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    Dezenas de mercenários russos morrem em emboscada no Mali

    Grupo Wagner foi alvo de ação coordenada; Ucrânia afirma ter contribuído para ataques

    Tim ListerAvery SchmitzDarya Tarasovada CNN*

    O vídeo é tão triunfante quanto horrível. Combatentes rebeldes, com rifles pendurados nos ombros, caminham entre mais de uma dúzia de corpos espalhados pela areia e pelas rochas. Fora da câmera, o barulho de tiros pode ser ouvido.

    A cena é de outra batalha nos vastos desertos do norte do Mali – só que desta vez as vítimas eram russas. No final do vídeo, a câmera mostra um homem branco barbudo caído no chão, aparentemente implorando por misericórdia.

    Um vídeo diferente mostra vários homens brancos, ainda vivos, ajoelhados entre os destroços de um veículo, enquanto guerrilheiros os cercam. Uma caminhonete com militantes se aproxima dos homens, enquanto outros os chutam na cabeça.

    Os mercenários russos parecem ter sido atacados quando acompanhavam as tropas do governo do Mali em patrulha na semana passada perto da fronteira com a Argélia, uma região vasta e ameaçadora onde grupos jihadistas e tuaregues têm estado ativos há muito tempo.

    O ataque foi reivindicado por um grupo rebelde tuaregue e pelo grupo afiliado da Al Qaeda no Sahel, JNIM (Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin). Conhecidos pela cooperação ad hoc, parecem ter colaborado para encurralar o comboio russo.

    A JNIM afirmou no domingo (28) que uma “emboscada complexa” destruiu o comboio, matando 50 russos e vários soldados malianos, e publicou vídeos mostrando vários veículos em chamas, bem como dezenas de corpos na área. Um porta-voz do grupo militante tuaregue disse que algumas tropas do Mali e combatentes russos também foram capturados durante a batalha.

    De acordo com alguns canais não oficiais do Telegram russo, cerca de 80 russos foram mortos.

    Isso tornaria esta, de longe, a pior perda para os paramilitares russos em vários anos de operação em África, uma vez que o Kremlin tem procurado usar forças paramilitares para desafiar a influência ocidental em todo o Sahel e na África Central e apoiar regimes instáveis.

    Numa reviravolta extraordinária na segunda-feira (29), um oficial ucraniano afirmou que Kiev havia fornecido informações de inteligência aos militantes.

    Andriy Yusov, representante do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), disse na televisão ucraniana que “os rebeldes receberam as informações necessárias, o que permitiu uma operação militar bem-sucedida contra os criminosos de guerra russos”.

    “Não discutiremos os detalhes no momento, mas haverá mais por vir”, acrescentou Yusov.

    Canais associados ao grupo Wagner, um grupo mercenário ativo na África que agora faz parte do que o Ministério da Defesa russo chama de Corpo Africano, disseram que inicialmente os seus combatentes infligiram pesadas perdas aos militantes.

    Mas os militantes reagruparam-se e o comando de Wagner “decidiu transferir forças adicionais para a área de combate”.

    Numa batalha que durou de quinta a sábado, os jihadistas aumentaram o número de ataques massivos, “usando armas pesadas, UAVs [drones] e veículos suicidas”, de acordo com uma conta do Telegram associada a Wagner.

    A última mensagem de rádio do contingente russo – na noite de sábado – dizia: “Somos três, continuamos a lutar”, segundo o canal.

    O comandante, Sergei Shevchenko, estava entre os mortos em batalha, segundo um segundo canal Wagner.

    Também entre os mortos, segundo vários canais russos do Telegram, estava um dos blogueiros militares mais populares da Rússia, Nikita Fedyanin, cujo canal Gray Zone tem mais de meio milhão de assinantes.

    A morte de Fedyanin não pode ser verificada de forma independente, mas uma fotografia do local lembrava muito a dele. O analista de longa data da Wagner, Denis Korotkov, disse à CNN que o canal Gray Zone parou de ser atualizado. “Acho que a história é verdadeira; ele provavelmente morreu”.

