EUA: 5 coisas para ficar de olho nas sabatinas da CNN com Ron DeSantis e Nikki Haley
Ambos estão na disputa contra Donald Trump para concorrerem nas eleições presidenciais de 2024 pelo Partido Republicano
Os dois integrantes do Partido Republicano com maior possibilidade de vencer Donald Trump para ser a indicação republicana para as eleições presidenciais nos EUA de 2024 serão sabatinados na noite da próxima quarta-feira (10) em Iowa, em eventos promovidos pela CNN.
Eles serão apresentados aos eleitores a uma semana e meia das convenções políticas para a primeira disputa da temporada das primárias presidenciais do Partido Republicano.
O governador da Flórida, Ron DeSantis, e a ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, se destacaram em um grupo que já contou com quase 20 candidatos, sendo considerados “semifinalistas não oficiais” na corrida para enfrentar Trump, que continua com boa liderança nas pesquisas estaduais e nacionais.
Em sabatinas promovidas pela CNN na Grand View University em Des Moines, em Iowa, Haley e DeSantis serão questionados por possíveis participantes da convenção política do Partido Republicano e âncoras da CNN sobre suas visões para o futuro e por que eles, mais do que Trump ou qualquer outra pessoa, estão em melhor posição para derrotar o presidente Joe Biden no fim do ano que vem.
Trump não estará presente no evento, mas a possibilidade de ele ganhar pela terceira vez seguida a nomeação do Partido Republicano para concorrer nas eleições será um estímulo para DeSantis e Haley.
Ambos intensificaram seus ataques contra o ex-presidente nas últimas semanas, mesmo enquanto evitam fazer críticas mais ríspidas que poderiam custá-los pontos com os conservadores indecisos.
DeSantis será o primeiro a ser ouvido, às 21h pelo horário local, e 19h pelo horário de Brasília. Haley estará na programação em seguida, às 22h pelo horário local, e 20h pelo horário de Brasília.
Aqui estão cinco coisas para ficar de olho durante a sabatina com os eleitores de Iowa.
DeSantis atacará diretamente Trump?
Depois de entrar 2023 como o favorito para desafiar Trump, Ron DeSantis chega em 2024 com um cenário mais delicado, na esperança de conseguir bom desempenho em Iowa para reacender sua campanha confusa e dispendiosa.
O governador da Flórida tem perseguido Trump de forma mais agressiva em aparições recentes, criticando o ex-presidente por ficar de fora dos debates do Partido Republicano.
Ele também argumenta que está em melhor posição para conquistar um grupo pequeno, mas potencialmente decisivo, de eleitores indecisos em estados importantes. Mas esse ajuste tático ainda não repercutiu verdadeiramente em muitos eleitores.
“Por que você não foi diretamente contra ele [Trump]? No meu ponto de vista, você está sendo muito brando com ele”, um eleitor que apoia DeSantis em Iowa perguntou ao candidato em um evento na quarta-feira (3).
DeSantis rebateu argumentando que “articulou todas as diferenças repetidamente durante a campanha”, antes de atacar a imprensa, sugerindo que os repórteres “querem que os candidatos republicanos apenas difamem [Trump] pessoalmente. Não é assim que eu ajo”.
Agora vale observar se uma mudança mais drástica está chegado.
Haley enfrentará Trump?
À medida que Haley tem subido nas pesquisas do Partido Republicano, ela enfrenta críticas cada vez mais duras do ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, outro pré-candidato presidencial cujas esperanças dependem de um resultado forte em New Hampshire, o próximo estado no calendário das primárias republicanas.
Christie insinuou em algumas oportunidades que a ex-embaixadora das Nações Unidas não está enfrentando Trump com mais força porque pretende manter opções em aberto, como se juntar à chapa do ex-presidente ou se candidatar novamente à Presidência em 2028.
“Se houvesse outra pessoa, além de mim, que estivesse disposta a enfrentar Donald Trump e dizer a verdade sobre ele, eu poderia considerar sair da corrida. Mas não existe”, pontuou Christie na quarta-feira (3) no MSNBC.
Ela rapidamente ganhou terreno entre os eleitores republicanos ansiosos em deixar o ex-presidente de lado e pode continuar atraindo eleitores moderados e independentes que podem participar de algumas primárias, incluindo em New Hampshire, caso mudem de filiação partidária, e da Carolina do Sul, a terra natal de Haley.
Mas para realmente derrotar Trump, ela terá que minar o apoio ao empresário entre um contingente maior do Partido Republicano que permanece leal ao ex-presidente.
Encontrar formas de fazer isso, sem alienar esses eleitores, tem sido uma tarefa difícil aos adversários de Trump durante três ciclos eleitorais presidenciais consecutivos.
