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    “Eles o odiavam”, ex-militar lembra quando serviu com novo comandante russo na Ucrânia

    Sergey Surovikin foi nomeado no último sábado (8) como comandante-geral para as operações na guerra

    Sarah Deanda CNN

    A guerra devastadora do presidente russo Vladimir Putin contra a Ucrânia está em declínio. Agora, há um novo general no comando – com reputação de brutalidade.

    Depois que a Ucrânia recentemente conseguiu retomar mais territórios do que o exército da Rússia conquistou nos últimos seis meses, o Ministério da Defesa nomeou Sergey Surovikin como seu novo comandante-geral para as operações na guerra.

    Anteriormente, Surovikin desempenhou um papel fundamental nas operações da Rússia na Síria – durante as quais aeronaves de combate causaram devastação generalizada em áreas controladas por rebeldes – como comandante das Forças Aeroespaciais Russas.

    A CNN conversou com um ex-tenente da Força Aérea Russa Gleb Irisov que serviu sob seu comando na Síria.

    Irisov disse que Surovikin estava “muito próximo do regime de Putin” e “nunca teve ambições políticas, então sempre executou um plano exatamente como o governo queria”.

    Analistas explicam que é altamente improvável que a nomeação de Surovikin mude a forma como as forças russas estão conduzindo a guerra, mas que fala da insatisfação de Putin com as operações de comando anteriores.

    Também é, em parte, provavelmente destinado a “acalmar” a base nacionalista e pró-guerra dentro da própria Rússia, de acordo com Mason Clark, líder russo no instituto de estudos do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW).

    O líder checheno Ramzan Kadyrov, que pediu à Rússia que “tome medidas mais drásticas”, incluindo o uso de “armas nucleares de baixo rendimento” na Ucrânia após reveses recentes, saudou a nomeação de Surovikin, que serviu pela primeira vez no Afeganistão no 1980 antes de comandar uma unidade na Segunda Guerra Chechena em 2004. O elogio de Kadyrov, que é um importante aliado de Putin, é significativo, talvez, já que ele próprio é conhecido por esmagar todas as formas de dissidência.

    “Eu pessoalmente conheço Sergei muito bem há quase 15 anos. Definitivamente, posso dizer que ele é um verdadeiro general e guerreiro, comandante experiente, obstinado e previdente, que sempre leva o patriotismo, a honra e o respeito acima de tudo”, postou Kadyrov nas redes sociais, após a notícia da nomeação de Surovikin no último sábado (8). “O grupo do exército unido está agora em boas mãos”, acrescentou.

    “Eles o odiavam”

    Irisov, ex-subordinado de Surovikin, deixou sua carreira de cinco anos nas forças armadas após seu tempo na Síria porque suas próprias opiniões políticas conflitavam com o que ele experimentou.

    “Claro, você entende, quem está certo e quem está errado”, explicou Irisov. “Eu testemunhei muitas coisas, estando dentro do sistema.”

    O ex-militar começou então o que esperava ser o início de uma carreira como jornalista internacional, como repórter militar na agência de notícias estatal russa TASS. Sua esposa trabalhava no local e ele sentiu na época que era “a única agência de informação principal” que tentava cobrir notícias de maneira “imparcial”, com “alguma oportunidade de liberdade de expressão”.

    “Tudo mudou” em 24 de fevereiro de 2022, quando a invasão da Ucrânia por Putin começou e a TASS recebeu ordens do Serviço de Segurança e do Ministério da Defesa do FSB “que todos serão processados ​​se não executarem o esquema de propaganda”, alegou Irisov.

    Ele tinha família em Kiev, que estavam escondidos em abrigos antiaéreos, e disse à CNN que sabia que “nada poderia justificar esta guerra”. Ele também sabia por seus contatos militares que já havia muitas baixas nos primeiros dias da guerra.

    “Para mim era óbvio desde o início”, lembrou Irisov. “Tentei explicar às pessoas que essa guerra levará ao colapso da Rússia. Será uma grande tragédia não apenas para os ucranianos, mas também para a Rússia.”

    Irisov fugiu de Moscou com sua esposa grávida e filho pequeno em 8 de março de 2022, depois de se opor à invasão. Ele deixou o emprego na TASS e assinou petições e uma carta aberta contra a guerra, explicou à CNN. Depois de viajar para a Armênia, Geórgia, Turquia e finalmente México, onde eles contataram a embaixada dos Estaos Unidos para pedir ajuda, eles agora estão trabalhando para começar uma nova vida na Virgínia Ocidental.

    Enquanto servia na base aérea de Latakia, na Síria, em 2019 e 2020, o homem de 31 anos diz que trabalhou na segurança da aviação e no controle de tráfego aéreo, coordenando voos com as companhias aéreas civis de Damasco. Ele expõe que viu Surovikin várias vezes durante algumas missões e falou com oficiais de alto escalão sob seu comando.

    “Ele deixou muitas pessoas muito zangadas – elas o odiavam”, disse Irisov, descrevendo como o general “direto” e que era odiado no quartel-general por causa da maneira como ele tentou implementar sua experiência de infantaria na força aérea.

