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    Desaparecimento das nuvens de Netuno pode estar ligado ao ciclo solar, afirma estudo

    Constatação levou quase três décadas e só foi possível graças à ajuda de três telescópios espaciais

    Kristen Rogersda CNN

    Os astrônomos estão intrigados com um mistério em torno de Netuno e agora acreditam que, enfim, desvendaram esse segredo quanto ao planeta de gelo. As nuvens fantasmagóricas e com aspecto alongado desapareceram em grande parte do planeta há quatro anos. Hoje, apenas uma mancha paira sobre o polo sul de Netuno.

    Graças a uma análise de quase três décadas de observações do planeta pertencente ao sistema solar — capturadas por três telescópios espaciais –, os cientistas determinaram que a menor incidência de nuvens podem indicar uma sincronia com o ciclo solar, de acordo com um estudo recente publicado no jornal Ícaro.

    “Esses dados notáveis ​​nos fornecem a evidência mais forte de que a cobertura de nuvens de Netuno se correlaciona com o ciclo do Sol”, disse o autor sênior do estudo Imke de Pater, professor emérito de astronomia da Universidade da Califórnia, Berkeley, em um comunicado à imprensa. “Nossas descobertas apoiam a teoria de que os raios do Sol (ultravioleta), quando fortes o suficiente, podem desencadear uma reação fotoquímica que produz as nuvens de Netuno.”

    Durante o ciclo solar, o nível de atividade nos campos magnéticos dinâmicos do Sol aumenta e diminui. O campo magnético muda a cada 11 anos, à medida que se torna mais emaranhado como um novelo de lã, de acordo com a Nasa. Quando há atividade elevada no Sol, a radiação ultravioleta mais intensa bombardeia o sistema solar.

    Com dados do Telescópio Espacial Hubble da Nasa, do Observatório WM Keck no Havaí e do Observatório Lick na Califórnia, os cientistas observaram 2,5 ciclos de atividade de nuvens durante o período de 29 anos de observações de Netuno — durante o qual a refletividade do planeta aumentou em 2002 e diminuiu em 2007. Netuno brilhou novamente em 2015, antes de escurecer em 2020 para o nível mais baixo já visto. Foi quando a maior parte da cobertura de nuvens desapareceu.

    “Mesmo agora, quatro anos depois, as imagens mais recentes que obtivemos em junho passado ainda mostram que as nuvens não retornaram aos seus níveis anteriores”, disse o principal autor do estudo, Erandi Chavez, estudante de doutorado no Center for Astrophysics, Harvard & Smithsonian, em um comunicado.

    As descobertas são “extremamente emocionantes e inesperadas, especialmente porque o período anterior de baixa atividade de nuvens em Netuno não foi tão dramático e prolongado”, acrescentou Chávez.

    Uma correlação surpreendente

    Os autores também descobriram que dois anos após o pico do ciclo, mais nuvens apareceram em Netuno – e quanto mais nuvens havia, mais brilhante Netuno era devido à luz do sol refletida nele. Essa conexão foi “surpreendente para os cientistas planetários porque Netuno é o planeta mais distante do nosso sistema solar e recebe luz solar com cerca de 0,1% da intensidade que a Terra recebe”, de acordo com a Nasa. As descobertas também contradizem a ideia de que as nuvens são afetadas pelas quatro estações de Netuno, que duram cada uma cerca de 40 anos.

    “Este é um artigo muito interessante e um bom trabalho de detetive detalhado à moda antiga”, disse Patrick Irwin, professor de física planetária da Universidade de Oxford, que não esteve envolvido no estudo, por e-mail. “Este novo artigo cobre um período de tempo mais longo do que os estudos anteriores e mostra uma correlação convincente da cobertura de nuvens observada com o brilho UV solar”.

    Mas há um intervalo de dois anos entre o pico do ciclo solar e o aumento da abundância de nuvens em Netuno. Os autores acham que essa lacuna pode ser explicada pela fotoquímica que ocorre no alto da atmosfera superior do planeta, que leva tempo para produzir nuvens.

    A relação entre o aumento do brilho do Sol e a formação de nuvens pode ser devido à geração de moléculas ionizadas que podem atuar como núcleos de condensação de nuvens e ajudar a iniciar a condensação, disse Irwin.

    “É fascinante poder usar telescópios na Terra para estudar o clima de um mundo a mais de 2,5 bilhões de milhas de distância de nós”, disse o coautor do estudo Carlos Alvarez, astrônomo da equipe do Observatório Keck, em um comunicado. “Avanços em tecnologia e observações nos permitiram restringir os modelos atmosféricos de Netuno, que são essenciais para entender a correlação entre o clima do gigante de gelo e o ciclo solar”.

    A equipe de pesquisa ainda está monitorando a atividade das nuvens de Netuno, já que mais luz ultravioleta também pode escurecer as nuvens do planeta, diminuindo seu brilho geral, disseram os autores.

    Além disso, as tempestades de Netuno que surgem da atmosfera profunda influenciam a cobertura de nuvens do planeta – mas não estão relacionadas às nuvens formadas na atmosfera superior. Essa variável pode interferir nos estudos que analisam as correlações entre as nuvens produzidas fotoquimicamente e o ciclo solar. Mais pesquisas também poderiam sugerir quanto tempo poderá durar a quase ausência de nuvens em Netuno.

    Essas buscas, por sua vez, poderiam não apenas expandir o conhecimento dos astrônomos sobre Netuno, mas também ajudar os pesquisadores a entender melhor os muitos exoplanetas fora do sistema solar que se acredita terem características semelhantes ao gigante de gelo, de acordo com a Nasa.

    O estudo também “sublinha a necessidade de continuar monitorando os planetas do sistema solar”, disse Irwin. “Só observando estes planetas em intervalos regulares é que é possível construir um conjunto de dados fiáveis ​​e de longo prazo para investigar estas variações periódicas.”

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