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    Estudo mostra discrepância em visões do Ocidente e de países emergentes sobre guerra na Ucrânia

    Diferença de percepções foi exposta em estudo recém-divulgado pelo Conselho Europeu para Relações Externas

    Daniel Rittnerda CNN , em Brasília

    As potências ocidentais e os principais países do mundo emergente têm visões completamente distintas sobre a guerra na Ucrânia, que completa um ano nesta sexta-feira (24), e sobre a nova realidade geopolítica que deriva do conflito.

    A diferença de percepções foi exposta em estudo recém-divulgado pelo Conselho Europeu para Relações Externas (ECFR), um “think tank” baseado em diversas capitais europeias.

    O instituto comparou o sentimento dos cidadãos dos Estados Unidos, do Reino Unido, de nove países da União Europeia, da China, da Índia e da Turquia sobre a guerra.

    Primeira diferença nítida: a maioria dos americanos, britânicos e europeus acha que é imprescindível a Ucrânia recuperar todos os seus territórios — mesmo à custa de uma guerra mais prolongada ou de mais mortes no conflito.

    Entre os emergentes, o sentimento é oposto. Indianos (54%), turcos (48%) e chineses (42%) preferem que a guerra acabe o mais rapidamente possível – ainda que com a Ucrânia cedendo territórios para a Rússia.

    Segunda discrepância: a Rússia é vista essencialmente como “rival” ou “adversária” por 77% no Reino Unido, 70% nos Estados Unidos e 65% na União Europeia.

    Essa opinião é amplamente minoritária nos emergentes, onde o panorama muda. A Rússia é descrita como “aliada” ou “parceira necessária” por 80% na Índia, 79% na China e 69% na Turquia.

    A pesquisa ouviu 19.765 pessoas entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, de forma virtual ou presencial, dependendo do país. Nove países da UE fizeram parte da sondagem (Alemanha, Dinamarca, Espanha, Estônia, França, Itália, Polônia, Portugal e Romênia).

    Há um terceiro “racha” nas percepções: os motivos pelos quais Estados Unidos e Europa tomaram partido da Ucrânia na guerra.

    Para os americanos e europeus, trata-se majoritariamente de defender a democracia e a integralidade territorial dos ucranianos. Para orientais, a motivação é, acima de tudo, uma defesa do “domínio do Ocidente” e do temor com ataques aos próprios países ocidentais no futuro.

    Por fim, uma diferença sobre a nova ordem global que deriva da guerra: americanos, britânicos e europeus acreditam que está surgindo um mundo bipolar, dividido em dois grandes blocos, um liderado pelos Estados Unidos e outro sob influência da China. Já os emergentes veem um cenário de multipolaridade, fragmentado, sem uma hegemonia clara dos Estados Unidos ou da China.

    “A memória da guerra fria definem a forma como americanos e europeus veem o futuro”, diz um trecho do estudo. Em outras palavras, segundo o trabalho do ECFR, seria uma briga entre democracias e regimes autoritários. Fora das potências ocidentais, no entanto, a percepção é outra.

    “As grandes forças emergentes se veem ao lado do Ocidente em algumas questões, mas não em outras. Em contraste com os tempos de guerra fria, hoje os maiores parceiros comerciais comumente não são os maiores parceiros em termos de segurança. Mesmo quando os emergentes concordam com o Ocidente, eles frequentemente manterão boas relações comerciais com Rússia e China”, acrescenta o estudo.

    Em seguida, nesse contexto, o Brasil é citado: “Isso também é o que o Brasil está fazendo: o presidente Lula fala em favor de preservar a neutralidade do país vis-à-vis Ucrânia e Rússia, para evitar qualquer participação, mesmo indireta [na guerra], embora ele aceite que a Rússia invadiu sua vizinha”.

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