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    Em meio a tensões com a Rússia, presidente da Ucrânia visita zona de conflito

    Presença de tropas russas próximas à fronteira ucraniana colocaram o país em alerta

    Matthew Chance, , da CNN

    Afundado até os tornozelos em uma espessa lama negra, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky se move furtivamente com suas tropas em fila única através do labirinto de trincheiras e túneis que formam as tensas linhas de frente no leste da Ucrânia.

    A cena lembra mais o início do século 20 do que um conflito moderno. Ao redor do mandatário, soldados cansados e nervosos seguram rifles enquanto chegam em terreno aberto e examinam a área em busca de movimento. 

    Eles sabem que atiradores, provavelmente treinados por russos, dizem que as autoridades ucranianas estão procurando uma chance de atirar. Mais de 20 dos seus colegas já foram mortos a tiros neste ano.

    O ambiente é assustadoramente silencioso. Um estalo ocasional de tiro à distância quebra a calma e mantém todos no limite.

    A área fica próxima a Mariupol, no leste da Ucrância, e é um lugar arriscado para o presidente de um país visitar, mas isso não impede Zelensky, que concedeu à CNN um acesso sem precedentes à sua viagem às linhas de frente, de insistir em ir para as posições mais avançadas.

    Volodymyr Zelensky (à esquerda) visita suas tropas
    Volodymyr Zelensky (à esquerda) visita suas tropas na fronteira com a Rússia
    Foto: REUTERS

     

    “Se eu visitar uma base militar, os membros que estão na linha de frente vão ouvir sobre isso e pensar que eu os esqueci”, disse Zelensky à CNN em conversas exclusivas durante dois dias. “Eles precisam saber que têm apoio político.”

    Usando uma jaqueta camuflada e capacete, Zelensky tem que correr pelo campo aberto acompanhado da segurança presidencial para alcançar a cobertura da trincheira.

    Desde que as tropas russas se reuniram do seu lado da fronteira com a Ucrânia, os Estados Unidos e aliados da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) declararam apoio político e militar à Ucrânia. Zelensky instou-os a aumentar o suporte.

    residente ucraniano percorre a frente norte de defesa
    Presidente ucraniano percorre a frente norte de defesa da fronteira com a Rússia
    Foto: REUTERS

    Impasse

    Durante anos, o conflito brutal no leste da Ucrânia, entre forças do governo e separatistas apoiados pela Rússia, foi travado em uma tenssa disputa. Um grande combate, que custou milhares de vidas desde 2014, deu lugar a um impasse. Após a anexação da Crimeia pela Rússia naquele ano, os conflitos eclodiram na região vizinha de Donbas — outra área de fala principalmente russa da Ucrânia com rebeldes que exigem independência da capital Kiev.

     

    Em meio a crescentes tensões com os Estados Unidos e seus aliados ocidentais, as forças russas foram novamente vistas em movimento próximo à fronteira, o que despertou preocupações de que a guerra possa ser reiniciada.

    Um vídeo gravado por celular mostrou tanques blindadas russos em direção ao local. Armas de artilharia foram vistas sendo transportados por via férrea. Movimentos semelhantes também foram relatados na Crimeia.

    Em Moscou, o Kremlin afirma que os movimentos de tropas ocorrem dentro da Rússia, são parte de um exercício militar planejado e não representam ameaça.

    Mas nas linhas de frente, o presidente ucraniano disse à CNN que uma invasão russa é uma possibilidade muito real para a qual o país está se preparando.

    “Claro. Nós sabemos disso, desde 2014 sabemos que pode ser em qualquer dia”, disse ele.

    “Eles estão prontos, mas nós também estamos prontos porque estamos em nossas terras, no nosso território”, completou.

    O tenente-general Ruslan Khomchak, comandante-chefe das forças armadas ucranianas, relata que cerca de 50.000 soldados russos já se reuniram na fronteira russa e na Crimeia. Além disso, ele afirma que há pelo menos 35.000 separatistas apoiados pela Rússia em áreas controladas pelos rebeldes da Ucrânia.

    Mesmo antes do atual aumento preocupante do número de soldados sob o comando de Moscou na fronteira da Ucrânia, o presidente Zelensky pediu aos EUA que lhe vendessem armas, como mísseis antitanques Javelin. Essas munições já foram entregues. 

    O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no domingo que há “preocupações reais” sobre a ação da Rússia. No programa “Meet the Press”, da NBC, Blinken disse: “A questão é: ‘A Rússia vai continuar a agir de forma agressiva e imprudente?’ Se isso acontecer, o presidente (dos EUA) foi claro, haverá custos, haverá consequências. “

    A CNN noticiou na sexta-feira (9) que os EUA estão considerando enviar navios de guerra ao Mar Negro nas próximas semanas, em uma demonstração de apoio à Ucrânia.

    Exército russo faz exercício na região da Crimeia
    Exército russo faz exercício na região da Crimeia, em 19/03/2021
    Foto: Sergei MalgavkoTASS via Getty Images

    Futuro

    Do ar, acima das trincheiras lamacentas, a planície infinita do leste da Ucrânia é pontuada por cidades destruídas por maciços industriais enferrujados das fábricas da era soviética que fizeram desta região devastada pela guerra a espinha dorsal econômica do país.

    Helicópteros militares ensurdecedores, antigos MI-8s, desenvolvidos pela primeira vez durante a era soviética, pintados em camuflagem de combate, voam rápido e baixo sobre o campo para evitar o fogo terrestre. A cada poucos minutos, eles sobem para pular árvores ou linhas de eletricidade e, em seguida, mergulham rapidamente de volta a poucos metros do solo.

    A bordo do velho helicóptero presidencial, que mantém um grau de conforto já gasto, Zelensky grita acima do barulho do motor de como os EUA são um “bom amigo” da Ucrânia, mas que o presidente Biden “deve fazer mais” para deter a Rússia e ajude a pôr fim a este conflito.

    Mais armas, mais dinheiro para lutar e, crucialmente, mais apoio para ingressar na OTAN, a aliança militar ocidental onde um ataque a um membro obriga todos a responder, explicou ele.

    “Se eles [os EUA] veem a Ucrânia na OTAN, terão que dizer isso diretamente, e fazê-lo. Não com palavras”, ressaltou Zelensky.

    Mas as chances de isso acontecer são mínimas, em meio às preocupações de que aproximar a Ucrânia da adesão à OTAN provocaria Moscou, possivelmente alimentando um conflito mais amplo.

    “Talvez você esteja certo”, responde Zelensky.

    “Mas o que está acontecendo agora? O que fazemos aqui? O que nosso povo faz aqui? Eles lutam.”

    Na linha de frente, Zelensky liderou um minuto de silêncio pelos mortos. 

    Com ou sem OTAN, esta é a realidade do seu país. A Ucrânia está em guerra.

    Zahra Ullah e Jasmine Wright da CNN contribuíram para esta matéria. 

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês).

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