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    Enchentes, incêndios florestais e urgência: a crise climática em 2021

    Cientistas alertam que desastres naturais estão ficando mais fortes e frequentes

    Rachel RamirezBrandon MillerBill Weirda CNN

    A crise climática teve um impacto catastrófico em todo o mundo em 2021. Do Ártico à Louisiana, passando pela província chinesa de Henan, sinais de que a mudança no clima já está alterando nosso planeta estavam por toda parte.

    Nos Estados Unidos, enchentes históricas isolaram e mataram pessoas em porões submersos. No Canadá, uma cidade inteira foi destruída por um incêndio florestal alimentado por calor extremo. A chuva caiu no ponto mais alto da Groenlândia pela primeira vez.

    Com o aumento dos desastres climáticos, o mundo se alinhou em torno do combate à crise: os cientistas publicaram um relatório marcante que concluiu que os humanos são inequivocamente os culpados.

    O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reinseriu o país no Acordo de Paris nos primeiros dias de seu governo, e líderes mundiais se reuniram na cúpula do clima da ONU em Glasgow, Escócia, para negociar soluções.

    Mas as promessas não foram cumpridas em 2021, e os humanos estão emitindo gases do efeito estufa na atmosfera que aquecem o planeta do que nunca. Especialistas agora alertam que a Terra está atualmente no caminho para o aumento de 2,40°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais, muito além o limite crítico de 1,50°C, que os cientistas dizem que devemos ficar abaixo.

    Os desastres deste ano são a prova de que a crise climática está se intensificando e que a janela está se fechando rapidamente para reduzir nossa dependência dos combustíveis fósseis e evitar mudanças que transformariam a vida como a conhecemos.

    “O que consideramos mudança climática agora está se tornando muito pessoal”, afirmou Jennifer Marlon, cientista climática da Escola de Meio Ambiente de Yale, à CNN. “Não está mais distante. Agora, está em nosso jardim da frente, está em nossos quintais, está em nossos porões, está até em nossos pulmões enquanto respiramos a fumaça dos incêndios florestais”.

    A seguir, das 10 principais histórias sobre clima e tempo em 2021.

    10. Chuva histórica em cume da Groenlândia

    Em agosto, a precipitação no pico tipicamente nevado da Groenlândia caiu como chuva pela primeira vez.

    As temperaturas no ponto mais alto da Groenlândia (cerca de três quilômetros acima do nível do mar) subiram acima de zero pela terceira vez em menos de uma década, por volta de 15 de agosto.

    A precipitação caiu como chuva e despejou 7 bilhões de toneladas de água no manto de gelo – suficiente para encher o famoso espelho d’água no National Mall, em Washington, DC, quase 250 mil vezes.

    O sol se põe enquanto a chuva cai além do gelo flutuante e dos icebergs na Baía de Disko, acima do Círculo Polar Ártico, em 4 de setembro de 2021 / Mario Tama/Getty Images

    Foi a chuva mais forte na camada de gelo desde o início dos registros, em 1950, de acordo com o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo. Os cientistas dizem que isso ocorrerá com mais frequência.

    Um estudo recente afirmou que espera-se que a região do Ártico experimente mais chuva do que neve em algum momento entre 2060 e 2070, marcando uma importante transição em seus padrões de precipitação à medida que o planeta aquece.

    “As coisas que acontecem no Ártico não ficam circunscritas ao Ártico”, pontuou à CNN Michelle McCrystall, pesquisadora do clima da Universidade de Manitoba em Winnipeg. “O fato de que poderia haver um aumento no degelo do permafrost ou um aumento no nível global do mar é um problema global e precisa de uma resposta global”, complementou.

    9. Texas congelado

    Fevereiro trouxe um congelamento intenso histórico ao Texas, que também foi sentido em grande parte das Planícies Centrais e no sudeste dos EUA, e mostrou como a crise climática pode produzir extremos quentes e frios.

