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    Entrega de ajuda humanitária para Gaza será adiada, dizem fontes

    Palestinos enfrentam pioras nas condições enquanto passagem de Rafah continua fechada

    Jessie YeungTara Johnda CNN

    O fornecimento de ajuda humanitária destinada aos civis de Gaza permanece parado, à medida que aumentam as preocupações sobre o rápido agravamento das condições da população presa no enclave que está sitiado.

    Várias fontes disseram à CNN na última quinta-feira (19) que não se espera mais que a passagem de Rafah seja reaberta nesta sexta-feira (20) para um primeiro comboio de ajuda.

    “Eu não apostaria dinheiro que aqueles caminhões passariam amanhã”, disse à CNN uma fonte familiarizada com as discussões, explicando que a situação era “volátil”.

    A situação permanece fluida, segundo disseram autoridades dos EUA. São necessárias reparações nas estradas no lado egípcio da travessia e há preocupações em garantir que as entregas possam continuar e não sejam apenas pontuais.

    A população de Gaza teve o fornecimento de eletricidade, alimentos, combustível e água cortados durante mais de uma semana, sob um “cerco total” ordenado por Israel após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro.

    O bombardeio implacável de aviões de guerra israelenses deixou centenas de milhares de desalojados e provocou protestos crescentes em todo o Oriente Médio, aumentando os receios de que a guerra possa evoluir para um conflito regional mais amplo.

    Um acordo entre o Egito e Israel para permitir ajuda a Gaza foi fechado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, na quarta-feira (18).

    Falando após sua a Israel, Biden disse que o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, concordou em abrir a passagem de Rafah para Gaza para ajuda humanitária – a única que não é controlada por Israel.

    Ele também declarou que as primeiras entregas eram esperadas para esta sexta-feira, embora essa data agora pareça incerta. Autoridades dos EUA ainda dizem que o primeiro comboio de caminhões que transportam ajuda humanitária do Egito para Gaza cruzará a fronteira neste fim de semana, possivelmente neste sábado (21).

    David Satterfield, enviado especial dos EUA para questões humanitárias no Oriente Médio, estava “no terreno negociando com os israelenses” sobre a entrega de ajuda, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matt Miller.

    Mas não está claro qual o impacto que a entrega inicial pode causar.

    Apressar a ajuda a Gaza será “uma maratona absoluta”, disse à CNN o Dr. Richard Brennan, diretor regional de Emergência da Organização Mundial de Saúde para a Região do Mediterrâneo Oriental, acrescentando que há “muitas complexidades para dar andamento a esta operação de ajuda”.

    O objetivo é distribuir até 100 caminhões de ajuda por dia, explicou Brennan.

    O combustível não está incluído entre os suprimentos, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva.

    “O combustível também é necessário para geradores hospitalares, ambulâncias e usinas de dessalinização – e pedimos a Israel para adicionar combustível aos suprimentos vitais autorizados a entrar em Gaza”, acrescentou Tedros.

    Falando do Egito, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apelou a um cessar-fogo humanitário, pedindo ao Hamas para libertar os 200 reféns que capturou durante o seu ataque a Israel.

    Guterres também apelou a Israel para permitir o “acesso imediato e irrestrito à ajuda humanitária para responder às necessidades mais básicas do povo de Gaza”.

    Israel continua em guerra enquanto se prepara para uma possível operação terrestre.

    O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse às tropas reunidas não muito longe da Faixa de Gaza na quinta-feira que “em breve verão” o enclave “por dentro”, de acordo com um comunicado de imprensa de seu gabinete.

    VÍDEO – Israel: Tropas vão ver Gaza “de dentro” em breve”

    “Não há vida agora”

    Israel mantém um bloqueio aéreo, terrestre e marítimo a Gaza há quase 17 anos, o que significa que a faixa está quase totalmente isolada do resto do mundo.

    As condições já eram terríveis antes da guerra – e estão pioraram rapidamente depois de Israel ter cortado o fornecimento de eletricidade, alimentos, água e combustível a Gaza, na sequência do ataque do Hamas, o grupo radical islâmico que controla a faixa.

    Essa onda de assassinatos e sequestros matou cerca de 1.400 pessoas em Israel, a maioria civis, naquele que foi descrito como o pior massacre de judeus desde o Holocausto.

    Nos dias seguintes, os ataques aéreos israelenses mataram mais de 3.700 pessoas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas. Mais de 1.000 crianças estavam entre os mortos.

    A única central eléctrica do enclave parou de funcionar há mais de uma semana, forçando civis e hospitais a depender de geradores de energia para obter eletricidade. Entretanto, os suprimentos de combustível estão em níveis perigosamente baixos.

    No centro de Gaza, imagens da CNN mostraram longas filas em frente a um posto de gasolina em Deir Al-Balah na quinta-feira.

    O posto de gasolina aproveitou suas reservas de gasolina para os residentes encherem seus galões de gasolina. O proprietário disse a um produtor da CNN que quando as reservas acabarem não haverá mais combustível.

    Os moradores também afirmaram que muitos supermercados já não conseguem fornecer alimentos, uma vez que não têm forma de substituir os produtos que já vendem.

