Em hospital do Peru, acúmulo de corpos nos corredores e máscaras reutilizadas
País é o segundo da América Latina com maior número de casos da COVID-19, atrás somente do Brasil
Os hospitais no Peru estão com dificuldades para lidar com o rápido avanço da pandemia do novo coronavírus. O cenário inclui corpos deixados nos corredores, máscaras sendo reutilizadas e protestos de funcionários do setor de saúde preocupados com a própria segurança.
O Peru é o segundo país da América Latina com maior número de casos da COVID-19, atrás somente do Brasil, apesar da implementação da quarentena. A capital Lima já contabiliza mais infecções que todo o Chile, terceiro país da região com mais registros da doença.
O número de casos confirmados no território peruano aumentou consideravelmente nos últimos dias, ultrapassando 17 mil nessa terça-feira (21), o dobro da semana anterior. Até o momento, cerca de 500 pessoas morreram.
“Nosso hospital tem capacidade para apenas seis corpos”, afirmou na segunda-feira (20) a líder do sindicato de enfermeiros, Deisy Aguirre, que trabalha no hospital Maria Auxiliadora, em Lima. “Diariamente, temos visto de 13 a 16 corpos espalhados pelo primeiro andar.”
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O Ministro da Saúde do Peru, Víctor Zamora Mesía, disse esperar que o pico da doença seja nos próximos dias.
Falta de equipamentos de proteção
Na segunda-feira, dezenas de trabalhadores protestaram em frente ao Maria Auxiliadora com faixas criticando a falta de equipamentos de proteção. Um médico, que não quis se identificar, mostrou um vídeo em que ao menos quatro corpos ocupavam o corredor do hospital, cobertos por um manto preto ou branco.
A diretora do Maria Auxiliadora, Susana Oshiro, confirmou que, em algumas ocasiões, o número de mortos ultrapassou a capacidade do local. Ela disse também que um congelador, com espaço para 100 corpos, foi comprado para manter os cadáveres até que sejam retirados para cremação.
Contudo, até mesmo a cremação se tornou um problema. As seis empresas que atuam na capital estão excedendo sua capacidade.
O diretor do crematório Santa Rosa, Edgar González, contou que antes da pandemia costumava cremar, em média, 10 corpos por dia. Agora, o número passou para 30.
Máscaras reutilizadas
A falta de equipamentos de proteção preocupa os envolvidos na luta contra a doença. O vice-presidente do Colégio Médico do Peru – o conselho médico peruano -, Ciro Maguiña, afirmou que 237 médicos em todo o país foram infectados com a COVID-19, sendo que nove estão em terapia intensiva com o auxílio de respiradores e um já morreu. Os dados não incluem enfermeiros ou outros profissionais da área de saúde.
Uma enfermeira do Maria Auxiliadora disse que funcionários do hospital estão tendo que usar apenas três máscaras por mês.
Segundo Oshiro, a determinação é apenas para as máscaras N95, que foram distribuídas para os funcionários do hospital envolvidos com os pacientes que contraíram o vírus. Todos os outros receberam máscaras cirúrgicas, afirmou ela.
O primeiro caso do novo coronavírus no Peru foi anunciado no dia 6 de março, levando 25 dias para que o número de infectados chegasse a 1 mil. Apenas 14 dias depois, o total subiu para 10 mil contaminados.
O presidente do Peru, Martín Vizcarra, reconheceu que os hospitais estão operando em capacidade máxima. Durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira, ele disse ter comprado respiradores para auxiliar na qualidade do tratamento intensivo.
(Com Reuters)