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    Análise: Se preparem, Trump nunca vai aceitar o resultado da eleição

    Ele questiona os resultados quando vence. Ele se recusa a ceder quando perde.

    Zachary B. Wolfda CNN

    O ex-presidente Donald Trump mostrou uma consistência notável ao longo de muitos anos em uma questão-chave da política americana: ele não confia nos resultados das eleições.

    Ele questiona os resultados quando vence. Ele se recusa a ceder quando perde. Agora ele está reservando julgamento sobre se a eleição deste ano será “honesta.”

    Em cada citação abaixo, ele responde uma versão da mesma pergunta: “Você aceitará os resultados de uma determinada eleição?”

    Em 2016, durante o último debate presidencial, o então candidato Donald Trump respondeu à pergunta assim: “eu vou olhar para isso no momento certo. Eu não estou olhando para nada agora. Eu vou olhar para isso no momento certo.”

    Trump não era o favorito para ganhar a eleição em 2016, o que pode ter algo a ver com ele preparando o terreno para rejeitar os resultados nos meses anteriores ao dia das eleições, quando ele reclamou que o sistema foi “manipulado.”

    No último debate presidencial de 2016, o moderador Chris Wallace, então da Fox News e agora com na CNN, destacou o princípio de uma transferência pacífica de poder no país – onde os dois partidos se unem após uma eleição para avançar.

    Quando Wallace perguntou a Trump se ele se comprometeria com esse princípio, Trump disse: “o que eu estou dizendo é que eu vou te responder quando chegar a hora. Vou manter o suspense. Ok?”

    Mesmo depois de sua vitória no Colégio Eleitoral, e depois que ele se tornou presidente, Trump se recusou a dizer que a eleição de 2016, que ele venceu, era legítima, alegando, sem provas, que milhões de pessoas votaram ilegalmente, o que lhe custou o voto popular. A comissão especial que ele nomeou como presidente para investigar suas alegações de fraude eleitoral não encontrou nenhuma evidência disso.

    Em julho de 2020, já como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump disse à Fox News Sunday: “não. Eu tenho que ver. Olha, eu tenho que ver. Não, eu não vou simplesmente dizer ‘sim’. Eu não vou dizer ‘não’. E também não fiz isso da última vez.”

    Aqui, mais uma vez, Trump está falando com Wallace quando a âncora estava na Fox. E aqui, novamente, Trump se recusa a dizer que aceitará os resultados das eleições.

    O motivo, de novo, são alegações infundadas de votação ilegal, mas os detalhes mudaram.

    Em 2020, Trump estava reclamando da votação pelo correio, em vez de uma conspiração fantasiosa de milhões de pessoas votando ilegalmente. Ainda não há evidências de fraude eleitoral generalizada pelo correio, a propósito.

    Em 2020, como todos sabem, ele se recusou a aceitar sua derrota e incentivou os apoiadores a protestar contra a contagem dos votos do Colégio Eleitoral em 6 de janeiro de 2021. Uma multidão de seus apoiadores, muitos dos quais já foram processados, invadiu o prédio do Capitólio.

    Em primeiro de maio deste ano, durante uma entrevista ao Milwaukee Journal Sentinel, Tump disse: “se tudo for honesto, eu aceitarei os resultados com prazer. Se não for, você tem que lutar pelo direito do país.”

    Ao contrário de 2016 ou 2020, quando ficou atrás nas pesquisas contra Hillary Clinton e Joe Biden, respectivamente, Trump está atualmente à frente de Biden em algumas pesquisas. Supostamente citando mudanças nas leis eleitorais impulsionadas por legisladores republicanos em estados-chave, Trump disse que agora espera que a eleição seja “honesta.”

    Mas ele claramente não está pronto para emitir um voto geral de confiança no sistema eleitoral, e Trump disse que “fará saber” se há algo errado com a eleição de 2024.

    “Eu estaria fazendo um desserviço ao país se dissesse o contrário”, disse Trump. “Mas não, espero uma eleição honesta e esperamos ganhar talvez [por uma margem] muito grande.”

    Já que ele gosta de se referir às múltiplas acusações criminais como uma forma de “interferência eleitoral”, é seguro dizer que há uma preparação para ele rejeitar os resultados da próxima eleição.

    Maioria dos republicanos atualmente não confia na eleição dos EUA

    Os ataques de Trump à integridade eleitoral, como Marshall Cohen da CNN documentou, se estenderam para muito além das três disputas em que ele foi candidato. Os ataques coincidiram com um declínio acentuado na forma como seus colegas republicanos veem as eleições nos EUA.

    Em 2006, 92% dos republicanos estavam muito ou um pouco confiantes de que os votos seriam apurados e contados com precisão, de acordo com pesquisas da Gallup. Para efeito de comparação, 70% dos independentes e 66% dos democratas tinham a mesma confiança na precisão da eleição nos EUA.

    Até 2022, apenas 40% dos republicanos disseram estar muito ou um pouco confiantes de que os votos seriam apurados e contados com precisão em comparação com 85% dos democratas e 67% dos independentes.

    Pode ser natural para os apoiadores de um partido fora do poder ter algumas resssalvas sobre o sistema eleitoral. Mas o declínio da confiança dos republicanos desde 2018, de 77% para 40% em 2022, é notável.

    Democratas se frustram com resultados também

    Nada disso quer dizer que os rivais de Trump provavelmente aceitarão alegremente uma vitória do ex-presidente. Em 2019, anos depois de sua derrota para Trump, Hillary Clinton disse sentir que Trump era um “presidente ilegítimo” por causa das táticas que os republicanos usaram para suprimir a votação em 2016, entre outras coisas.

    Mas isso não muda o fato de que, ao contrário de Trump em 2020, ela aceitou sua vitória no Colégio Eleitoral em 2016.

    “Ontem à noite, parabenizei Donald Trump e me ofereci para trabalhar com ele em nome do nosso país. Espero que ele seja um presidente bem-sucedido para todos os americanos”, disse Clinton em seu discurso de concessão em 9 de novembro de 2016.

    “Nossa democracia constitucional consagra a transferência pacífica de poder e nós não apenas respeitamos isso, nós a valorizamos”, ela acrescentou na época.

    Podemos esperar que Trump não faça tal concessão se for derrotado em novembro. Em vez disso, é provável que ele alegue novamente uma conspiração para lhe tirar a  eleição, independentemente do que os eleitores digam.

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