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    Dois países mostram que a vida depois do lockdown não é como todos pensam

    Coreia do Sul e Alemanha estão retornando às atividades, mas nada ainda é como antes

    Laura Smith-Spark, , da CNN

    A vida como a conhecemos em grande parte do mundo foi virada de cabeça para baixo pelo novo coronavírus. Mas dois países têm sido apresentados como exemplos de como lidar com uma pandemia: Coreia do Sul e Alemanha.

    As abordagens deles foram bem diferentes – mas, no momento, ambos estão na posição invejável de poder aliviar as restrições impostas para reprimir a propagação do coronavírus com alguma confiança de que as infecções não voltarão a ocorrer imediatamente.

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    A pergunta é: como eles estão se preparando para voltar à vida “normal”? Em uma palavra: cautelosamente. Cidadãos de outros países que assistem com inveja essa nova fase vão perceber que ela está muito longe de ser normal.

    A Coreia do Sul (que, em fevereiro, teve o maior surto de Covid-19 fora da China) usou uma combinação de testes generalizados, rastreamento agressivo de contatos, medidas severas de saúde pública e tecnologia digital para conter o coronavírus sem ter que impor um bloqueio generalizado. O país também manteve um regime estrito de quarentena.

    Graças a essas medidas, os diagnósticos de casos diminuíram recentemente e o número de mortos no país ficou em 256 até esta sexta-feira (8) de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país.

    Nesse contexto, o governo sul-coreano começou na quarta-feira a relaxar suas rígidas regras de distanciamento social, impostas em 22 de março, mas mantendo um conjunto de diretrizes conhecidas como política de “distanciamento na vida cotidiana”.

    De acordo com elas, as pessoas devem permanecer em casa se apresentarem sintomas suspeitos de Covid-19, continuar a manter uma distância de dois metros dos outros, lavar as mãos por 30 segundos e manter os quartos bem ventilados e desinfetados regularmente. Pessoas com mais de 65 anos e em grupos de alto risco devem continuar em casa e evitar espaços fechados e lotados.

    Como declararam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país, a política “não deve ser interpretada como um retorno à ‘normalidade’ como antes da pandemia, mas como um esforço para alcançar o controle de doenças infecciosas e o retorno à vida cotidiana”.

    Seguindo a nova diretriz, a temporada de beisebol da Coreia do Sul recomeçou na terça-feira (5) — mas com jogos disputados em estádios vazios, com árbitros e treinadores de base usando máscaras. Em um jogo, em vez do primeiro arremesso tradicional, houve uma cerimônia de início fazendo referência ao distanciamento social: um garoto dentro de uma grande bola transparente andou da área do arremessador até uma base.

    Líderes de torcida no jogo de reabertura da temporada de beisebol em Seul
    Líderes de torcida no jogo de reabertura da temporada de beisebol no estádio Munhak, em Seul, na Coreia do Sul
    Foto: Jung Yeon-Je/AFP/Getty (8.mai.2020)

    As crianças começarão a retornar às aulas a partir de 13 de maio. Na segunda-feira (4) a ministra da Educação da Coreia do Sul, Yoo Eun-Hae, disse aos alunos o que esperar dessa nova realidade pós-coronavírus.

    “Assim que você chegar na aula, precisará limpar sua mesa enquanto as janelas devem ser abertas com frequência. Você também será obrigado a usar uma máscara, exceto nas refeições, e manter a distância de dois braços quando estiver em movimento ou na fila. Você deve se lembrar dessas regras e pedimos que você as mantenha”, disse a ministra.

    O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Chung Sye-kyun, falou em um pronunciamento no domingo que as instalações fechadas reabrirão gradualmente e que eventos e reuniões serão permitidos desde que respeitem as diretrizes de desinfecção.

    “É tão revigorante e importante para aliviar o estresse poder finalmente sair”, disse Ju Eun-song, assistente de vendas de 32 anos, à agência de notícias AFP, quando as restrições foram atenuadas na quarta-feira (6).

    “Ao encerrarmos o distanciamento social, estamos em um estágio em que as pessoas estão acostumadas com o cotidiano de distância”, disse Jo Jae-hong, empresário de 38 anos, à agência de notícias.

    No entanto, o surgimento na sexta-feira, dia 8, de mais de uma dúzia de novos casos vinculados a um indivíduo que visitou três boates em Seul no fim de semana passado serviu como um alerta sobre a rapidez com que o vírus pode voltar. As autoridades aconselharam rapidamente clubes e bares a fecharem até o próximo mês.

