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    Entenda por que as tensões entre Palestina e Israel aumentaram

    Desde a última quarta-feira, quando policiais israelenses invadiram a mesquita de al-Aqsa, houve escalada na violência, com bombardeios e ataques terroristas

    Nadeen Ebrahimda CNN*

    Israel informou que havia atacado alvos do grupo militante palestino Hamas no sul do Líbano e em Gaza na primeira hora da última sexta-feira (7), depois de ser atacado por dezenas de foguetes a partir do sul do Líbano contra o seu território. O Exército israelense atribuiu a ação a militantes palestinos.

    O número de foguetes disparados do Líbano foi o maior desde 2006, mas não se relatou vítimas mortais dos ataques nem em Gaza, nem em Israel, nem no Líbano.

    No entanto, a situação sobre o terreno continua tensa. Também na sexta-feira um tiroteio na Margem Ocidental do Rio Jordão, dirigido contra um grupo de colonos, atingiu duas irmãs e feriu gravemente sua mãe no que a polícia israelense descreveu como um “ataque terrorista”. O Hamas e a Jihad Islâmica elogiaram o que descrevem como uma “operação heroica”. A violência deste ano tem lugar em um momento delicado tanto para israelenses quanto para os palestinos. Os muçulmanos estiveram celebrando o mês sagrado do Ramadã, enquanto os judeus celebravam a Páscoa Judaica.

    A violência também se desenrolou enquanto Israel lida com as consequências de uma controversa reforma judicial, que foram interrompidas, deixando o país profundamente dividido.

    Saiba como se desenvolveu a situação e por que a violência deste ano é especialmente preocupante:

    Quem controla o que está em Jerusalém?

    A região da mesquita de al-Aqsa, conhecido pelos muçulmanos como Al Haram Al Sharif, é o terceiro lugar mais sagrado do Islã e o mais sagrado do judaísmo, conhecido pelos judeus como Monte do Templo.

    A mesquita de al-Aqsa e o complexo que a rodeia se encontram na Cidade Antiga, no setor oriental de Jerusalém, que a maior parte da comunidade internacional considera estar sob ocupação israelense. Israel capturou Jerusalém Oriental em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, e considera que tanto esta parte quanto a porção Ocidental fazem parte de sua “capital eterna”.

    Um acordo de status quo entre Israel e Jordânia regula os lugares santos muçulmanos e cristãos da região. Mas os detalhes mudam constantemente, afirma Mairav Zonszein, analista sobre a questão Israelo-Palestina do International Crisis Group, um grupo de reflexão com sede em Bruxelas.

    Os muçulmanos consideraram que as incursões da polícia israelense na mesquita de al-Aqsa foram uma grande provocação e causaram uma escalada violenta na passagem. A guerra de 2021 entre Hamas e Israel desencadeou-se em parte por uma incursão israelense na mesquita de al-Aqsa.

    Israel realiza ataques contra a Cidade de Gaza, em represália a foguetes disparados do Líbano / Ashraf Amra/Anadolu Agency via Getty Images

    Segundo o acordo de status quo, a Jordania detém o controle do recinto. Mas a polícia israelense controla Jerusalém Oriental, e Zonszein afirmou que as incursões israelenses no recinto aumentaram desde a Segunda Intifada Palestina, no ano 2000.

    Francesca Albanese, relatora especial da ONU sobre os Territórios Palestinos Ocupados, declarou à CNN que a polícia israelense levou muitos anos realizando operações na zona, especialmente durante o Ramadã, com frequência e intensidade variáveis.

    A diferença neste caso é que vem se produzindo um clima de níveis recorde de violência entre israelenses e palestinos, com o aumento de retórica incendiaria contra os palestinos por parte de alguns ministros de ultra-direita do governo israelense.

    Por que irrompeu a polícia israelense na mesquita de al-Aqsa?

    Os apelos para que os muçulmanos permanecessem na mesquita durante a noite aumentaram depois de os judeus extremistas animarem os judeus a subirem ao recinto e sacrificarem cabras como parte do antigo ritual da Páscoa Judaica, que não se praticava na atualidade.

    A polícia israelense disse que irrompeu em al-Aqsa na quarta-feira (5) depois que “profanadores da mesquita se entrincheiraram” em seu interior.

    “A intenção deles era criar distúrbios violentos, em particular contra os visitantes do Monte del Templo nas horas da manhã”, disse na quinta-feira (6) um porta-voz da polícia, referindo-se aos não-muçulmanos, que têm a permissão de visitar o local, mas não de rezar ali, em virtude do acordo do status quo. Alguns membros do atual governo israelense fizeram uma campanha para permitir que os juízes revisem os termos.

