Equador está sob controle de gangues, diz presidenciável à CNN
Em entrevista à âncora Isa Soares, Otto Sonnenholzner, afirmou que sua equipe também sofreu ameaças e que conta com segurança reforçada
O Equador é hoje dominado pelas gangues e cartéis de drogas e enfrenta uma escalada de violência nunca vista antes. A declaração é do candidato à Presidência do país, Otto Sonnenholzner, em entrevista à âncora da CNN, Isa Soares, nesta quinta-feira (10). Ele falou sobre o assassinato de outro presidenciável, Fernando Villavicencio, na tarde de quarta-feira (09).
“Estamos sob uma espiral de violência, que saiu do controle, cresceu de uma forma que nunca vimos antes”, comentou o candidato durante a entrevista. “Há influência de gangues e traficantes de drogas em vários setores”. Ele afirmou inclusive que conta com um reforço na segurança, ao contratar agentes particulares. “Integrantes de nossa equipe já foram ameaçados”, afirmou.
Sonnenholzner lembrou casos recentes de violência no país para mostrar que há uma sensação de impotência das autoridades e da população. “As gangues têm metralhadoras, granadas. Esses grupos são os que tomaram conta dos presídios”.
Candidato à Presidência do Equador é assassinado
O candidato falou sobre a morte de Villavicêncio, ligando o fato à escalada de violência no país. Ele frisou que o próprio perfil do presidenciável assassinado foi um chamariz para os criminiosos. “Ele era um jornalista investigativo, sempre enfrentou os poderosos, denunciando a corrupção”, afirma, lembrando que duas semanas atrás ele havia sido ameaçado de morte. “Infelizmente, seu esquema de segurança falhou”.
Sonnenholzner elogiou a decisão do governo do Equador de aceitar a colaboração do FBI, a polícia federal norte-americana, na investigação do crime. “Essa cooperação para encontrar os responsáveis é uma boa notícia. Precisamos descobrir quais os reais motivos para o assassinato”.
Ameaças
Em entrevista na semana passada, Villavicencio havia denunciado que estava sendo ameaçado por um cartel do país.
“Há três dias, um militante de Manabí [cidade do Equador] recebeu visitas de vários mensageiros de Alias Fito [líder do cartel Los Choneros] para dizer a ele que, se eu continuasse mencionando os Los Choneros, eles iriam me quebrar”, disse no programa Vis a Vis, apresentado pela jornalista Janet Hinostroza, na quarta-feira (2).
Los Choneros são uma organização criminosa do Equador que surgiu em Manabí e é formada por duas gangues chamadas Fatales e Las Águilas. Eles atuam com extorsão, tráfico de drogas e homicídios.
Presidente decreta estado de emergência no Equador
Após a ameaça, Villavicencio disse que não iria suspender sua campanha eleitoral e que iria apresentar uma denúncia contra as ameaças.
Ele também responsabilizou previamente o Los Choneros por qualquer eventual atentado que pudesse ocorrer contra ele, sua família e equipe.
Villavicencio disse ainda, na entrevista, que usava o mínimo da proteção oficial do Estado, mas recusava coletes a prova de balas.
Eleições mantidas
Em pronunciamento na madrugada desta quinta-feira (10), o presidente do Equador, Guillermo Lasso, decretou estado de exceção no país e afirmou que as eleições presidenciais estão mantidas para o dia 20 de agosto.
“Essa é a melhor razão para ir votar e defender a democracia”, disse Lasso, que chamou o atentado contra Villavicencio de “crime político que tem um caráter terrorista” por alguém que tentou “sabotar o processo eleitoral”.
“Todas as autoridades aqui reunidas se manterão juntas e acordamos que, ante a perda de um democrata e de um lutador, as eleições não serão suspensas; ao contrário, elas precisam ser realizadas e a democracia precisa acontecer”, discursou o presidente.
A ação desloca as Forças Armadas do Equador para todo o território nacional por um período de 60 dias. Segundo Lasso, a medida foi tomada para a “segurança dos cidadãos, a tranquilidade do país e das eleições livres e democráticas de 20 de agosto”.
Quem é Fernando Villavicencio
Nascido em 11 de outubro de 1963, em Alausí, Fernando Alcibiades Villavicencio Valencia teve uma intensa trajetória como jornalista e sindicalista ao mesmo tempo em que abraçava a carreira política.
Estudou jornalismo e comunicação na Universidade Cooperativa da Colômbia, na qual se formou e iniciou seus trabalhos como comunicador social. Logo em seguida, iniciou na carreira política como um dos fundadores do Partido Pachakutik, em 1995.
o ano seguinte, começou a trabalhar na Petroecuador, a companhia petrolífera estatal do país. Lá, atuou com jornalismo e logo assumiu posições sindicais. Ele se manteve como um líder dos trabalhadores da companha até 1999, quando foi demitido por uma ordem do então presidente Jamil Mahuad.
Mesmo longe da Petroecuador, continuou denunciando os problemas da companhia, como delitos ambientais e trabalhistas. Ganhou notoriedade como um dos mais ferrenhos críticos do então presidente Rafael Correa.
Em 2017, concorreu e foi eleito a uma vaga na Assembleia Nacional. Ocupou o cargo até maio deste ano, quando o presidente Guillermo Lasso assinou a “morte cruzada”, que resultou na dissolução do parlamento equatoriano.
Crítico do correísmo e do governo Lasso, Villavicencio foi um dos personagens mais visíveis nas denúncias de corrupção nos setores de petróleo, energia, telecomunicações e estruturas criminosas, segundo seu perfil na Assembleia Nacional do Equador.
(Publicado por Fábio Mendes, com informações da CNN e Reuters)