    Um ex-comandante do contingente emboscado disse no Telegram que mais de 80 homens foram mortos e mais de 15 foram capturados. O comandante – indicativo Rusich – disse no Telegram que estava tentando transmitir uma mensagem ao Ministério da Defesa russo. “Estou pronto para fornecer a mim mesmo e a todas aquelas pessoas que estão dispostas a me seguir de forma absolutamente gratuita, a fim de salvar os meninos”.

    Outra conta de rede social ligada ao Wagner falou de uma “pesada batalha desigual, em resultado da qual tanto os nossos combatentes como os militares do Mali morreram heroicamente”. Prometeu que quem quer que seja o inimigo, “o terrorismo mundial, os capangas dos países ocidentais ou a enfurecida heresia ucraniana… sabemos que o guerreiro russo continuará definitivamente a sua jornada”.

    Não há como verificar o número exato de vítimas russas (alguns canais russos dizem que o número de mortos não chegou a 80), nem quantos soldados malianos foram mortos. As forças armadas do Mali afirmaram na sexta-feira que apenas dois soldados morreram, mas que os confrontos estavam ocorrendo numa região que “continua a ser um bastião de concentração de terroristas e contrabandistas de todos os tipos”.

    Yevkurov tem visitado ocasionalmente o Mali e no seu canal Telegram o Corpo Africano disse em janeiro que planeava aumentar a sua força no Mali de 100 para 300 homens.

    Os últimos confrontos também indicam que uma coligação de grupos militantes está ganhando força, no Mali e noutros locais.

    Existem alianças em constante mudança entre grupos rebeldes no Sahel, mas os grupos tuaregues têm por vezes feito causa comum com o afiliado da Al Qaeda na região, o JNIM.

    A JNIM afirmou ter atacado contingentes Wagner no Mali no passado. Tem estado especialmente ativo recentemente tanto no norte do Mali como em várias partes da África Ocidental. Só na última semana, o JNIM reivindicou cinco ataques em diferentes regiões do Mali, Níger e Burkina Faso, de acordo com o site Intelligence Group, que rastreia grupos jihadistas. Um deles foi um ataque a um veículo russo na mesma região do Mali que o último ataque devastador.

    Além disso, realizou um raro ataque a uma base militar no norte do Togo na semana passada, ampliando o seu leque de operações.

    Mas é o ambicioso ataque ao comboio russo-maliano perto da fronteira com a Argélia que irá catapultar as operações da JNIM para um público muito mais vasto.

    A CNN entrou em contato com o Ministério da Defesa russo para comentar. Denis Korotkov, que trabalha no Dossier Centre, com sede em Londres, observou que “nem um único órgão oficial da Federação Russa se pronunciou sobre esta questão. Nem o Ministério da Defesa, nem o Ministério dos Relações Exteriores, nem o Kremlin comentaram as mortes de dezenas de cidadãos russos em confrontos no continente africano fora da zona especial de operações militares”.

    Um grande golpe na África

    Wagner e outros grupos mercenários russos estão habituados a perdas – na Síria, na República Centro-Africana, em Moçambique e no Mali nos últimos anos. A PMC Wagner perdeu centenas e provavelmente milhares de homens ao tomar a cidade ucraniana de Bakhmut há dois anos. E na Síria, há cinco anos, um ataque desastroso de mercenários russos a uma refinaria de petróleo resultou em dezenas de vítimas.

    Mas, para além do leste da Ucrânia, os mercenários russos raramente sofreram um revés desta escala.

    No meio de convulsões no Mali, na República Centro-Africana, no Níger e no Burkina Faso, elementos russos com o apoio do Kremlin intervieram para usurpar a influência tradicional francesa, começando na República Centro-Africana em 2018. O regime militar no Mali recorreu a Wagner logo após tomar o poder em 2021.

    Após a morte do chefe do Wagner, Yevgeny Prigozhin, num misterioso acidente de avião perto de Moscou no ano passado, muitos dos seus combatentes foram incluídos num Corpo Russo Africano dirigido pelo vice-ministro da Defesa, Yunus-Bek Yevkurov.

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