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    Com diplomacia ambiental, Cúpula da Amazônia pode reaproximar França e Brasil

    Foco na sustentabilidade é o caminho para fortalecer a imagm do Brasil no exterior, que sofreu arranhões com apoio a regimes de Venezuela e Nicarágua, além do posicionamento na guerra da Ucrânia 

    Lourival Sant’Annada CNN

    São Paulo

    A Cúpula da Amazônia, que se realizará em Belém na terça e quarta-feira, representa a maior oportunidade do presidente Lula de projetar sua tão almejada liderança sobre o Sul Global. Mais que isso, poderia abrir caminho para o Brasil se tornar um país avançado.

    O Brasil detém 60% da área da Floresta Amazônica. O restante está distribuído por outros sete países vizinhos, e mais a Guiana Francesa, departamento ultramarino. Além dos presidentes de seis países amazônicos, participarão também chefes de estado ou de governo da França, Alemanha e Noruega. Esses dois últimos países são doadores para o Fundo Amazônia, criado em 2009 e reativado no governo Lula, depois de um congelamento no período de Jair Bolsonaro.

    Emmanuel Macron tem se engajado com entusiasmo na defesa da Amazônia, como presidente do único país europeu que detém uma parte da floresta, por meio da Guiana Francesa. Foi a Amazônia que levou à rixa entre Macron e Bolsonaro. E é certamente o principal ponto de atração na reaproximação França-Brasil.

    As empresas francesas estão historicamente entre as que mais investem no Brasil.  A França lidera o protecionismo agrícola europeu, que tem dificultado a entrada de produtos brasileiros no mercado do continente. A justificativa para esse protecionismo tem sido o desmatamento da floresta.

    Cúpula da Amazônia reúne representantes de 15 países

    A diplomacia ambiental de Lula, reforçada pelos excelentes resultados no combate ao desmatamento, é a melhor carta na manga do Mercosul para remover essas barreiras protecionistas.

    A complacência de Lula com as ditaduras da Venezuela e da Nicarágua e com a agressão da Rússia contra a Ucrânia tem minado não só as relações com a Europa e com os Estados Unidos como também o papel de natural liderança do Brasil na América do Sul.

    Os presidentes do Chile, Uruguai, Paraguai e até da Colômbia manifestaram seu incômodo com as posições de Lula (no caso colombiano, em relação especificamente à Rússia).

    A Amazônia ocupa mais da metade do território brasileiro, com quase 30 milhões de habitantes. A região tem a maior biodiversidade do mundo. Lá estão escondidas soluções para inúmeros problemas da humanidade, na forma de princípios farmacológicos ativos, cosméticos, alimentos, matérias-primas, insumos e serviços ambientais.

    Parte dessa riqueza é conhecida por povos indígenas que vivem na floresta há milhares de anos. O evento que começa neste fim de semana em Belém, com a participação de milhares de especialistas, ativistas e representantes dos povos tradicionais, inclui a discussão da exploração sustentável dessas riquezas.

    Cúpula em Belém discutirá o futuro da Amazônia

    O presidente Lula tem feito declarações que indicam que ele está consciente do poder transformador, do ponto de vista econômico, científico e social, dessa exploração.

    A Academia Brasileira de Ciências apresentou em 2008 uma proposta que prevê a criação de centros de pesquisa na Amazônia para descobrir e patentear esses recursos. O custo previsto, de R$ 60 bilhões ao longo de 10 anos, em valores atualizados, é irrisório: 0,04% do PIB.

    As vantagens são claras, tanto do ponto de vista geopolítico quanto econômico. A sociedade brasileira, aí incluída sua comunidade científica, está pronta para abraçar essa tarefa. O Brasil acumula muitas experiências bem-sucedidas de desenvolvimento sustentável, e instituições científicas de primeira linha, apesar do seu sucateamento nas últimas décadas.

    O desafio do governo é não se deixar distrair por tentações que desviam o foco de sua política externa e de desenvolvimento sustentável.