    O doutor Peter Drobac, especialista em saúde global da Oxford Saïd Business School, acredita que as experiências de outros governos indicam que uma abordagem cautelosa é a correta.

    “Não existe uma receita estrita que funcione em todos os lugares, mas há um conjunto de princípios”, explicou.

    “O primeiro é achatar a curva – ou melhor ainda, esmagar a curva – até que haja uma diminuição sustentada em novos casos. Abrir-se quando você ainda tem disseminação descontrolada da comunidade, como em partes dos EUA, é loucura”.

    Pessoas relaxam na beira do córrego Cheonggye, em Seul, na Coreia do SuL
    Pessoas relaxam na beira do córrego Cheonggye, em Seul, na Coreia do Sul, após flexibilização da quarentena
    Foto: Ahn Young-joon/AP (8.mai.2020)

    De acordo com o especialista, em segundo lugar os países devem garantir que seu sistema de saúde possa trabalhar sem medidas de crise e que os profissionais de saúde tenham o equipamento de proteção necessário; em terceiro, uma enorme capacidade de fazer testes deve estar em vigor.

    “Em quarto, o rastreamento de contatos – que requer pessoas e tecnologia – e um plano para isolar casos e contatos de quarentena. O isolamento não deve ser feito em casa! É aí que acontece mais transmissão. Não entendo por que isso está sendo ignorado no Reino Unido e nos EUA.”

    Por fim, os grupos de alto risco e vulneráveis devem ser protegidos, disse ele, à medida que a mobilidade renovada das pessoas aumenta o risco de novas infecções.

    “A chave para a reabertura é compensar esse risco com testes, rastreamento e isolamento, que são intervenções testadas e aprovadas para quebrar as cadeias de transmissão. Não significa que você pode voltar ao normal, mas aumenta as chances de começar a se abrir com segurança”.

    Segundo o professor, outros países podem aprender muito com a Coreia do Sul. “É fácil falar sobre ‘testar, rastrear, isolar’, mas difícil de fazer. Quando você observa a robustez da resposta da Coreia do Sul, vê um conjunto fantástico de lições que podem ser replicadas”, disse Drobac. “O outro fator importante na Coreia do Sul parece ser a comunicação transparente e a confiança do público. Vai ser mais difícil em lugares onde a resposta foi mal administrada ou politizada, como os EUA e o Reino Unido”.

    Alemães podem ter coragem

    Crianças fazem fila com distanciamento na escola primária Petri, em Dortmund
    Crianças fazem fila com distanciamento na escola primária Petri, em Dortmund, na Alemanha (8.mai.2020)
    Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images

    A Alemanha também está adotando uma abordagem passo a passo para reabrir os negócios após um lockdown de várias semanas.

    A chanceler Angela Merkel disse aos alemães na quarta-feira, dia 6 de maio, que eles poderiam “ter um pouco de coragem”, mas alertou que “temos que tomar cuidado para isso não sair de nossas mãos”.

    Merkel explicou que os limites do contato social permanecerão em vigor até 5 de junho, mas agora as pessoas podem se encontrar com membros de uma outra família e com os seus. As pessoas ainda devem permanecer a 1,5 metro de distância e cobrir a boca e o nariz em público.

    Lojas podem reabrir, mas com medidas adicionais de higiene, acrescentou Merkel, falando em uma entrevista coletiva após uma reunião em vídeo com os primeiros-ministros dos 16 estados da Alemanha. “A primeira fase da pandemia ficou para trás, mas ainda estamos no começo e a doença estará conosco por um longo tempo”, afirmou Merkel.

    A principal liga de futebol da Alemanha, a Bundesliga, retomará aos campos a partir de 16 de maio – mas sob rígidas restrições e sem espectadores. Será a primeira grande liga europeia a voltar para os gramados.

    A resposta ao coronavírus na Alemanha é amplamente vista como uma história de sucesso na Europa. O número de mortos pela Covid-19 no país permaneceu relativamente baixo em comparação com outras nações e seu sistema de saúde com bons recursos permitiu que hospitais aceitassem pacientes de outros países europeus mais apavorados. Avançado, o setor de diagnósticos alemão permitiu testes em massa desde o início.

    Estima-se que a taxa de reprodução de coronavírus (uma medida crucial na pandemia) tenha caído para 0,65 na Alemanha, informou quinta-feira a agência de controle de doenças do país, o Instituto Robert Koch (RKI). Isso significa que, em média, 100 pessoas infectarão outras 65.

