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    É possível crescer economicamente e emitir menos carbono, dizem especialistas

    Diversos países mostram que redução de emissões de carbono são compatíveis com períodos de crescimento econômico

    Preservação da Amazônia é essencial para Brasil reduzir emissões de carbono
    Preservação da Amazônia é essencial para Brasil reduzir emissões de carbono Getty Images

    Bibiana Maiacolaboração para a CNN

    Por muitas décadas, desde a Revolução Industrial, o crescimento econômico esteve atrelado ao aumento de emissões de gases do efeito estufa. Esta relação, entretanto, está deixando de ser uma realidade.

    Especialistas ouvidos pela CNN explicam que países que conseguiram redução de emissões conseguiram manter crescimento econômico

    “Desde 2005, 32 países com a população com pelo menos 1 milhão de pessoas reduziram suas emissões enquanto tinham crescimento econômico”, diz o pesquisador Joel Jaeger, do World Resources Institute (WRI).

    Na redução absoluta das emissões, existe uma queda explícita das emissões mesmo com crescimento do Produto Interno Bruto. Entre os que lideram esse movimento, Jaeger cita principalmente os europeus, como Dinamarca e Reino Unido, e os Estados Unidos. Nos últimos anos, Japão, México, El Salvador e Singapura começaram a se destacar.

    Países em desenvolvimento e pequenas economias apresentam um outro estágio na descarbonização, uma redução relativa. As emissões aumentam junto com o crescimento econômico, só que de forma mais lenta, como é o caso da Índia.

    A diferença de queda nas emissões também pode ser explicada porque as grandes economias partem de um nível mais alto, o que se relaciona com os compromissos dos países.

    Os Estados Unidos assumiram uma meta de zero emissões em 2050, enquanto a Índia se comprometeu em zerar até 2070.

    O Brasil tem um exemplo recente de que é capaz de atingir patamares menores de emissões com crescimento econômico.

    Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima, lembra que, em 2004 e 2005, o Brasil emitia 2 gigatoneladas, e diminuiu para 1,2 gigatonelada, em 2012. Neste período, o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento. Foi também quando o país registrou as melhores marcas no PIB. “Se pegar esse período, o Brasil teve a maior redução de gases do efeito estufa, tanto em termos relativos como absolutos. Depois, as emissões voltaram a crescer”.

    Mudança na matriz energética

    Existem dois grandes blocos responsáveis pelas emissões do mundo, a geração de energia elétrica e a queima de combustíveis fósseis para transporte e indústria. “A forma mais fácil de gerar energia na forma renovável de baixa emissões é na forma de eletricidade. A ideia é eletrificar o mundo. Hoje, cerca de 20% da energia do mundo é eletricidade. O ideal é chegar a 50%”, diz Azevedo. As principais fontes de energia renovável a longo prazo são solar, eólica, hidrelétrica, geotermal e biomassa, nesta ordem, segundo o especialista. O Brasil tem 46% da sua energia renovável, e, quando se pensa em elétrica, chega a 80%, então está bem colocado na área, mas tem potencial para expandir nas fazendas de solar, eólica, além dos biocombustíveis, segundo o especialista.

    Para que essa diversificação se torne realidade, é preciso tirar os subsídios de combustíveis fósseis, colocar custo nas emissões e ter benefício na remoção dos gases. Azevedo cita a Dinamarca como exemplo, que fez grandes investimentos em energia eólica e hoje é o país que tem maior participação de eólica com em sua matriz energética. O que aqueceu a economia, além de diminuir as emissões.

    Outros exemplos, lembrados por Alexandre Batista, coordenador de projetos do Centro Brasil no Clima, são França, Alemanha e Reino Unido, que apostaram no desligamento de térmicas a carvão. Os dois primeiros investiram na expansão da energia nuclear, eólica e solar. O Reino Unido faz uma grande expansão de energia eólica offshore, ou seja, em alto mar. Os Estados Unidos têm um crescimento de térmicas movidas a gás de xisto, substituindo algumas térmicas a carvão. Em alguns estados americanos, houve grande expansão da energia solar e, em menor grau, na eólica.

    “É uma combinação de fatores que permitiu que as grandes economias diminuíssem suas emissões”, avalia Jaeger. Ele aponta também como um dos segredos a mudança na base da economia, de bens manufaturados para um modelo voltado para serviços.

    Com o deslocamento das indústrias de base para a Ásia, Estados Unidos e Europa desenvolveram economias baseadas em serviços e tecnologia. Por apresentarem altos níveis de educação, conseguiram manter o crescimento econômico e diminuir as emissões, deslocando a mão-de-obra para as outras áreas.

    Um quadro diferente do Brasil, que tem seu desenvolvimento baseado em commodities e baixo nível de escolaridade. A saída, para Batista, é depender menos da exportação de commodities e desenvolver um modelo que combine serviços e bioeconomia. “Precisamos de investimento pesado em educação. Não temos como competir em termos de investimento com foco em tecnologia. A bioeconomia permite desenvolver tecnologia para exportar matérias-primas exploradas de forma sustentável, como fármacos e cosméticos”, ensina.

    Investimento de baixo carbono criam mais empregos

    Um ponto bem-sucedido dos países mais ricos para garantir o crescimento com baixas emissões, de acordo com Jaeger, é o investimento em infraestrutura. Ao aumentar a eficiência e mudar a matriz energética dos combustíveis fósseis para outras fontes de baixo carbono, ocorre um estímulo para a economia. Isso quer dizer construir estruturas, como fazendas de energia solar e eólica, assim como a criação de padrões para a indústria, com exigências para carros e caminhões menos poluidores, por exemplo.

    A pesquisa de Jaeger no WRI aponta que são gerados mais empregos a cada dólar investido em matrizes energéticas de baixo carbono do que com o mesmo valor aplicado aos combustíveis fósseis. “Investir em energia solar cria 1.,5 mais empregos, por exemplo. Investir em eólica 1,2 mais. A matriz energética limpa mais atraente é a que servir melhor ao país”, analisa.

    Ele também chama atenção para o planejamento das cidades e o uso sustentável do solo como outros fatores que podem gerar trilhões de benefícios econômicos, enquanto colaboram para a redução das emissões.

    Para todas essas mudanças, é preciso dinheiro. O pesquisador do WRI usa o exemplo da pandemia para mostrar como as grandes economias aplicaram trilhões em investimentos para geração ou permanência de empregos. Países que não fazem parte deste seleto grupo têm menos oportunidades de investir. “As finanças são uma grande questão, uma agenda importante em Glasgow. Os países em desenvolvimento precisam de apoio”, avalia.

    Apesar das quedas nas emissões absolutas e o desaceleramento nas emissões relativas, há unanimidade ao dizer que o esforço ainda é insuficiente para atingir as metas do Acordo de Paris. “Com o que a gente tem atualmente, segundo o PNUMA, a gente caminha para aumento de temperatura de 2,7ºC, e está longe dos 1,5ºC. Precisamos de uma queda mais ambiciosa para chegar lá”, finaliza Azevedo.