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    Eleições nos EUA: como a pandemia da Covid-19 mudou as convenções políticas

    Tradicional ritual de campanha presidencial norte-americano passa por processo de reinvenção

    As convenções políticas dos EUA, um ritual de campanha presidencial existente desde a década de 1830, está passando por um processo de reinvenção, após sofrer uma espécie de curto-circuito causado pela pandemia do novo coronavírus.

    Entenda abaixo como as convenções democrata e republicana – e talvez as próximas campanhas – serão diferentes este ano.

    Discursos televisionados ficam mais importantes

    Não haverá multidões eufóricas de delegados em um salão lotado, balões caindo ou festas. Democratas e republicanos vão oferecer, em sua maioria, programas virtuais com discursos e eventos pelo país.

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    Mesmo assim, a Convenção Nacional Democrata de 17 a 20 de agosto pode dar ao provável indicado Joe Biden seu primeiro grande e atencioso público em meses, disse Julian Zelizer, historiador político na Universidade de Princeton.

    Apesar de Biden estar à frente do presidente republicano Donald Trump nas pesquisas de opinião para as eleições de 3 de novembro, o ex-vice-presidente democrata acabou sendo praticamente expulso de sua campanha eleitoral por causa da pandemia de Covid-19. Enquanto isso, Trump continua com uma pesada cobertura midiática por suas entrevistas coletivas na Casa Branca e eventos de campanha.

    Isso aumenta a importância do discurso televisionado de Biden (para aceitar a indicação), o tradicional ponto de início da última etapa antes da votação.

    “Isso [discurso televisionado] pode ser mais valioso este ano do que nos anteriores, principalmente para os democratas, porque a maioria das pessoas não está prestando muita atenção nos indicados ultimamente, e ele [Biden] não tem feito campanha”, explicou Zelizer.

    Para Trump, o discurso pode ser uma chance de ir além do debate sobre a forma com a qual ele tem conduzido a pandemia, e permitir que ele apresente sua ampla visão, afirmou Ford O’Connell, ex-candidato republicano ao Congresso pela Flórida, que presta consultoria à campanha de Trump.

    “A campanha acredita que se puder passar por esse obstáculo, as outras coisas serão mais fáceis”, disse ele. “Este é o lugar para Trump decidir para onde quer levar o país.”

    Os discursos no horário nobre serão mais intimistas. Biden vai falar de sua residência no estado de Delaware, não Milwaukee. Trump, que será indicado pelo Partido Republicano em uma pequena convenção no dia 24 de agosto em Charlotte, na Carolina do Norte, deve discursar mais tarde na mesma semana, de algum lugar de Washington.

    Necessidade de inovação

    O formato reimaginado das convenções vai obrigar os partidos a tentar encontrar uma forma mais atraente de transmitir suas mensagens.

    Os discursos dos partidários e das estrelas em ascensão serão realizados remotamente pelo país. Os democratas projetaram uma sala de controle de vídeo virtual para receber centenas de visitantes, com potencial de interagir com eleitores de todo o país.

    “Eles não vão ficar confinados em um único local, então serão forçados a inovar”, afirmou Kelly Dietrich, estrategista democrata que está desenvolvendo programas de treinamento em campanhas virtuais para candidatos políticos e funcionários.

    O desafio será gerar animação e motivar os eleitores fiéis aos partidos, além de encorajar os independentes a darem uma olhada.

    Um ponto positivo: a natureza virtual das convenções minimizará as chances de haver sinais de discórdia e momentos improvisados.

    Em 2016, reclamações dos apoiadores do senador Bernie Sanders marcaram a primeira noite da convenção democrata, que anunciou a indicação de Hillary Clinton. 

    Na convenção republicana, o senador Ted Cruz, maior rival de Trump pela indicação, atraiu vaias quando se recusou a apoiar o magnata e disse, no palco, aos delegados do colégio eleitoral para “votarem com a consciência”. Neste ano, “vocês não têm que se preocupar com as vaias”, destacou Dietrich.

    Fim de uma era?

    Nos últimos anos, os críticos têm visto as convenções como anúncios de partidos com um roteiro rígido, sem drama político e relevância. As previsões de um iminente fim da tradicional convenção política norte-americana se tornaram verdade em 2020, graças à pandemia.

    Especialistas estão incertos se isso será uma mudança permanente. “Ainda pode haver convenções, mas não acho que elas serão fundamentalmente as mesmas”, disse Zelizer.

    O estrategista democrata Robert Shrum afirmou que espera vê-las mais fortes do que nunca. “É a única chance que o indicado tem para se comunicar com os eleitores sem mediação. Não acredito que as pessoas vão abrir mão disso.”

    Depois da pandemia, segundo Shrum, “as pessoas vão querer voltar às coisas que elas faziam no passado”.

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