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    Em discurso no G20, Lula promete força-tarefa pelo clima durante presidência do Brasil no grupo

    Em seu primeiro discurso na cúpula de Nova Delhi, presidente disse que países ricos transferem responsabilidades ambientais para o sul global

    Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante chegada a Nova Delhi
    Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante chegada a Nova Delhi Ricardo Stuckert / PR

    Américo Martinsda CNN

    em Nova Delhi, Índia

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu usar a presidência do Brasil no G20, em 2024, para criar uma “força-tarefa para mobilização global contra a mudança do clima”.

    Ele fez a afirmação durante o seu primeiro discurso na Cúpula de Líderes do G20, em Nova Delhi, na Índia.

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    O Brasil assumirá a presidência temporária do bloco em dezembro e vai definir as principais pautas de discussões entre os países pelos 12 meses seguintes.

    Lula não deu maiores detalhes de como tal força-tarefa poderia funcionar e nem que poderes teria. De qualquer forma, tal iniciativa só tomará vida se for aprovada de forma unânime pelos demais membros do grupo das maiores economias do mundo.

    O presidente aproveitou o discurso para também criticar as nações desenvolvidas por suas responsabilidades pelo aquecimento global, já que elas historicamente emitiram muito mais gases de efeito estufa.

    Ele lembrou que os países ricos se comprometeram, na COP de Copenhague, em 2009, a pagar US$ 100 bilhões por ano para ajudar o mundo em desenvolvimento a combater as mudanças climáticas.

    “Essa promessa nunca foi cumprida. De nada adiantará o mundo rico chegar às COPs do futuro vangloriando-se das suas reduções nas emissões de carbono se as responsabilidades continuarem sendo transferidas para o sul global”, disse.

    Lula também defendeu o maior uso de fontes de energia renováveis e do biocombustível.

    No fim da tarde deste sábado (9), ele lançará, ao lado do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e do presidente americano, Joe Biden, a Aliança Global de Biocombustíveis – uma tentativa de promover o etanol e outros combustíveis verdes em mais nações.

    Em uma resposta velada às críticas que recebeu por vir ao G20 sem ter visitado o Rio Grande do Sul devastado por um ciclone tropical, o presidente citou o estado em seu discurso.

    “Agora mesmo no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone que deixou milhares de desabrigados e dezenas de vítimas fatais”, disse depois de descrever como as mudanças climáticas estão impactando o mundo.

    Em um segundo discurso, Lula destacou pretender lançar o que chamou de “aliança global contra a fome” durante a presidência brasileiro do G20.

    “Lançaremos, em nossa presidência do G20, uma aliança global contra a fome. Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno”, afirmou o presidente.

    Segundo a assessoria de imprensa da Presidência, Lula sentiu o fuso horário e está cansado e por isso não vai participar do jantar com os líderes.

    VÍDEO — Lula é criticado por não visitar regiões afetadas por chuvas no Sul

    Leia o discurso de Lula na cúpula do G20 na íntegra:

    “Quando olhou através da escotilha de sua nave, e viu pela primeira vez nosso planeta em toda a sua plenitude, o cosmonauta Yuri Gagarin não conteve o encantamento, e disse: “A Terra é azul”.

    Sete décadas depois, as fotografias enviadas pela Chandrayaan-3 que a Índia pousou recentemente no polo sul da Lua não deixam dúvidas: vista do alto, a Terra continua azul e linda.

    No entanto, o descompromisso com o meio ambiente nos leva a uma emergência climática sem precedentes.

    O aquecimento global modifica o regime de chuvas e eleva o nível dos mares.

    As secas, enchentes, tempestades e queimadas se tornam mais frequentes e minam a segurança alimentar e energética.

    Agora mesmo no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone que deixou milhares de desabrigados e dezenas de vítimas fatais.

    Se não agirmos com sentido de urgência, esses impactos serão irreversíveis.

    Os efeitos da mudança do clima não são sentidos por todos da mesma forma.

    São os mais pobres, mulheres, indígenas, idosos, crianças, jovens e migrantes, os mais impactados.

    Quem mais contribuiu historicamente para o aquecimento global deve arcar com os maiores custos de combatê-la.

    Esta é uma dívida acumulada ao longo de dois séculos.

    Desde a COP de Copenhague, os países ricos deveriam prover 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático novo e adicional aos países em desenvolvimento.

    Essa promessa nunca foi cumprida.

    De nada adiantará o mundo rico chegar às COPs do futuro vangloriando-se das suas reduções nas emissões de carbono se as responsabilidades continuarem sendo transferidas para o Sul Global.

    Recursos não faltam. Ano passado, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares em armas. Essa montanha de dinheiro poderia estar sendo canalizada para o desenvolvimento sustentável e a ação climática.

    No Brasil, estamos fazendo nossa parte.

    A proteção da floresta e o desenvolvimento sustentável da Amazônia estão entre as prioridades do meu governo.

    Nos primeiros 8 meses deste ano reduzimos o desmatamento em 48% em relação ao mesmo período do ano passado.

    Sediamos, há um mês, a Cúpula da Amazônia e lançamos nova agenda de colaboração entre os países que fazem parte daquele bioma.

    Também aprofundamos o diálogo com outros países detentores de florestas tropicais da África e da Ásia, para articular posições comuns entre as bacias Amazônica, do Congo e do Bornéu-Mekong.

    Não basta olhar as fotos de satélite. Debaixo de cada árvore, há uma mulher, um homem e uma criança.

    As energias renováveis, os biocombustíveis, a socio-bio-economia, a indústria verde e a agricultura de baixo carbono devem gerar empregos e renda, inclusive para as comunidades locais e tradicionais.

    O G20 deve impulsionar esse esforço, respeitando o conceito de responsabilidades comuns, porém diferenciadas e valorizando todas as três convenções da Rio 92: de clima, biodiversidade e desertificação.

    A melhor forma de sermos ambiciosos é garantir o sucesso do Exercício de Avaliação Global do Acordo de Paris, na COP28, e da negociação de novas metas quantitativas.

    Para complementar esse esforço, lançaremos, em nossa presidência do G20, uma Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima.

    Queremos chegar na COP 30, em 2025, com uma agenda climática equilibrada entre mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, assegurando a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas.

    Esperamos contar com o engajamento de todos. Para que a beleza da Terra não seja apenas uma fotografia vista do espaço.”

    *com informações de Leonardo Rodrigues, da CNN