    Uma terrível tempestade de inverno varreu o centro dos Estados Unidos na semana de 15 de fevereiro e se fortaleceu no Texas, um estado mal equipado para lidar com neve, por vários dias. A geração de eletricidade parou, e cerca de 4 milhões de pessoas ficaram sem energia.

    Na época, o governador Greg Abbott culpou as falhas de energia nas turbinas eólicas e painéis solares congelados, embora o setor de energia de combustíveis fósseis do estado tenha sido, em última análise, o culpado pela crise energética.

    Água congelada em placa no Texas, 18 de fevereiro de 2021
    Água congelada em placa no Texas, 18 de fevereiro de 2021 / Foto: Joe Raedle / Getty Images

    O Departamento de Serviços de Saúde do Estado do Texas relatou que o inverno extremo matou mais de 200 pessoas. No entanto, um análise independente feita pelo site de notícias Buzzfeed eleva o número de mortes entre 500 e 1.000.

    O prejuízo também se revelou catastrófico. O gabinete de controladoria do Texas relatou a tempestade pode ter custado ao estado até US$130 bilhões (cerca de R$ 734 bilhões) e incentivado a “climatização” de sua infraestrutura de energia.

    8. Inundações fatais em três continentes

    Em poucas semanas, inundações repentinas, destrutivas e fatais devastaram partes da Europa Ocidental, a província chinesa de Henan e o estado do Tennessee, EUA.

    Em meados de julho, severas inundações mataram mais de 200 pessoas na Alemanha e na Bélgica. Vastas faixas da Europa registraram chuvas de 24 horas de aproximadamente entre 100 e 150 milímetros, o que é mais do que a média de um mês de chuva na área.

    O World Weather Attribution, um grupo de cientistas que estabelece a ligação entre as mudanças climáticas e o tempo, afirmou que o recorde de chuvas tem nove vezes mais chance de ter acontecido devido às mudanças climáticas causadas pelo homem.

    Carros danificados pararam em uma estrada lamacenta na entrada de um túnel de via expressa em 22 de julho de 2021 em Zhengzhou, província de Henan na China / VCG via Getty Images

    Na China, as enchentes que atingiram a província de Henan mataram mais de 300 pessoas. Zhengzhou, a capital da província com 12 milhões de habitantes, foi uma das áreas mais atingidas. Bairros inteiros ficaram submersos, passageiros ficaram presos em vagões de metrô inundados, agarrados às barras do teto para se manterem acima da água.

    De volta aos Estados Unidos, uma quantidade impressionante de chuva levou a uma inundação repentina no Tennessee que destruiu mais de 270 casas e matou mais de 20 pessoas pessoas, incluindo gêmeos de 7 meses.

    As autoridades estaduais de gerenciamento de emergência não estavam preparadas para a magnitude do evento. O corte nas linhas telefônicas, juntamente a destruição das ruas e estradas, dificultaram o acesso à zona de inundação.

    7. EUA voltam ao Acordo de Paris

    Em janeiro, poucas horas depois de ser empossado, Biden assinou um decreto presidencial para reingressar ao pacto climático global conhecido como Acordo de Paris, do qual o ex-presidente Donald Trump havia retirado os Estados Unidos durante seu mandato.

    Em abril, Biden se comprometeu a cortar as emissões de gases de efeito estufa dos EUA pela metade até 2030, em parte para compensar a renovação da adesão do país ao acordo.

    O presidente Joe Biden assina seus primeiros decretos executivos no Salão Oval da Casa Branca, em 20 de janeiro de 2021, em Washington / Evan Vucci/AP

    No Acordo de Paris, espera-se que os países acompanhem e aprimorem seus compromissos de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa a cada cinco anos.

    O principal objetivo dos acordos climáticos é colocar uma tampa no aquecimento global bem abaixo de 20°C acima dos níveis pré-industriais, com um limite ideal de 1,50°C grau.

    No entanto, as Nações Unidas afirmam que ainda há um enorme lacuna entre o que foi prometido e o que os cientistas dizem ser necessário para reduzir as emissões.