Impacto na liderança de Trump
Enquanto Haley e DeSantis disputam para serem a última alternativa contra Trump, ambos procuram gerir as expectativas dos seus desempenhos nas convenções de Iowa, entendendo que são fortes candidatos, mas em um campo onde o ex-presidente continua sendo o líder.
DeSantis disse na terça-feira (2) na Fox News que a maneira como ele deixar Iowa não é um fator decisivo para o destino de sua campanha.
“Essa é uma corrida para obter a maioria dos delegados [figuras eleitorais dos EUA]. A votação nunca prevê como sairão os resultados, porque é uma convenção política e isso é apenas uma fera diferente. Estamos fazendo o que for preciso para vencer”, ponderou DeSantis.
Haley, enquanto fazia campanha em Kingston, New Hampshire, na quarta-feira, previu “surpresas” nas primeiras disputas de indicação do país.
“Conheço o ímpeto em Iowa e o ímpeto em New Hampshire, eles querem algo diferente”, destacou a ex-governadora aos eleitores.
Os aliados também procuram criar expectativas favoráveis para os seus candidatos. O super PAC (comitê de ação política) SFA Fund, Inc., pró-Haley, lançou um vídeo destacando casos de DeSantis alegando que venceria as convenções de Iowa.
Mark Harris, estrategista-chefe do super PAC, disse aos repórteres na quarta-feira que DeSantis deve vencer em Iowa, enquanto Haley só precisa se sair bem o suficiente em Iowa “para manter o ímpeto”, à medida que a corrida muda para New Hampshire, onde as pesquisas a mostram em um forte segundo lugar, atrás de Trump.
“Não há dúvida agora de que, quando chegarmos ao outro lado de Iowa, será realmente uma corrida de mão dupla entre Nikki e o presidente Trump”, ressaltou Harris.
Comentários sobre a Guerra Civil
Haley enfrentou o que pode ser o pior momento de sua campanha na semana passada, quando foi questionada em New Hampshire sobre as causas da Guerra Civil e deu uma resposta sobre “como o governo iria funcionar [naquela época]”, sem mencionar a escravidão.
Ela procurou retroceder rapidamente, inclusive quando aliados como o governador de New Hampshire, Chris Sununu, admitiram que seus comentários foram um erro. “Todo mundo seguiu em frente”, exceto a imprensa, disse Haley na quarta-feira à Fox News.
Ainda assim, Haley enfrentou críticas de todo o espectro político, desde aliados de Trump até do presidente Joe Biden, e o momento levantou dúvidas sobre a sua perspicácia política.
Isso provavelmente não desaparecerá rapidamente e pode continuar assombrando Haley nas sabatinas televisionadas e nos próximos debates.
Questionada durante a entrevista à Fox News sobre a reação desde a sua gafe, Haley destacou novamente que presumia que a escravidão ser a causa da Guerra Civil era um “fato” e disse que reconheceu que deveria ter sido a primeira coisa dita na sua resposta.
“Quando você cresce no sul [dos EUA], a escravidão é um comentário constante e um ponto constante de discussão. Você aprende isso na escola e fala sobre isso. O sul está realmente muito confortável com a nossa história”, ressaltou.
“O que eu deveria ter dito imediatamente era que a Guerra Civil era sobre a escravidão, mas presumi que fosse um fato adquirido e disse que era também sobre o papel do governo e sobre os direitos das pessoas econômica, socialmente e de outras formas”, completou a ex-governadora da Carolina do Sul.
Direito ao aborto
Ao longo dos quatro debates nacionais, os candidatos republicanos às eleições primárias contornaram, em grande parte, aquela que poderia ser a questão mais influente nas próximas eleições gerais: o direito ao aborto.
Desde que a Suprema Corte derrubou o caso Roe vs Wade (a lei nacional sobre o aborto nos EUA), os eleitores de todo o espectro ideológico romperam, na sua maioria, contra os esforços para impor restrições ao aborto e votaram para preservar esse direito.
Nem Haley, nem DeSantis abordaram o lado popular da questão. DeSantis assinou uma proibição de aborto após seis semanas de gravidez na Flórida na primavera passada e afirmou que apoiaria uma lei federal que estabelecesse o limite de 15 semanas de gravidez. Mas ele também não falou muito sobre isso.
Em outra sabatina da CNN no mês passado, ele elogiou a proibição das seis semanas antes de atacar Trump.
Haley, por sua vez, tem sido ainda mais difícil de definir quanto ao assunto, pois levou sua política “assumidamente pró-vida”, ao mesmo tempo que ressalta que pretende encontrar um consenso nacional sobre a questão, que está entre as mais delicadas da vida americana.
Faltando menos de duas semanas para o início da votação, ambos serão provavelmente pressionados a fornecer mais informações sobre as suas visões do tema e, talvez, dar aos telespectadores uma dica sobre como venderiam esses planos a uma multidão nas eleições gerais.