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    Direitos iguais: nem mais, nem menos

    A lei da segregação impediu que negros tivessem acesso ao básico durante as décadas de 1950 e 1960 nos Estados Unidos

    Basília Rodriguesda CNN

    Eles só queriam sentar e comer na mesma lanchonete que as pessoas brancas, no início da década de 1960, e acabaram entrando para a historia. Quatro estudantes negros de Greensboro, na Carolina do Norte, desafiaram a segregação racial da época e, um dia, decidiram que não iriam mais aceitar ficarem em pé para comprar seus lanches, com pressa, enquanto somente pessoas brancas podiam se alimentar tranquilamente sentadas nas cadeiras do balcão da lanchonete. David Richmond, Franklin McCain, Ezell A. Blair, Jr. e Joseph McNeil são homenageados até hoje na cidade.

    “Um café, por favor”, disse um deles. “Não atendemos crioulos”, respondeu a garçonete. “Eles passaram a ir todos os dias para sentar na lanchonete. No início, não foram atendidos. As pessoas (brancas) ficavam enojadas, mas outras davam apoio. Eles tiveram muita coragem e vários grupos aderiram”, explica o guia.

    A atitude chamou atenção da imprensa e acabou servindo de inspiração para outros estudantes negros que também só queriam sentar nas lanchonetes. De acordo com o Centro e Museu Internacional de Direitos Civis, de Greensboro, pelo menos 75 mil estudantes se envolveram nestes protestos em vários estados do sul americano, em uma época obviamente sem redes sociais. Mais de 3.000 foram detidos.

    O que eles reivindicavam era o direito de acesso. Nem mais, nem menos. Durante os protestos, muitos estudantes negros passavam a tarde sentados lendo livros nas mãos, enquanto eram hostilizados. O exato balcão de onde tudo isso começou, com “os quatro de Greensboro”, como ficaram conhecidos, está em exposição no museu da cidade. Nenhum registro fotográfico é permitido, o que acaba deixando os visitantes mais focados em acompanhar o que os guias explicam.

    Várias historias icônicas podem ser encontradas no Museu Internacional dos Direitos Civis, em Greensboro, como a de Rosa Parks. Em 1955, ela se recusou a levantar da cadeira para dar lugar a pessoas brancas em um ônibus, na cidade de Montgomery, no Alabama. A segregação nos transportes coletivos era legalmente permitida. Parks estava sentada na ala de “colored”, como eram identificadas as pessoas negras. Ao notar que o ônibus estavam enchendo de pessoas brancas, de acordo com registros do museu, o motorista mudou a classificação para “white” (brancas), para impedir que elas ficassem em pé. Outros negros se levantaram mas Parks não. A polícia a deteve, o que acabou dando muita repercussão ao caso.

    Movimentos antirracistas convocaram um boicote aos ônibus que durou mais de 300 dias. Mais de 40 mil negros pararam de usar os ônibus da cidade. Em 1956, a Suprema Corte americana julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos.

    Líderes religiosos e ativistas, como o reverendo Martin Luther King, Jr., tiveram muita notoriedade nesta época. As igrejas e templos eram casas de oração e também foram onde vários negros aprenderam a fazer manifestações pacíficas.

    Ainda dentro de um contexto em que negros não tinham direito, nem mesmo ao mais básico, as Bíblias eram usadas para anotações sobre casamentos de negros, data de nascimento dos filhos, já que eles também não tinham acesso a registros oficiais.

    A visita pelo museu continua com painéis que contam a historia de negros que perderam a vida em assassinatos cruéis. A história conta episódios de segregação mas também mostra que os negros lutaram pela igualdade.

    * Basília Rodrigues viajou a convite da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil

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