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    Desprezo de líderes à Cúpula das Américas revela desafios dos EUA na região

    Ausência de presidente mexicano e questões diplomáticas ampliam luta de Biden para consolidar liderança norte-americana em sua vizinhança

    Kevin Liptakda CNN

    A decisão do presidente do México de boicotar a Cúpula das Américas, realizada em Los Angeles (EUA), tornou inútil o trabalho de meses do presidente norte-americnao Joe Biden e outros altos funcionários para convencê-lo a comparecer.

    Agora, os principais países da América Central estão seguindo a liderança do presidente Andrés Manuel López Obrador, enviando apenas delegados de nível inferior em vez de seus líderes.

    Quando Biden chegar à Cúpula nesta quarta-feira (8), as perguntas sobre a lista de convidados do evento e os participantes terão obscurecido seu objetivo maior, uma fonte de frustração para funcionários do governo que não esperavam necessariamente a bagunça.

    A decisão de vários países de ficar longe do encontro no sul da Califórnia, um protesto contra a decisão de Biden de não convidar três autocratas regionais, destacou a luta para exercer a influência dos EUA em uma região que se tornou politicamente dividida e enfrenta dificuldades econômicas.

    E expôs as dificuldades e contradições na promessa de Biden de restaurar os valores democráticos da política externa americana. Mesmo quando ele se posiciona contra o convite de ditadores para uma cúpula em solo norte-americano, provocando raiva e boicotes desses principais parceiros regionais, seus assessores estão simultaneamente planejando uma visita à Arábia Saudita – vista como uma necessidade em um momento de crise energética global. apesar do grave histórico de direitos humanos do reino.

    A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse na terça-feira (7) que o país é um “parceiro importante”, embora Biden tenha dito uma vez que deve se tornar um “pária”.

    No fim, a Casa Branca anunciou que 23 chefes de Estado participarão da Cúpula das Américas desta semana, que funcionários do governo disseram estar de acordo com as iterações anteriores do encontro trienal. Um líder que estava em cima do muro, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, comparecerá e encontrará Biden pela primeira vez.

    No entanto, as ausências dos presidentes de México, El Salvador, Honduras e Guatemala ainda são notáveis, uma vez que os Estados Unidos trabalharam para cultivar esses líderes como parceiros na imigração, uma questão que paira como uma responsabilidade política para Biden.

    Autoridades do governo descartaram na segunda-feira (6) as preocupações sobre a participação na cúpula, dizendo que não acreditam que os delegados de nível inferior de certos países alterarão o resultado.

    “Realmente esperamos que a participação não seja de forma alguma uma barreira para a realização de negócios significativos na cúpula. Na verdade, muito pelo contrário, estamos muito satisfeitos com a forma como os resultados estão se moldando e com o compromisso de outros países “, disse um alto funcionário do governo, acrescentando que os compromissos variam de curto a longo prazo.

    A Casa Branca insistiu que o presidente foi firme em sua opinião de que os líderes autocráticos de Cuba, Venezuela e Nicarágua não deveriam ser convidados a participar – mesmo que isso signifique aumentar as divergências com outros países da região.

    “No fim das contas, simplesmente não acreditamos que ditadores devam ser convidados. Não lamentamos isso, e o presidente manterá seu princípio”, disse Jean-Pierre.

    Cúpula das Américas que é realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos / 05/06/2022 REUTERS/Mike Blake

    Problemas estão no horizonte há meses

    Biden, que chega a Los Angeles nesta quarta-feira, deve anunciar uma nova parceria com países do Hemisfério Ocidental durante a reunião como parte de um esforço mais amplo para estabilizar a região, segundo as autoridades.

    Seu governo trabalha desde o ano passado para organizar a Cúpula, que foi formalmente anunciada em agosto passado. A cidade de Los Angeles foi escolhida como sede em janeiro. Biden nomeou o ex-senador Chris Dodd, seu amigo e ex-colega no Comitê de Relações Exteriores do Senado, como assessor especial do evento.

    Dodd, a vice-presidente Kamala Harris e até a primeira-dama Jill Biden viajaram pela região para obter apoio. No entanto, à medida que o encontro se aproximava, ficou evidente que um evento destinado a reafirmar a liderança americana na região estava enfrentando sérios obstáculos.

    Durante semanas antes do início da cúpula, López Obrador deu a entender que boicotaria a menos que todos os líderes da região fossem convidados – incluindo os de Cuba, Nicarágua e Venezuela. Outros líderes, principalmente de esquerda, sinalizaram que também poderiam não comparecer se os convites não fossem para todos.

    Funcionários do governo questionaram se esses líderes cumpririam suas ameaças, sugerindo que eram tentativas de jogar para o público doméstico que muitas vezes é cético em relação aos Estados Unidos.

