Em entrevista, Leopoldo López fala sobre exílio e tentativa de derrubar Maduro
Líder opositor venezuelano culpa presidente do TSJ por fracasso no plano de tirar o mandatário do poder
O líder opositor venezuelano Leopoldo López, que deixou a residência do embaixador da Espanha em Caracas no último fim de semana e viajou a Madrid, falou à CNN sobre o período em que ficou em exílio e a fracassada tentativa de tirar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, do poder em 2019.
Ele culpa o presidente do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) do país, Maikel Moreno, que nega as acusações e qualifica a iniciativa como “um golpe de estado” para “tomar à força o poder político”.
“A proposta era que naquele momento, naquelas semanas nas quais havia uma grande efervescência, houvesse uma grande mobilização, que pudesse haver uma mobilização dos cidadãos, mas que fosse acompanhada por setores militares e policiais. Em função disso, começamos a trabalhar”, disse López.
Assista e leia também:
Venezuela diz ter remédio que ‘inibe 100%’ Covid-19 e busca certificação na OMS
Na Venezuela, igrejas fazem missa no estilo drive-in; veja como funciona
Assembleia da Venezuela aprova lei que concede mais poder a Maduro
“Mas essa não era a única variável. Em paralelo, vinha-se trabalhando em uma sentença que seria aprovada pelo TSJ. Maikel Moreno vinha trabalhando conosco diretamente e por meio de enviados em uma sentença que, um, desmantelava a Assembleia Nacional Constituinte; dois, rejeitava a eleição presidencial de maio de 2018; e três, convocava novas eleições presidenciais”, afirmou ele.
“Essa sentença existe. Foi redigida e Maikel Moreno havia se comprometido que ela seria publicada em 30 de abril, às 10h, 11h da manhã. Aí você me pergunta: o que aconteceu? O que aconteceu é que Moreno não cumpriu.”
López disse que “o elemento da sentença do TSJ que iria acompanhar a manifestação popular com acompanhamento militar e policial não se concretizou”.
Ele destacou também que não conseguiu cumprir o que buscava, “que era ter não somente uma manifestação popular, mas uma crise militar, policial, institucional, que culminaria em um nível máximo de pressão, e bateriam à porta de Maduro para que ele abandonasse definitivamente o poder”.
Repressão
López contou por que decidiu abandonar a Venezuela depois de tantos anos evitando essa saída. Para ele, a ditadura diminuiu tanto sua capacidade de operar que sentia que podia fazer mais estando fora do país.
“As circunstâncias na Venezuela intensificaram muito a repressão em torno de nós, a todos que fazem política, que sonham e trabalham”, disse ele.
“O nível de repressão que existe na Venezuela não se compara a nenhum episódio que tenhamos vivido, e é muito mais cruel do que episódios de ditaduras cruéis do século 20 na América Latina, como a chilena e a argentina.”
López contou ainda que, em Madrid, tem sentimentos opostos. “Eu estava há seis anos sem ver meu pai, quase três anos sem ver minha mãe, quase dois anos sem ver meus filhos. Claro que estar com a minha família me faz muito feliz e muito fortalecido”, afirmou. “Mas confesso que me sinto triste de ter tido que deixar a Venezuela. Sempre disse que não queria deixar a Venezuela.”
Leopoldo López foi condenado a quase 14 anos de prisão em 2015. Ele cumpria prisão domiciliar desde 2017.
(Texto traduzido. Leia o original em espanhol.)