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    Dragas vão cavar ‘8 piscinas olímpicas’ para desencalhar navio do Canal de Suez

    Canal movimenta cerca de U$ 10 bilhões por dia, 12% do volume do comércio mundial; embarcação de 400 m de comprimento está encalhada desde terça-feira

    Jessie Yeung, da CNN

    Até 20 mil metros cúbicos de areia no Canal de Suez, no Egito, precisam ser removidos para retirar o gigantesco navio porta-contêineres que está encalhado desde terça-feira, de acordo com as autoridades do canal.

    A embarcação Ever Given, um navio quase tão longo quanto a altura do Empire State Building, encalhou no canal egípcio depois de ser atingido por ventos de 40 nós e uma tempestade de areia que causou baixa visibilidade e dificuldade de navegação.

    Ele bloqueou um dos cursos de água mais movimentados do mundo e gera esforços frenéticos para sua retirada, incluindo o uso de duas dragas, nove rebocadores e quatro escavadeiras na margem do canal.

    As dragas trabalham para remover areia e lama da proa do navio – e elas precisarão mover entre 15 e 20 mil metros cúbicos de areia para atingir uma profundidade de 12 a 16 metros, a qual permitirá que o navio flutue novamente, disse a autoridade responsável pelo canal na quinta-feira (25). Essa quantidade é aproximadamente oito vezes o tamanho de uma piscina olímpica.

    Especialistas em transporte marítimo estão preocupados com a situação, e um CEO de uma empresa de resgate de embarcações disse que o navio estava “preso como uma rocha”.

    “Felizmente, o navio está em boas condições, sem danos, então essa é uma condição básica importante”, disse Peter Berdowski, CEO da Boskalis, à uma emissora holandesa na quinta-feira. “Mas, a primeira impressão é de que ele está preso como uma rocha”.

    A Smit Salvage, empresa irmã da Boskalis, é uma das que trabalham para desencalhar o Ever Given.

    “Além das dragas, um equipamento de sucção especializado está no local e começará a funcionar em breve. Esta draga pode deslocar 2 mil metros cúbicos de material a cada hora”, disse em um comunicado a empresa Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), que faz o gerenciamento técnico do navio Ever Given.

    As autoridades do canal disseram que discutiram a opção de mover o barco, que mede 400 metros de comprimento e 59 metros de largura, dragando a área ao seu redor.

    Rebocador trabalha para tentar desencalhar porta-contêineres no Canal de Suez
    Rebocador trabalha para tentar desencalhar porta-contêineres no Canal de Suez
    Foto: SUEZ CANAL AUTHORITY – 24.março.2021/Reuters

    Um piloto sênior do canal disse à CNN na quarta-feira (24) que a reflutuação da enorme embarcação é “tecnicamente muito complicada” e pode levar dias.

    A empresa de fretamento Evergreen Marine disse em um comunicado que uma equipe de especialistas da empresa holandesa Smit Salvage e da japonesa Nippon Salvage, que trabalhou em várias operações de alto nível no passado, foi nomeada para ajudar a Autoridade do Canal de Suez a desencalhar o navio.

    Impacto financeiro global

    Cada dia que passa tem um custo alto para empresas e países cujo comércio foi interrompido pelo congestionamento dos navios. Cerca de 12% do volume do comércio mundial passa pelo Canal de Suez e movimenta cerca de U$ 10 bilhões (R$ 56 bilhões) por dia em cargas.

    Mais de 18.800 navios com uma tonelagem líquida de 1,17 bilhão de toneladas passaram pelo canal durante 2020. O que representa uma média de 51,5 navios por dia.

    Pelo menos 160 navios transportando combustível e carga vitais estão agora esperando para passar pela hidrovia bloqueada, de acordo com um piloto sênior de canal. Alguns navios estão decidindo desviar a rota ao redor do Cabo Horn para evitar o Canal de Suez – porém são 3.800 milhas extras e até 12 dias a mais de viagem, de acordo com a Câmara Internacional de Navegação (ICS, na sigla em inglês).

    “Não apenas as mercadorias a bordo do Ever Given serão seriamente atrasadas em sua jornada, mas as centenas de outros navios também serão afetados. Os danos causados à cadeia de abastecimento global serão significativos”, disse o secretário-geral da ICS, Guy Platten.

    Especialistas temem que, se o navio não for retirado logo, o impasse poderá impactar o mercado de petróleo, as taxas de transporte e de contêineres, levando a um aumento no custo dos produtos de uso diário.

    “A maior parte do comércio entre a Ásia e a Europa ainda depende do Canal de Suez e, dado que bens vitais, incluindo equipamentos médicos vitais e EPIs, estão chegando por meio desses navios, pedimos às autoridades egípcias que façam tudo o que puderem para reabrir o canal assim que possível”, disse Platten.

    Esta não é a primeira vez que o canal, inaugurado em 1869, fica bloqueado. Ele precisou ser fechado entre 1956 e 1957 devido à Crise de Suez, também conhecida como a segunda guerra árabe-israelense. E, novamente, em 1967, quando Israel ocupou a península do Sinai, só reabrindo após 1975.

    Mas o fechamento agora pode ter um impacto muito maior e mais perturbador do que durante as duas últimas paralisações, devido ao crescimento substancial no nível de comércio entre a Europa e a Ásia nas últimas décadas.

    “A quantidade do transporte marítimo tornou-se tão grande que é muito difícil para as autoridades egípcias, basicamente, acompanhar o crescimento”, disse o correspondente internacional sênior da CNN, Bill Wedeman, na quinta-feira. “O tamanho do Canal de Suez nos últimos 50 anos, sua largura, basicamente dobrou e claramente ainda não é o suficiente”.

    O Ever Given é de propriedade da empresa de navegação japonesa Shoei Kisen KK. Em um comunicado à imprensa, a Shoei Kisen pediu desculpas aos outros navios que estão presos no congestionamento. A empresa disse à CNN que presume que os danos serão reclamados pelo incidente, mas seu foco principal agora é desencalhar o navio.

    Hamdi Alkhshali e Mostafa Salem contribuíram para essa reportagem.

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)

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