    6. Relatório da ONU: um ‘alerta vermelho’

    A cada seis ou sete anos, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) publica um relatório que resume o estado da pesquisa climática.

    O último relatório do painel veio em agosto, e seus autores concluíram que é “inequívoco” que os humanos causaram a crise climática e que já ocorreram “mudanças generalizadas e rápidas”, algumas delas irreversíveis.

    O secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou o relatório “um alerta vermelho para a humanidade”.

    Vapor sobe da usina a carvão Neurath durante a pandemia de coronavírus em 11 de fevereiro de 2021 perto de Bergheim, Alemanha / Getty Images

    Os cientistas disseram que o planeta aqueceu rapidamente em mais de 10°C acima dos níveis pré-industriais, e agora está avançando em direção a 1,50°C – um limite crítico que acordado pelos líderes mundiais como crucial para evitar o agravamento dos impactos.

    Para interromper a tendência de aceleração, os cientistas dizem que os países devem fazer cortes profundos nas emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, remover o dióxido de carbono da atmosfera.

    5. Um encontro crítico em Glasgow

    Líderes mundiais se reuniram em Glasgow, em novembro, para a cúpula sobre mudança climática mediada pela ONU, conhecida como COP26.

    Depois de quase duas semanas de negociações sobre como limitar o aquecimento global, quase 200 países assinaram o Pacto Climático de Glasgow, que incluiu o primeiro reconhecimento do papel que a queima de combustíveis fósseis desempenhou na perpetuação da crise climática.

    Cinegrafista em frente ao logo da COP26 durante entrevista coletiva em Glasgow 05/11/2021 REUTERS/Phil Noble / CNN/Reprodução

    Embora o pacto final tenha mostrado algum progresso, o texto não refletiu a urgência pedida pelos cientistas. Os países concordaram em “reduzir gradualmente” o uso de carvão que não compensa emissões para geração de energia, em vez de eliminá-lo completamente.

    Os países em desenvolvimento também ficaram desapontados depois que as negociações em torno do financiamento do clima (ou seja, financiamento de nações ricas para ajudar os países de baixa renda a lidar com a crise) fracassaram.

    4. Furacão Ida

    No final de agosto, o furacão Ida, de categoria 4, destruiu casas, arrancou árvores e cortou de energia de mais de 1 milhão de clientes no Mississippi e no estado da Louisiana já devastados por tempestades.

    O Ida cumpriu todos os itens de como a mudança climática está tornando os furacões mais perigosos, de acordo com os cientistas: eles estão trazendo mais chuva, movendo-se mais lentamente quando chegam à terra firme e gerando maiores ondas de tempestade.

    Mas o impacto não terminou na Costa do Golfo. Conforme a avançou para o interior, os restos do Ida desencadearam inundações repentinas no nordeste dos EUA. A tempestade quebrou o recorde de chuva em uma hora no Central Park, em Nova York, e deu a Newark, New Jersey, seu dia mais chuvoso de todos os tempos.

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    A inundação matou dezenas de pessoas na região. Muitas morreram afogadas em apartamentos subterrâneos na cidade de Nova York. Alguns sobreviventes do Ida na cidade ainda estão desabrigados. A tempestade expôs a necessidade extrema de fortalecer a infraestrutura da cidade contra o agravamento da crise climática.

    Os danos do furacão Ida custaram pelo menos US$60 bilhões (cerca de R$339 bilhões), segundo estimativas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), e excederam o custo combinado dos sete ciclones tropicais mais prejudiciais de 2020.

    3. Onda de tornados em dezembro

    No final de um ano já repleto de condições climáticas extremas, uma série de tornados varreu o meio oeste e sudeste dos Estados Unidos, em 12 e 13 de dezembro. O último mês do ano é normalmente o mais calmo em relação a tornados, mas as temperaturas amenas trouxeram uma reviravolta histórica.

    No Kentucky, arrancaram árvores, destruíram casas e mataram dezenas de pessoas. O governador Andy Beshear disse em uma entrevista coletiva que o tornado atingiu um “nível de devastação diferente de tudo” que ele já havia visto.