    Atualmente, a Alemanha é capaz de realizar 964 mil testes de coronavírus por semana, disse o RKI, embora apenas cerca de um terço dessa capacidade tenha sido usado na semana passada.

    Para Drobac, da Oxford Saïd Business School, a abordagem relativamente cautelosa da Alemanha para reabrir parece prudente.

    “Novos casos diários caíram para a casa das centenas – isso não é trivial, mas é um nível que pode ser gerenciado com um forte sistema de teste, rastreamento e isolamento”, opinou.

    Junto com a coordenação nacional, o sistema de governo descentralizado da Alemanha permite uma flexibilidade local útil para decidir exatamente como e quando facilitar as recomendações de distanciamento social.

    “As grandes cidades podem precisar se mover mais lentamente do que as áreas rurais, por exemplo. Porém, o mais importante é que a Alemanha instituiu um gatilho: se novos casos ultrapassarem 50 por 100 mil habitantes, a suspensão das regras de distanciamento social deixa de valer. Não sei se funcionará, mas parece uma abordagem inteligente com base nas evidências que temos”.

    Fim do lockdown de forma “lenta, mas segura”

    Visitantes usam máscara no primeiro dia da reabertura do museu Schirn Kunsthalle
    Visitantes usam máscara no primeiro dia da reabertura do museu Schirn Kunsthalle, em Frankfurt, Alemanha
    Foto: Alex Grimm/Getty Images (8.mai.2020)

    Em outros lugares, continua a discussão urgente sobre como suspender as restrições à vida das pessoas e reiniciar a economia sem comprometer o progresso alcançado na redução da disseminação do coronavírus. E mesmo quando as medidas são relaxadas, os cidadãos enfrentam uma realidade muito diferente.

    Na Itália, cerca de 4 milhões de pessoas puderam voltar ao trabalho nesta semana (muitas delas operários e trabalhadores de construção civil) e os italianos foram novamente autorizados a visitar familiares na mesma região. Bares e restaurantes reabriram, mas apenas para pedidos de comida para viagem.

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    Líderes do governo e da igreja também anunciaram na quinta-feira que missas e casamentos podem ser celebrados nas igrejas a partir de 18 de maio, depois de serem banidos por quase dois meses. Mas os serviços não terão a mesma aparência.

    De acordo com o protocolo acordado pelos líderes, padres e fiéis terão que usar máscaras. O padre dará a comunhão usando luvas e deve ter cuidado “para evitar qualquer contato com as mãos dos fiéis”. Os fiéis também terão que manter uma distância de um metro dos outros, dentro e fora da igreja, e qualquer pessoa com febre não será admitida.

    A França também começará a suspender as restrições de ficar em casa a partir de segunda-feira, 11 de maio, como explicou o primeiro-ministro Edouard Philippe na quinta-feira (7). De acordo com Phillipe, será um “processo muito gradual” para, de forma “lenta, mas segura”, suspender as medidas de lockdown.

    O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, deve fazer um pronunciamento no domingo, transmitido pela televisão, sobre as restrições de seu país. As manchetes dos jornais sugeriram que um relaxamento significativo está em jogo. Mas o secretário de Relações Exteriores Dominic Raab, que liderou o encontro diário sobre a Covid-19 com a imprensa no dia 7, disse que qualquer medida seria apenas “incremental” e “relativamente modesta”.

    Enquanto isso, nos Estados Unidos, enquanto alguns pressionam por uma reabertura mais rápida de empresas afetadas por ordens de ficar em casa, outros temem que o pico de infecções por Covid-19 ainda esteja por vir em alguns estados ou que uma segunda onda de infecções pode ser pior que a primeira.

    O professor Drobac alerta que a ideia de escolher entre priorizar a saúde pública ou a economia “é uma falácia”.

    “A única maneira de lidar com a crise econômica é lidar com a crise da saúde pública. Lembre-se: o lockdown não é uma solução, é uma interrupção de emergência que ganha tempo para desenvolver uma estratégia e se preparar”.

    “No momento, existem dezenas, senão centenas, de pequenos experimentos acontecendo em todo o mundo, à medida que países e comunidades tentam abrir novamente. Aprenderemos muito com esse período sobre como deve ser a nova normalidade nos próximos dois anos”.

    Yoonjung Seo e Sophie Jeong, da CNN Seul, e Nadine Schmidt, Stephanie Halasz e Livia Borghese, da CNN, contribuíram para esta reportagem.

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