    Durante um telefonema de abril entre Biden e López Obrador, o assunto foi debatido. A Casa Branca disse que os dois “esperavam se encontrar novamente na Cúpula das Américas de junho”, um sinal de que o governo acreditava que o presidente mexicano compareceria.

    Nas últimas semanas, Dodd passou longas sessões virtuais pressionando López Obrador a reconsiderar sua ameaça de boicote. Membros do Congresso – incluindo o senador Bob Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado – protestaram publicamente contra o convite de quaisquer líderes de Cuba, Venezuela ou Nicarágua.

    “O maior problema é que o foco na lista de convidados nos afasta do foco na substância, mas essa é a lógica que acontece antes de uma cúpula. Não falamos muito sobre a substância porque a cúpula ainda não começou, falamos apenas sobre quem pode estar lá”, disse Roberta Jacobson, ex-embaixadora dos EUA no México.

    Em última análise, as semanas de especulação foram encerradas – mas não da maneira que a Casa Branca esperava.

    “Não pode haver uma Cúpula das Américas se todos os países das Américas não puderem participar”, disse López Obrador em entrevista coletiva na Cidade do México. “Isso é dar continuidade às velhas políticas intervencionistas, de desrespeito às nações e seus povos”.

    Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador / Reuters

    Ausência do presidente mexicano não faz parte de um racha maior

    Autoridades mexicanas transmitiram a decisão de seu presidente à Casa Branca com antecedência, e Biden foi informado antes que a notícia se tornasse pública. Em vez de se encontrarem na cúpula, Biden e López Obrador se reunirão em Washington no próximo mês.

    “O fato de que eles discordam sobre essa questão agora está muito claro”, disse um alto funcionário do governo. As autoridades procuraram enfatizar que a decisão de boicotar estava enraizada em um desacordo específico sobre a lista de convidados e não indicava uma divergência maior.

    “O que fizemos nas últimas semanas, há quase um mês, é consultado com nossos parceiros e amigos na região para que compreendamos seus pontos de vista”, disse o oficial. “No fim, o presidente decidiu e destacou isso em todos os compromissos que tivemos… que acreditamos que o melhor uso desta cúpula é reunir países que compartilham um conjunto de princípios democráticos”.

    Biden está voltando seu foco para as Américas após uma série de crises de política externa em outras partes do mundo, incluindo a retirada caótica do Afeganistão e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

    Ele completou sua primeira visita à Ásia no final do mês passado. Esta região é uma onde sua mensagem animadora de “autocracia versus democracia” está sendo colocada em prática em tempo real, enquanto a China trabalha para se aproximar de nações com dificuldades econômicas que buscam apoio do exterior.

    No discurso de abertura na quarta-feira, Biden apresentará a chamada “parceria das Américas”, que se concentrará em recuperação econômica, mobilização de investimentos, cadeias de suprimentos, energia limpa e comércio – tudo com a esperança de fortalecer as parcerias dos EUA na região.

    Durante a cúpula, Biden também deve anunciar mais de US$ 300 milhões em assistência para combater a insegurança alimentar, além de outros compromissos do setor privado, bem como iniciativas de saúde e uma parceria sobre resiliência climática.

    Questão da imigração

    À medida que a Cúpula está em andamento, o imperativo de fazer progressos na imigração está sendo claramente ilustrado no sul do México. Uma nova caravana de imigrantes partiu a pé na segunda-feira, para chamar a atenção para a questão enquanto os líderes se reúnem em Los Angeles.

    Um funcionário do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados disse que um grupo de cerca de 2.300 pessoas deixou a cidade de Tapachula, no sul do México rumo ao norte. O grupo é composto principalmente por venezuelanos, mas também inclui migrantes da Nicarágua, Cuba, El Salvador e Honduras.

    Uma organização mexicana de imigração disse em um boletim que o grupo incluía principalmente famílias e crianças “que exigem acesso a procedimentos de migração e tratamento digno por parte das autoridades”.

    Tapachula, localizada do outro lado da fronteira da Guatemala, é uma estação de passagem popular para migrantes que viajam da América Central.

    De acordo com as leis de imigração mexicanas, os migrantes e requerentes de asilo muitas vezes são obrigados a esperar na área por vários meses com oportunidades limitadas de trabalho. Caravanas de imigrantes para o norte deixaram Tapachula regularmente no ano passado, embora a desta semana pareça ser uma das maiores.

    Em Los Angeles, espera-se que Biden e outros líderes concordem com um novo documento de migração, apelidado de Declaração de Los Angeles, durante suas reuniões de sexta-feira (10). O objetivo é explicar como os países da região e do mundo devem compartilhar a responsabilidade de acolher os migrantes.

    Autoridades disseram estar confiantes de que o México assinaria.

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