    Irisov alega entender que Surovikin tinha fortes conexões com a empresa militar privada aprovada pelo Kremlin, o grupo Wagner, que operava na Síria.

    O Kremlin nega qualquer ligação com Wagner e insiste que as empresas militares privadas são ilegais na Rússia.

    Premiado com o título de “herói”

    Surovikin, cuja carreira militar começou em 1983, tem uma história conturbada, para dizer o mínimo.

    Em 2004, de acordo com relatos da mídia russa e pelo menos dois laboratórios, ele repreendeu um subordinado tão severamente que o mesmo tirou a própria vida.

    Em um livro da Jamestown Foundation, com sede em Washington, capital dos EUA, diz que durante a tentativa malsucedida de golpe contra o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, em agosto de 1991, soldados sob o comando de Surovikin mataram três manifestantes, levando o militar a passar pelo menos seis meses na prisão.

    A CNN entrou em contato com o Ministério da Defesa russo para comentar a nomeação de Surovikin e sobre as alegações sobre sua liderança dura.

    Em um relatório de 2020, a Human Rights Watch o nomeou como “alguém que pode ter responsabilidade de comando” pelas dezenas de ataques aéreos e terrestres a objetos e infraestrutura civis em violação às leis da guerra” durante a ofensiva na Síria. Os ataques mataram pelo menos 1.600 civis e forçaram o deslocamento de cerca de 1,4 milhão de pessoas, segundo a HRW, que cita números da Organização das Nações Unidas (ONU).

    Durante seu tempo na Síria, Surovikin, agora com 56 anos, recebeu o título de Herói da Federação Russa.

    Em fevereiro deste ano, o militar foi sancionado pela União Europeia na qualidade de chefe das Forças Aeroespaciais “por apoiar e implementar ativamente ações e políticas que minam e ameaçam a integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia, bem como a estabilidade ou segurança na Ucrânia.”

    Irisov acredita que há três razões pelas quais ele foi colocado no comando da Ucrânia agora: sua proximidade com o governo e Putin; sua experiência com a infantaria e a força aérea; e sua experiência desde o verão comandando as forças russas nas regiões ucranianas do sul de Kherson, Zaporizhzhia e Crimeia.

    Essas são áreas que Putin está tentando controlar “a qualquer custo”, disse Irisov.

    Apenas dois dias após a nomeação de Surovikin no sábado, a Rússia lançou seu mais pesado bombardeio à Ucrânia desde os primeiros dias da guerra.

    Surovikin está “mais familiarizado com mísseis de cruzeiro, talvez ele tenha usado suas conexões e experiência para organizar essa cadeia de ataques devastadores”, alegou Irisov, referindo-se aos relatos de que mísseis de cruzeiro estão entre as armas implantadas pela Rússia nesta última onda de ataques.

    Mas Clark, da ISW, sugere que a promoção do general é “mais uma armação para injetar sangue novo no sistema de comando russo” e “colocar essa cara nacionalista dura”.

    Sua nomeação “recebeu elogios generalizados de vários blogueiros militares russos, bem como Yevgeny [Prigozhin], que é o financista do Grupo Wagner”, comunicou Clark.

    Ele acredita que o que está acontecendo agora é um reflexo do que aconteceu em abril, quando Alexander Dvornikov foi nomeado comandante-geral das operações na Ucrânia.

    “Da mesma forma, antes disso ele era comandante de um dos agrupamentos de forças russas e tinha uma reputação de mestre na Síria muito parecida com Surovikin pela brutalidade, ganhando esse tipo de nome de ‘açougueiro de Aleppo’”, declarou Clark.

    Dvornikov também era visto na época como o comandante “que iria mudar as coisas na Ucrânia e fazer o trabalho”, acrescentou. “Mas um comandante individual não será capaz de mudar o quanto o comando e o controle russos estão emaranhados neste ponto da guerra, ou o baixo moral das forças russas”.

    Andrea Kendall-Taylor, diretora do Programa de Segurança Transatlântica do Center for a New American Security, também disse à CNN nesta semana que a nomeação de Surovikin “reflete a ascendência de muitas vozes da linha dura dentro da Rússia, que traga alguém que esteja disposto a executar esses ataques implacáveis”.

    Clark argumenta que “pelo que vimos, é altamente provável que Putin esteja envolvido na tomada de decisões em um nível muito tático e, em alguns casos, contornando os oficiais militares russos seniores para interagir diretamente no campo de batalha”.

    Surovikin assinou pessoalmente os papéis de demissão de Irisov da força aérea, diz ele. Agora, Irisov o vê encarregado das operações na guerra brutal de Putin na Ucrânia – mas o impacto que o general terá ou pode ter ainda não está claro.

    Segundo Clark, “não há uma boa opção no Kremlin se Surovikin não se apresentar ou se Putin decidir que também não está à altura da tarefa. Não há muitos outros oficiais russos de alto escalão e isso só vai levar a uma degradação ainda maior do esforço de guerra russo.”

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