    Vídeos divulgados em redes sociais mostram policiais israelenses golpeando fiéis muçulmanos que gritavam. Testemunhos presenciais declaram na CNN que a polícia também arrombou janelas e portas, além de disparar gás lacrimogênio e balas de borracha.

    A notícia causou indignação nos Estados Árabes e foi criticada pelos aliados de Israel, incluindo os Estados Unidos.

    Embora o direito internacional não reconheça a jurisdição de Israel sobre Jerusalém Oriental e o acordo de status quo proíba a entrada de Israel na mesquita de al-Aqsa, o país tenta em repetidas ocasiões proibir as orações muçulmanas noturnas.

    Não existe nenhum relato explícito de restrição ao culto noturno na mesquita, mas um porta-voz da polícia israelense, Dean Elsdunne, declarou à CNN que “não permite que os muçulmanos fiquem no recinto durante as horas noturnas”.

    Zonszein disse que Israel afirma que existe “entendimentos (com os controladores jordanianos) sobre não pernoitar”.

    É costume que os muçulmanos realizem orações noturnas nas mesquitas durante o Ramadã, em um ritual conhecido como “i’tikaf”.

    “Com os anos (o i’tikaf) se converteu em uma ferramenta a mais no conflito”, disse Zonszein. “Israel começou a restringi-lo quando descobriu que era uma forma de os palestinos provocarem atritos com os judeus israelenses”.

    Embora seja costume fazê-lo principalmente nos últimos dez dias do Ramadã, o “i’tikaf” pode ser praticado em qualquer momento do ano e não está restrito ao mês sagrado, disse o xeique Ikrima Sabri, imã da mesquita de al-Aqsa e ex-grão-mufti de Jerusalém.

    Os meios de comunicação israelenses informam que a polícia proibirá aos muçulmanos o acesso ao recinto durante os 10 últimos dias do Ramadã, em consonância com os anos anteriores.

    Apesar da violência na quarta-feira, o Waqf, organismo designado pela Jordania que administra os lugares santos muçulmanos de Jerusalém, declarou que a mesquita de al-Aqsa “não fechou nem fechará suas portas” a quem realiza as orações de “i’tikaf” durante o Ramadã, nem de noite e nem de dia. Sabri afirmou que os horários de oração são prerrogativas exclusivas das autoridades muçulmanas do lugar.

    Francesca Albanese, da ONU, declarou que, segundo o acordo de status quo, o Waqf Islâmico de Jerusalém, sob controle jordaniano, “é a única autoridade reconhecida responsável pela gestão do local”.

    Ataque deixa um morto e seis feridos em Tel Aviv / Reprodução/CNN

    O que acontecerá depois?

    Até o momento, os ataques de Israel contra Gaza e o Líbano são considerados relativamente moderados em comparação com sua resposta em 2021 e anos anteriores, em que os ataques com salva de foguetes contra Jerusalém foram muito mais agressivos.

    Enquanto as ameaças à segurança unem tradicionalmente os israelenses e mascaram as divisões internas, alguns dizem que uma escalada muito grande pode desencadear o efeito contrário ao governo israelense.

    “Chuck Freilich, ex-vice-conselheiro de Segurança Nacional de Israel e investigador principal do Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS) de Israel, afirmou que, embora uma tensão limitada possa desviar a atenção da controvérsia sobre a reforma judicial, uma escalada maior poderia causar danos à imagem de Netanyahu, especialmente durante as festividades de Páscoa.

    A resposta de Netanyahu não é produzida apenas em meio à agitação interna, mas também sob tensas relações com os Estados Unidos e os aliados do Golfo, disse Freilich. Ele concorda que Netanyahu foi geralmente conhecido por ser cauteloso no uso da força militar.

    “A esperança é que (o governo) pode desescalar, mas não estou seguro de que o conseguirá”, disse, acrescentando que pode estar no interesse do Hamas e do Hezbollah do Líbano, ambos respaldados pelo Irã, inimigo de longa data de Israel, para “tomar vantagem da desorganização de Israel”.

    “Existe a possibilidade de que isso se intensifique ainda mais em um momento em que Israel está profundamente dividido a nível interno”, disse.

    * Informações adicionais de Abeer Salman e Amir Tal em Jerusalém, Lauren Izso em Tel Aviv e Ibrahim Dahman em Gaza

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