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    Declaração de Mahmoud Abbas sobre “50 Holocaustos” na Palestina causa indignação

    Líder palestino comparou ataques de Israel contra seu povo ao genocídio de judeus na Segunda Guerra Mundial

    Hadas Goldda CNN

    O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, atacou um ponto extremamente sensível na terça-feira (16) ao afirmar que Israel havia causado “50 holocaustos” contra os palestinos. A declaração causou indignação dos líderes mundiais e uma enxurrada de críticas nas redes sociais.

    “De 1947 a hoje, Israel cometeu 50 massacres em aldeias e cidades palestinas”, disse Abbas em árabe, ao lado do chanceler alemão Olaf Scholz em uma coletiva de imprensa em Berlim. “Cinquenta massacres, 50 holocaustos, e até hoje, e todos os dias há vítimas mortas pelos militares israelenses.”

    Momentos antes, um jornalista havia pedido a Abbas que pedisse desculpas pelo massacre dos Jogos Olímpicos de 1972 em Munique. Na ocasião, membros da equipe israelense foram feitos reféns por soldados palestinos, que à época eram membros do grupo Fatah (de Abbas).

    O ataque terminou com a morte de 11 atletas e treinadores israelenses, além de um policial da Alemanha Ocidental, após um cerco, impasse e tiroteio.

    Em setembro de 2022, completam-se 50 anos do ataque de Munique.

    Scholz não reagiu imediatamente à resposta de Abbas no palco, mas, mais tarde, tuitou: “Estou indignado com os comentários ultrajantes feitos pelo presidente palestino Mahmoud Abbas. Para nós, alemães em particular, qualquer relativização da singularidade do Holocausto é intolerável e inaceitável. Condeno qualquer tentativa de negar os crimes do Holocausto”.

    O embaixador da Alemanha em Israel, Steffen Seibert, tuitou que “o que o presidente Abbas disse em Berlim sobre ‘50 holocaustos’ é errado e inaceitável. A Alemanha nunca apoiará qualquer tentativa de negar a dimensão singular dos crimes do Holocausto”.

    Os líderes israelenses também condenaram amplamente a declaração, com o primeiro-ministro Yair Lapid dizendo: “Mahmoud Abbas acusar Israel de ter cometido ‘50 Holocaustos’ em pleno solo alemão não é apenas uma vergonha moral, mas uma mentira monstruosa”.

    “Seis milhões de judeus foram assassinados no Holocausto, incluindo um milhão e meio de crianças judaicas. A história nunca o perdoará”, tuitou Lapid.

    O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, descreveu as palavras de Abbas como “desprezíveis e falsas”. “Sua afirmação é uma tentativa de distorcer e reescrever a história”, falou Gantz.

    As observações feitas em outras partes do mundo também mostram a indignação com a declaração. A enviada especial do Departamento de Estado dos EUA para monitorar e combater o antissemitismo, embaixadora Deborah E. Lipstadt, descreveu-a como “inaceitável”, acrescentando que “a distorção do Holocausto pode ter consequências perigosas e alimentar o antissemitismo”.

    A equipe de Abbas procurou esclarecer as observações na quarta-feira (17). “O presidente Mahmoud Abbas reafirma que o Holocausto é o crime mais hediondo que ocorreu na história humana moderna”.

    Sua resposta “não se destinava a negar a especificidade do Holocausto, que foi cometido no século passado, e é condenado de forma mais enfática possível”, acrescentou.

    “O que se quis dizer pelos crimes mencionados por Abbas foram os massacres cometidos contra o povo palestino desde a Nakba das forças israelenses, crimes que não pararam até hoje”, concluiu a declaração.

    A Nakba se refere ao estabelecimento do estado de Israel em 1948, chamado al-Nakba ou “a catástrofe” pelos palestinos, quando mais de 700 mil palestinos foram expulsos ou fugiram de suas casas durante a guerra árabe-israelense resultante.

    Não é a primeira vez que Abbas faz observações consideradas antissemitas. Como doutorando na União Soviética na década de 1980, Abbas escreveu uma tese que alegava uma relação secreta entre nazistas e os primeiros defensores de um estado judaico, de acordo com a agência de notícias Reuters.

    O tema ressurgiu em 2018, quando ele disse que judeus que viviam na Europa sofriam desde o século 11 “não por causa de sua religião, mas sim por causa de sua profissão social”.

    “A questão judaica que se espalhou contra os judeus em toda a Europa não foi por causa de sua religião, foi por causa da usura e dos bancos”, declarou Abbas durante o discurso de abertura no Conselho Nacional Palestiniano (PNC), o parlamento da Organização para a Libertação da Palestina.

    Após a indignação maciça, Abbas pediu desculpas pelos comentários, dizendo que condenava o antissemitismo e chamando o Holocausto de “o crime mais hediondo da história”.

     

    *Abeer Salman e Amir Tal, da CNN, contribuíram para esta reportagem

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