Diplomatas árabes acreditam que trégua pode se ampliar e ser um “divisor de águas” para o conflito
Representantes afirmaram à CNN, em caráter reservado, que a trégua, inicialmente negociada para quatro dias, pode ser estendida para um período maior, de até 10 dias
A trégua de quatro dias que começou nesta sexta-feira (24) pode ser um “divisor de águas” para o conflito Israel-Hamas. A reportagem da CNN apurou, em caráter reservado, as expectativas de diplomatas de países árabes em Brasília para o cenário após a pausa.
Representantes afirmaram que a trégua, inicialmente negociada para quatro dias, pode ser estendida para um período maior, de até 10 dias.
Nesse cenário, a liberação de reféns poderia prosseguir, a entrada de serviços humanitários e de equipes de imprensa pode possibilitar mais apoio para os palestinos na região e, também, revelar ao mundo o real cenário da Faixa de Gaza pós-bombardeios.
Nesse cenário, uma trégua prolongada poderia criar condições para negociar um cessar-fogo ainda mais duradouro.
As autoridades de saúde locais estimam que, para além dos quase 15 mil mortos já contabilizados, pode haver ainda um número semelhante de vítimas sob os escombros, especialmente mulheres e crianças.
“Esses quatro dias vão servir para que a comunidade internacional veja o grau de destruição e selvageria na Faixa de Gaza. Israel não vai mais conseguir mais se posicionar como vítima depois que as imagens começarem a circular”, explicou um diplomata árabe.
Opinião pública e apoio internacional podem mudar
Além disso, os representantes de países árabes também acreditam que a pausa possa ter um peso junto à opinião pública.
“O apoio aos palestinos entre as massas tem aumentado, mas o apoio dos governos ainda é muito tímido. No entanto, a pressão dos líderes ocidentais sobre Israel já está começando a mudar, e a aceitação da trégua é uma prova disso”, disse à CNN um diplomata de país da região.
Para o desfecho do conflito, os diplomatas ainda acreditam na solução de dois Estados como um caminho viável, se houver vontade política entre as partes e, também, pela comunidade internacional. Eles destacaram a visita dos chefes de governo da Espanha e Bélgica ao Oriente Médio.
Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, e Alexander De Croo, da Bélgica, se reuniram com Benjamin Netanyahu nesta quinta-feira (23) para reforçar o apoio à luta com o Hamas, mas destacaram que as mortes de civis são desproporcionais.
Em entrevista coletiva antes da libertação dos reféns, ambos pediram um cessar-fogo. Até o momento, apenas 9 dos 27 países da União Europeia (UE) reconhecem oficialmente a Palestina como um estado soberano.
Liderança brasileira pode fazer a diferença
Há entre os representantes uma expectativa positiva sobre o posicionamento do Brasil neste conflito.
Apesar da diversidade de posicionamento entre países da região, os governos encaram o Brasil como um país amigo e uma liderança internacional relevante, com influência regional na América Latina e em blocos multilaterais, como o G20 e o Brics, e que pode fazer a diferença para uma negociação pelo fim do conflito.
Nas conversas, os diplomatas mencionam com destaque o papel histórico do embaixador Oswaldo Aranha na sessão da Assembleia Geral da ONU que aprovou as bases para uma solução de dois Estados, em 1947, e o posicionamento brasileiro desde então.
“Há bandeiras do Brasil em todo o Oriente Médio. Nós reconhecemos a grandeza do país. A diferença para outras lideranças é que o Brasil está procurando se manter ao lado do Direito Internacional”, afirmam.