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    Entenda o que pode acontecer com soldado dos EUA que cruzou fronteira da Coreia do Norte

    Soldado pode estar sob custódia norte-coreana e ser usado para frear exercícios militares norte-americanos na Coreia do Sul

    Brad Lendonda CNN , Seul

    Pela primeira vez em décadas, acredita-se que um soldado dos Estados Unidos esteja sob custódia norte-coreana. Esse é um cenário que pode causar uma dor de cabeça diplomática para os Estados Unidos — que, ao lado de sua aliada Coreia do Sul, tenta manter a pressão sobre Pyongyang enquanto a nação isolada intensifica seus testes de mísseis balísticos e sua retórica belicosa.

    O exército norte-americano identificou o soldado que cruzou a linha de demarcação para a Coreia do Norte na terça-feira (18) como Soldado Travis King.

    Aqui está o que sabemos até agora:

    Quais são os riscos para Travis King?

    King está agora nas mãos de um regime de partido único notoriamente autocrático e opaco que considera os Estados Unidos um inimigo mortal.

    O valor de inteligência militar que King poderia fornecer à Coreia do Norte é incerto. Como soldado raso, ele provavelmente não teria acesso a informações de alto nível, mas apenas por estar em uma instalação militar norte-americana, ele pode falar sobre coisas como layouts de bases ou quais unidades e número de tropas estão lá.

    Mas como soldado e cidadão americano, King também dá a Pyongyang uma moeda de troca potencialmente poderosa.

    Travis King foi identificado como o soldado norte-americano que atravessou a fronteira da Coreia do Norte / Reprodução/Facebook

    O Comando das Nações Unidas, que supervisiona as operações na área desmilitarizada, disse que estava o exército norte-coreano “para resolver este incidente”. O que a Coreia do Norte pode exigir para devolver King à custódia dos EUA é desconhecido.

    Ou a Coreia do Norte poderia usar King para fins de propaganda.

    Um punhado de soldados americanos desertou para o lado norte-coreano nas décadas após o fim da Guerra da Coréia, mas não houve uma deserção recente.

    E não está claro no momento quais eram as intenções de King.

    Mesmo assim, houve muitos casos mais recentes em que cidadãos americanos se desgarraram na Coreia do Norte ou foram mantidos sob custódia, às vezes por longos períodos de tempo, enquanto autoridades americanas tentavam garantir sua libertação e Pyongyang tentava extrair concessões.

    Entenda o caso

    Oficiais militares dos EUA dizem que King “deliberadamente e sem autorização” cruzou para a Coreia do Norte enquanto fazia um tour civil pela Área de Segurança Conjunta — uma pequena coleção de edifícios dentro da zona desmilitarizada de 240 km que separa os dois países desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953.

    “Acreditamos que ele está atualmente sob custódia (Coreia do Norte) e estamos trabalhando com nossos colegas (Coreia do Sul) para resolver este incidente”, disse o porta-voz das Forças dos EUA na Coreia, coronel Isaac Taylor, em um comunicado.

    Por que isso importa?

    As relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte estão tensas há décadas, mas as coisas estão particularmente difíceis agora.

    As tensões entre Pyongyang e Washington têm aumentado, à medida que o Norte intensificou seus programas nuclear e de mísseis nos anos seguintes a um colapso nas negociações entre o ex-presidente norte-americano, Donald Trump, e o norte-coreano Kim Jong Un em 2019.

    Essas conversas, que duraram três reuniões pessoais e viram Trump se tornar o primeiro presidente dos EUA em exercício a ultrapassar a mesma linha de demarcação que King cruzou na terça-feira, terminaram sem avanços diplomáticos significativos.

    Até o momento, a Coreia do Norte testou mísseis balísticos intercontinentais três vezes este ano e acusou Washington e Seul de inflamar as tensões com exercícios militares, incluindo o de um submarino de mísseis balísticos com capacidade nuclear da Marinha dos EUA para o porto sul-coreano de Busan nesta semana.

    No ano passado, a Coreia do Norte testou mais de 90 mísseis de cruzeiro e balísticos, incluindo um que sobrevoou o Japão, desafiando as sanções internacionais. O aumento nos testes gerou preocupações de que o país pode estar se preparando para um possível teste nuclear — o primeiro desde 2017.

    Os Estados Unidos não têm relações diplomáticas oficiais com a Coreia do Norte. Em vez disso, a Embaixada da Suécia em Pyongyang atua como uma ligação para os EUA.

    O que aconteceu no passado?

    O último americano conhecido a ser detido pela Coreia do Norte foi Bruce Byron Lowrance, que, segundo a mídia estatal norte-coreana, cruzou da China para a Coreia do Norte.

    Pyongyang acusou Lowrance de trabalhar para a Agência Central de Inteligência, mas o libertou cerca de um mês depois que ele foi preso, com a Embaixada da Suécia na Coreia do Norte facilitando a libertação.

    O caso recente mais famoso de um americano detido na Coreia do Norte foi o de Otto Warmbier, um estudante universitário americano que foi para lá como turista em 2016.

    Sua estada planejada de cinco dias se transformou em uma detenção de 17 meses depois que ele foi acusado de tentar roubar uma faixa política de seu hotel.

    Warmbier foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados pela acusação, mas foi liberado para autoridades americanas em 2017. No entanto, a condição física de Warmbier era ruim, com Washington dizendo que ele havia sido torturado sob custódia.

    Ele morreu menos de uma semana após retornar aos Estados Unidos com graves danos cerebrais.

    Talvez o caso mais famoso de um militar norte-americano cruzando para a Coreia do Norte tenha sido o de Charles Jenkins, um sargento que entrou no país em 1965 enquanto estava estacionado em uma unidade militar dos EUA perto da zona desmilitarizada.

    Jenkins mais tarde afirmou ter se arrependido de sua deserção e culpou o álcool pela decisão.

    Enquanto estava na Coreia do Norte, ele apareceu em filmes de propaganda, ensinou inglês a espiões norte-coreanos e passou até oito horas por dia estudando os escritos dos líderes norte-coreanos.

    Ele foi autorizado a deixar a Coreia do Norte em 2004, dois anos depois que sua esposa, uma cidadã japonesa que foi sequestrada de sua casa no Japão em 1978, foi autorizada a deixar a Coreia do Norte sob um acordo entre Pyongyang e Tóquio.

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