    “Não há vida agora… É apenas tentar sobreviver. É isso”, disse à CNN um palestino que vive em Gaza e que desejou permanecer em anonimato.

    Ele explicou como as tarefas diárias se tornaram cansativas para os residentes. Muitos esperam na fila até cinco horas para receber pão – embora não seja suficiente para alimentar uma família, conforme citou.

    As agências da ONU alertaram que os armazéns do enclave estão a poucos dias de ficar sem alimentos e que a última central de dessalinização de água do mar de Gaza foi fechada, aumentando o risco de mais mortes, desidratação e doenças transmitidas pela água.

    À medida que ataques aéreos quase constantes atingem a área, hospitais sobrecarregados ficam sem medicamentos e combustível para manter as luzes acesas enquanto os médicos sobrecarregados lutam para salvar vidas.

    Especialistas em direitos humanos da ONU alertaram na quinta-feira que as ações de Israel em Gaza estavam “resultando em crimes contra a humanidade”.

    “Há uma campanha contínua por parte de Israel que resulta em crimes contra a humanidade em Gaza. Considerando as declarações feitas pelos líderes políticos israelenses e seus aliados, acompanhadas pela ação militar em Gaza e pela escalada de detenções e assassinatos na Cisjordânia, existe também um risco de genocídio contra o povo palestino”, prossegue o comunicado.

    VÍDEO – Gaza: crise humanitária piora após explosão em hospital

    Aberto apenas para ajuda

    Localizada no norte do Sinai, no Egito, a passagem de Rafah é a única passagem de fronteira entre Gaza e o Egito. Ela fica ao longo de uma divisa de 12,8 quilômetros que separa Gaza do deserto do Sinai e tem sido rigidamente controlada em cada lado da fronteira há anos.

    A decisão de abrir a passagem ocorreu após vários dias de negociações.

    O Egito negou repetidamente que a passagem tenha sido fechada no seu extremo da fronteira, dizendo que a ajuda tem estado à espera de garantias de que os caminhões que entram não serão alvo de Israel.

    Biden disse que a passagem só estaria aberta para ajuda, não para evacuações – deixando um destino incerto para os 2,2 milhões de palestinos sem saída de Gaza, incluindo cidadãos estrangeiros e de dupla cidadania.

    Israel disse que não bloqueará a ajuda humanitária que chega a Gaza vinda do Egito, de acordo com um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Mas não permitirá a entrada de suprimentos em Gaza a partir do seu próprio território até que o Hamas liberte todos os reféns.

    Na manhã de quinta-feira, pelo menos 30 pessoas foram mortas em ataques aéreos israelenses em diversas áreas de Rafah, de acordo com a agência de notícias oficial palestina WAFA, uma indicação das dificuldades de enviar ajuda pela área.

    Os preparativos para a sua abertura pareciam estar em andamento na quinta-feira, quando as autoridades egípcias foram vistas removendo blocos de cimento na entrada do cruzamento, disseram vários motoristas no cruzamento à CNN.

    Caminhões de ajuda também foram vistos por um jornalista fazendo fila na rodovia perto da fronteira com o Egito.

    Os pedidos de ajuda tornaram-se cada vez mais desesperadores ao longo da última semana, à medida que os palestinos em Gaza fugiam para o sul, atendendo aos avisos de Israel para evacuarem a partir do norte – embora muitos rapidamente tenham descoberto que nenhum lugar era seguro nesta faixa de terra densamente povoada.

    Condições terríveis piorando

    A fúria pública já estava crescendo, especialmente nos países árabes, devido às condições em Gaza. Mas eclodiu depois que uma explosão mortal atingiu o Hospital Batista Al-Ahli, na terça-feira (17), que as autoridades de Gaza disseram ter matado centenas de civis.

    Autoridades palestinas acusaram Israel de atacar o hospital, afirmação que os israelenses negam.

    A inteligência israelense e norte-americana avaliaram que a explosão foi causada por um míssil que falhou no disparo de outro grupo extremista baseado em Gaza.

    A explosão, que ocorreu horas antes de Biden deixar a Casa Branca para a sua viagem ao Oriente Médio, desencadeou uma agitação furiosa dentro da sua administração – e causou o adiamento de um encontro com líderes árabes na Jordânia.

    Com o aumento dos protestos anti-Israel em todo o Oriente Médio, há receio de que outras frentes possam serem abertas, especialmente na fronteira norte de Israel com o Líbano, onde o Hezbollah domina e tem entrado em confrontos crescentes com os militares de israelenses ao longo da última semana.

    O grupo extremista libanês apoiado pelo Irã disse que atacou cinco postos militares israelenses na fronteira com “armas diretas e apropriadas” destruindo parte das suas capacidades técnicas, num comunicado quinta-feira.

    O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), tenente-coronel Jonathan Conricus, disse à CNN na quinta-feira que houve uma “escalada significativa” por parte do Hezbollah, dizendo que o grupo disparou vários mísseis antitanque do Líbano e tentou, sem sucesso, se infiltrar em Israel.

    “O que alguns do Hezbollah estão fazendo agora é arrastar o Líbano para um conflito no qual não tem nada a ver e do qual certamente não se beneficiará”, disse Conricus.

    Veja também: Veja o momento em que hospital em Gaza é atingido por ataque

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