    Destruição provocada por tornado em Dawson Springs, Kentucky / REUTERS/Jon Cherry

    Embora não esteja completamente claro que papel a mudança climática desempenhou na onda se dezembro, os cientistas dizem que as impressões digitais do aquecimento global podem ser encontradas em todos os eventos climáticos extremos.

    Victor Gensini, professor da Universidade do Norte do Illinois e renomado especialista em tornados, disse que a onda é um dos mais notáveis eventos de tornados da história dos Estados Unidos.

    “Quando se coloca muitos desses eventos juntos, e se olha para eles de forma agregada, as estatísticas são bastante claras, pois houve uma espécie de mudança – uma troca – de onde a maior frequência de tornado está acontecendo”, disse Gensini à CNN. “Esses eventos estão se tornando talvez mais fortes, mais frequentes e também mais variáveis”.

    2. Onda de calor do noroeste do Pacífico

    Uma onda de calor inédita no final de junho matou centenas de pessoas no noroeste do Pacífico e na Columbia Britânica. As temperaturas recorde de todos os tempos foram estabelecidas em toda a região. Os cientistas dizem que a onda de calor teria sido “virtualmente impossível” sem mudança climática causada pelo homem.

    Especialistas disseram à CNN a região normalmente de clima temperado não está preparada para eventos extremos de calor, com muitos residentes sem aparelhos de ar-condicionado. Como resultado, centenas de pessoas morreram de doenças relacionadas ao calor. As autoridades mais tarde chamaram a onda de calor de evento de mortalidade em massa.

    A floresta queimada da Rodovia Akamina, Parque Nacional dos Lagos Waterton. Na terça-feira, 5 de outubro de 2021, em Waterton, Alberta, CanadáOn Tuesday, 5 October 2021, in Waterton, Alberta, Canada. (Photo by Artur Widak/NurPhoto via Getty Images) / NurPhoto via Getty Images

    Na Columbia Britânica, Canadá, a mesma onda de calor alimentou um incêndio florestal que se moveu rapidamente destruiu a cidade de Lytton apenas um dia depois. A temperatura atingiu 490°C e quebrou o recorde histórico de temperatura do país.

    1. Seca, incêndios florestais e escassez de água

    Em meio aos desastres agudos, o oeste dos Estados Unidos está sofrendo com uma seca histórica, há anos não vista, que os cientistas dizem ser um sinal claro de como a crise climática está afetando não apenas o clima, mas o abastecimento de água, a produção de alimentos e a geração de eletricidade.

    Na Califórnia, a seca deste verão foi a mais extrema nos registros de 126 anos, com julho de 2021 como o mês mais seco desde o início da coleta de dados no estado em 1895. Em agosto, mais de 95% do oeste estava em condições de seca.

    Uma casa é envolta em chamas no incêndio do complexo de Beckwourth, em Doyle, Califórnia, em 10 de julho de 2021 / Noah Berger/AP

    O Lago Mead e o Lago Powell (dois dos maiores reservatórios do país) drenaram a taxas alarmantes após um inverno seco e uma seca extrema no verão. Em agosto, o governo federal declarou falta de água no Rio Colorado pela primeira vez, provocando cortes obrigatórios no consumo de água para estados do sudoeste a partir de 2022.

    A megasseca também preparou a paisagem para incêndios florestais perigosos. Os três maiores incêndios de 2021 – chamados de Bootleg, Dixie e Caldor Fires – queimaram cerca de 650 mil hectares. Ventos fortes espalharam a fumaça de alguns desses incêndios em todo o país. Eles foram sentidos da costa oeste à Nova York.

    Os cientistas dizem que o verão de 2021 foi apenas uma prévia do que está por vir: o relatório de agosto das Nações Unidas concluiu que secas que podem ter ocorrido apenas uma vez a cada década agora acontecem com 70% mais frequência.

    Hudson Jones, Haley Brink e Taylor Ward, da CNN, contribuíram para esta reportagem

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