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    “Estou cansada. Apenas muito, muito cansada”: mulher descreve vida durante crise no Sudão

    Dois generais estão lutando pelo controle do Sudão, e preso no meio está o povo do país; centenas morreram, dezenas de milhares fugiram

    Celine Alkhaldida CNN

    Dois generais estão lutando pelo controle do Sudão, e preso no meio está o povo do país.

    Centenas morreram, dezenas de milhares fugiram. Os moradores ficaram presos em casa e em abrigos sem comida ou água, e a gasolina se tornou uma mercadoria cada vez mais importante.

    Desde que os combates começaram no último sábado (21), a CNN tem mantido contato regular com Iman Abu Garjah, uma médica britânica-sudanesa que ficou presa enquanto visitava a família para celebrar o Ramadã.

    Recebemos esta atualização dela na última sexta-feira (21). Suas palavras foram editadas para maior clareza.

    A história de Iman

    “Estou cansada. Estou muito, muito cansada. Exausta é a palavra certa para isso; esgotada. É muita adrenalina.

    Ficamos felizes com o cessar-fogo de 24 horas [no início da semana], que foi estendido, não porque realmente houve um cessar-fogo, mas porque houve um espaçamento entre os ataques.

    [Na quinta-feira] todos nós nos sentimos muito cansados, ainda estávamos jejuando no meio de tudo isso, e o sentimento de todos era que o Ramadã tinha que chegar ao fim.

    Preparei o jantar, fiz ovos fritos, tentando fazer algo legal a partir de uma lata de atum. Tentei umedecer um pouco de pão amanhecido.

    Muito tarde da noite, ouvimos, não sei o que eram, mísseis talvez?

    Meu pai tem mobilidade bastante limitada porque está doente. Ele está dormindo neste sofá-cama. Nós apenas tivemos que empurrá-lo da sala de estar onde ele estava dormindo para uma área mais segura onde havia uma cobertura de parede em vez de apenas janelas.

    Meu primo também está conosco. Minha filha estava absolutamente agoniada e simplesmente inconsolável. Minha avó de 96 anos estava em um quarto atrás do lugar em que estávamos abrigados.

    Ela podia ouvir o bombardeio, ela podia sentir o tremor, o som entrando na casa, mas eu minimizei para ela. Minha mãe também estava lá. Minha irmã.

    Também temos conosco empregadas domésticas. Há uma do Quênia. Ela não é muçulmana, então comecei a ler o “Pai-Nosso” com ela. Achei que talvez lhe traria algum consolo e segurança saber que ela não está sozinha.

    "Decidi manter um diário" - uma das fotos que Iman compartilhou com a CNN
    “Decidi manter um diário” – uma das fotos que Iman compartilhou com a CNN

    Também temos duas ajudantes domésticas etíopes, e elas ficaram muito assustadas. Fiquei pensando comigo mesma, essas pobres pessoas, fogem de seus países para vir para um lugar como o Sudão, longe de suas famílias, para ganhar dinheiro para enviar para eles ou para ir para um lugar mais seguro e é isso que acontece com eles. Parece tão injusto.

    Acho que houve dois ou três baques muito altos muito perto da casa. Nós apenas começamos a ler [o] Alcorão, orando para que estivéssemos seguros tentando acalmar as crianças. Queria ser um polvo para [eu] ter mais mãos, mãos e braços para colocar em volta das pessoas só para abraçá-las.

    [Sexta-feira] foi um borrão. Não ouvi nada do chamado do Eid [al-Fitr, celebração muçulmana que marca o fim do jejum do Ramadã] para as orações, que é uma das coisas que geralmente me enche de alegria.

    É uma das principais razões pelas quais vim do Reino Unido porque só queria ter um bom jejum com a família e aqui está. Todas as roupas do Eid estão na bolsa. O esmalte de unha, as coisas do cabelo. Eu nem coloquei meu rímel. Então é um dia muito triste.

    Muitas pessoas estão fugindo. Tem muita gente oferecendo vaga em ônibus para ir ao Egito. O nosso é um pesadelo logístico. É uma grande família e cada pessoa ou cada grupo de pessoas ou agregado familiar tem requisitos diferentes. Transportar [minha avó] não vai ser como levar meu sobrinho de oito anos.

    A filha do meu irmão tem certas necessidades de saúde, ela precisa de acesso a certos medicamentos. Minha mãe, meu pai, minha avó e minha irmã também se sentiriam muito mal, ou talvez nem sobrevivessem se não tivessem seus remédios.

    Tentamos ser positivos. Tentamos jogar, tentamos assistir a filmes, mas nossa atenção acabou completamente. Ninguém pode sentar e assistir a um filme.

    Eu me concentro nas coisas boas: temos óleo [para aquecimento da casa], temos eletricidade, temos água encanada porque a caixa d’água está funcionando. Temos carros na garagem, mas não há gasolina para eles.

    Estou evitando as notícias. As declarações de ambas as partes parecem ter o mesmo autor: eu sou seu salvador e vencedor.

    Eu sei que ambos são homens mentirosos, manipuladores e sedentos por sangue, sem consideração pela dignidade nem pela vida das pessoas que são pagos para servir e proteger.

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