Eleição presidencial no Irã é liderada por juiz conservador Raisi, diz ministro
Rival já teria o parabenizado, segundo mídia local
O juiz ultraconservador Ebrahim Raisi lidera a eleição presidencial do Irã, disse um ministro do Interior neste sábado (19), um dia após milhões de iranianos votarem em um pleito boicotado por opositores em meio a crise econômica e restrições políticas.
Raisi, até o momento, recebeu 17,8 milhões de votos, disse ele em uma entrevista coletiva exibida na televisão. Mais de 28 milhões de iranianos, dos 59 milhões de eleitores possíveis, foram às urnas.
Raisi, clérigo xiita de 60 anos que está sujeito à sanções dos Estados Unidos por supostos abusos dos direitos humanos, era o favorito da corrida, dado o apoio do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
O único rival moderado de Raisi o parabenizou. “Espero que seu governo, sob a liderança do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, deixe a República Islâmica orgulhosa, melhore o modo de vida e garanta o bem-estar da nação”, teria dito o ex-chefe do Banco Central Abdolnaser Hemmati em uma carta, conforme disse a mídia.
Em um discurso televisionado, o presidente Hassan Rouhani parabenizou “o [presidente] eleito pelo povo”, sem dar nomes.
“Porque ainda não foi oficialmente anunciado ainda, eu vou adiar os parabéns oficiais. Mas é claro quem recebeu os votos”, disse Rouhani.
Outros candidatos também parabenizaram Raisi.
O juiz é um crítico duro do Ocidente e porta-bandeira dos defensores da segurança do Irã. Ele é acusado pelos críticos de abusos aos direitos humanos que aconteceriam há décadas –alegações negadas pelos defensores deles– Raisi foi nomeado por Khamenei ao alto cargo de chefe do Judiciário em 2019.
A eleição acontece em um momento crítico. O Irã e seis potências estão negociando para reestabelecer o acordo nuclear de 2015. O então presidente dos EUA Donald Trump deixou o acordo em 2018 e voltou a impor sanções rígidas que reduziram a renda iraniana vinda dos combustíveis.
Raisi não ofereceu propostas detalhadas para a política ou economia durante a campanha dele, mas apoiou o reestabelecimento do acordo nuclear, um desenvolvimento que amenizaria as sanções norte-americanas que prejudicaram a economia.
É Khamenei, não o presidente, que tem a palavra final em assuntos de Estado como as políticas nuclear e internacional.
Falta de escolha
Esperando aumentar a legitimidade, os líderes do clero do país pediram às pessoas que fossem votar na sexta-feira (18), mas dissidentes domésticos e no exterior disseram que a ira popular pela crise econômica e redução de liberdades mantiveram muitos iranianos em casa.
Outro empecilho para muitos eleitores pró-reforma era uma falta de escolha, após um órgão eleitoral barrar candidatos moderados e conservadores proeminentes de concorrerem.
Analistas disseram que as exclusões feitas pelo Conselho dos Guardiões abriram o caminho para a vitória já esperada de Raisi.
Antes da concessão de Hemmati, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse: “Foi negado aos iranianos o direito de escolher seus líderes em um processo livre e justo” — em uma possível referência à desqualificação dos candidatos.