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    Envenenamento de opositor de Putin gera questões que podem ficar sem respostas

    Apoiadores de Alexei Navalni culpam diretamente o presidente russo pelo que consideram uma tentativa de assassinato

    O líder opositor russo Alexei Navalny
    O líder opositor russo Alexei Navalny Foto: Shamil Zhumatov - 29.set.2019 / Reuters

    Quando o governo alemão disse nessa quarta-feira (2) que o líder opositor russo Alexei Navalny foi, de fato, envenenado com o agente químico nervoso Novichok, uma coisa era certa: a aparente tentativa de assassinato se tornaria uma completa crise internacional.

    Navalny permanece internado em estado grave na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Charité, em Berlim. Mas a identificação do Novichok como o veneno utilizado já levanta questionamentos sobre se o opositor era alvo de um assassinato orquestrado pela Rússia.

    “Há muitas questões sérias agora que só o governo russo pode e deve responder”, disse nessa quarta a chanceler alemã, Angela Merkel, em um comunicado.

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    Depois que Navalny se sentiu mal durante uma viagem da Sibéria rumo a Moscou em agosto, surgiram especulações sobre quem poderia ter ordenado a tentativa de assassinato. Afinal, o ativista anticorrupção tinha muitos inimigos poderosos na Rússia.

    Mas os apoiadores de Navalny agora culpam diretamente o presidente russo, Vladimir Putin. 

    “Em 2020, envenenar Navalny com Novichok é exatamente a mesma coisa que deixar um autógrafo na cena do crime”, afirmou o chefe de gabinete do líder opositor, Leonid Volkov, no Twitter, com uma foto contendo a assinatura de Putin. O tuíte foi deletado pouco depois.

    A resposta do Kremlin até o momento tem sido: Que veneno? 

    O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov – que vem se esforçando para não se referir a Navalny pelo nome, chamando-o apenas de “o paciente” –, evita falar em envenenamento, e oficiais russos se recusam a iniciar uma investigação.

    Os perigos do Novichok 

    De qualquer forma, Navalny tem sorte de estar vivo, já que o Novichok não é um veneno qualquer. Vil Mirzayanov, ex-químico soviético, descreveu o nível de letalidade da substância.  

    Dependendo da dose, a morte é certa, disse ele. Mas mesmo uma dose que não cause morte imediata pode levar a doenças “torturantes”, segundo Mirzayanov. “A pessoa começa a entrar em convulsão, para de respirar e depois perde a visão. E ainda há outros problemas, como vomitar tudo. É uma cena terrível.”

    O Laboratório de Ciência e Tecnologia de Defesa do Reino Unido, em Porton Down, informou que um composto químico de nível militar foi usado em um ataque ao agente duplo russo Sergei Skripal e a filha dele, Yulia Skripal, na cidade de Salisbury, em 2018.

    O Novichok foi desenvolvido pela União Soviética nos anos 1970 e 1980. Na época do envenenamento dos Skripal, a então primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que era “muito provável” que a Rússia estivesse por trás do ataque, parcialmente porque Moscou havia produzido a substância no passado e ainda era capaz de fazê-lo.

    Mirzayanov, que também foi chefe do departamento de contrainteligência técnica da União Soviética, afirmou que um agressor que utilizasse Novichok precisaria ser “uma pessoa muito bem instruída e treinada”, para estar pronta para usá-lo corretamente.

    Hospital Charité, em Berlim
    Navalny permanece internado em estado grave na UTI do Hospital Charité, em Berlim
    Foto: Fabrizio Bensch – 22.ago.2020 / Reuters

    Rússia x Reino Unido

    Mas enquanto o governo britânico e os EUA expressam profunda preocupação com o aparente uso do Novichok, nenhum deles espera uma grande cooperação por parte do governo russo.

    Depois do caso de Salisbury, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, fez algumas piadas com o discurso de May.

    E depois que o Reino Unido veiculou imagens de câmeras de segurança mostrando dois russos acusados de realizar o ataque contra os Skripal, a dupla apareceu em uma estranha entrevista na TV com Margarita Simonyan, chefe da rede estatal russa RT, apenas um dia após Putin sugerir publicamente que os dois deveriam aparecer e contar sua história.

    Foi uma apresentação estranha, com os dois homens insistindo que trabalhavam com a venda de suplementos nutricionais, e alegando que o objetivo da rápida viagem ao Reino Unido era ver a torre da histórica catedral de Salisbury. O vídeo era mais do que isso: uma propaganda crua feita para distrair e gerar dúvidas. 

    Defensiva

    Agora, Simonyan parece reprisar o papel dela como “acobertadora oficial” no caso de Navalny, sugerindo no Twitter – sem qualquer evidência – que o estado repentino e severo do opositor foi causado por baixo teor de açúcar no sangue.

    Dmitri Polyanskiy, o primeiro representante adjunto permanente da Rússia na Organização das Nações Unidas (ONU), disse no Twitter, no fim de agosto, que as alegações de que Navalny foi envenenado eram um simples pretexto para atacar a Rússia.

    “Antes que nossos críticos comecem a dizer ‘Foi a Rússia’, apelo mais uma vez para o bom senso”, escreveu ele. “Por que faríamos isso? E de uma forma tão desajeitadamente inconclusiva?”

    Mas alguém poderia falar o contrário: que o atrevimento do envenenamento de Navalny é justamente o centro da questão, ao enviar uma mensagem de impunidade.

    (Texto traduzido, clique aqui e leia o original em inglês.)