronteira em Heathrow [aeroporto de Londres] seja capaz de ler as mesmas credenciais que o porteiro no Madison Square Garden sem comprometer a privacidade do cidadão”.

    Ela acrescentou que tentar gerenciar muitas soluções pode abrir o processo a vulnerabilidades de segurança na transferência entre um aplicativo e outro.

    Segundo Wanger, o lançamento inicial será como nos primeiros dias de uso de um e-mail no passado. Nessa época, os usuários da AOL, por exemplo, só podiam enviar e-mails aos membros da AOL – até que os padrões fossem desenvolvidos.

    “Estamos vendo uma onda de sistemas de grupos fechados, como a IBM, que não estão permitindo que mais ninguém entre nesse sistema e desenvolva-o”, disse. “O que veremos com a onda dois são os aplicativos [que podem funcionar juntos]; é aí que entra a aplicação e o alinhamento da comunidade. Qualquer um deve seguir as mesmas regras quando se trata de segurança, privacidade e padrões de compatibilidade para interoperabilidade”.

    John Verdi, vice-presidente de política do Future of Privacy Forum, disse que é muito cedo para analisar quais métodos se provarão mais populares, mas ele espera encontrar diferentes tipos de abordagens: “Vimos essa dinâmica com estruturas de rastreamento de contato e cartões de pagamento e outras tecnologias”.

    Ao mesmo tempo, as pessoas provavelmente não vão querer gerenciar muitos aplicativos de passe digital de saúde, e é possível que as empresas aceitem apenas alguns, como os cartões de crédito em lojas.

    “Eu ficaria surpreso se qualquer aplicativo que não seja diretamente suportado pelos departamentos de saúde pública do estado ganhe uma ampla tração além dos casos de uso muito limitados”, disse Butler.

    Outro problema é a adoção, não apenas entre os usuários que precisam confiar na tecnologia, mas também nas próprias empresas, de supermercados e lojas de varejo a cinemas e locais de trabalho.

    “Parece que vai se resumir a se as empresas individuais querem usar um passaporte de vacina”, destacou Erica DeWald, diretora de comunicações estratégicas da Vaccine Your Family, uma organização sem fins lucrativos que atua pela defesa da vacina. “Neste ponto, não acho que muitos o farão sem que o governo federal se posicione sobre eles”.

    (Este texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)

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