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    Cristina Kirchner descarta oficialmente candidatura à presidência da Argentina 

    Em texto publicado em seu site oficial, ela acusa o judiciário do país de agir contra seu partido e o governo Alberto Fernández; sequência de acontecimentos no ano passado contribuíram para a sua decisão

    Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina
    Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina Reprodução/Reuters

    Fábio Mendesda CNN

    A ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, confirmou oficialmente que não será candidata nas eleições presidenciais que acontecerão em outubro deste ano. A atual vice se pronunciou por meio de longo texto em seu site oficial, que foi replicado em suas redes sociais na terça-feira (16). Ela há havia se pronunciado anteriormente sobre não se candidatar, mas havia expectativa nos meios peronistas de que ela mudaria de ideia.

    No texto, Kirchner faz várias citações ao poder judiciário, ao empresariado argentino e também a alguns veículos de imprensa, acusando-os de atuarem em conjunto para desestruturar o governo do presidente Alberto Fernández e os peronistas de uma forma geral. E explica que não poderia se candidatar e correr risco de ser impugnada posteriormente.

    “Não vou entrar no jogo perverso que nos impõem com fachada democrática para que esses mesmos juízes, hoje empoleirados na Corte, emitam uma decisão me desqualificando ou afastando diretamente qualquer candidatura que eu tenha, para deixar o peronismo em absoluta fragilidade e fragilidade diante da disputa eleitoral”, afirmou no texto.

    Cristina Kircher deixa evidente, nas entrelinhas, o peso que os acontecimentos de 2022 tiveram em sua decisão. Em setembro, ela foi alvo de uma tentativa de assassinato, com uma arma apontada para seu rosto. O crime só não foi consumado porque o revólver engasgou. Pouco tempo depois, em dezembro, ela foi condenada a seis anos de prisão, acusada de corrupção.

    A ex-presidenta também reafirma que a decisão foi longamente analisada. “Não foi uma decisão precipitada ou um produto do momento, mas uma decisão fundamentada e ponderada. Eu os conheço, sei como pensam, como agem e como vão agir. Eu os vi ao longo da história e experimentei de perto o jogo deles e da minha família, com uma perseguição amarrada com precisão cirúrgica ao calendário eleitoral”.

    Kirchner se refere à decisões judiciais que resultaram em uma condenação por corrupção e também à recente decisão de se cancelar as eleições para governador nas províncias de provinciais de Tucumán e San Juan. No texto, ela chama os tribunais argentinos de “Partido Judiciário” e os acusam de agir contra o Peronismo e de atuar em consonância com as ações políticas do Juntos pela Mudança, a coalizão de centro-direita que se coloca como principal força opositora ao atual governo.

    “Desde 2016, o Partido Judiciário funciona como uma Força-Tarefa do Juntos pela Mudança e dos grupos econômicos concentrados para produzir a eliminação de seus adversários políticos. Eles nos provocam dessa fachada de justiça e democracia mutiladas e querem que caiamos no terreno que eles querem: violência e intolerância. Eles nos tratam como inimigos e usam frases como “nos eliminem” ou “acabam com o kirchnerismo”. Não somos isso e acreditamos firmemente que na Democracia há adversários, não inimigos”.

    Presidente da Argentina, Alberto Fernández, também não será candidato este ano / 11/11/2022 Christophe Ena/Pool via REUTERS

    Em dezembro do ano passado, Kirchner foi declarada culpada em um processo que investigava sua participação em um esquema de fraude durante seu governo, entre 2007 e 2015. De acordo com a denúncia do Ministério Público argentino, Kirchner e vários ex-funcionários de seu governo formaram contratos milionários para obras rodoviárias que estariam incompletas, superfaturadas e que seriam também desnecessárias.

    Devido ao seu cargo como vice-presidente, Kirchner tem a mesma imunidade constitucional que o presidente, o que a protege legal e civilmente em um processo criminal. Assim, não pode ser presa, a menos que seja afastada por impeachment.

    Segundo a decisão judicial, a vice-presidenta também estaria inelegível por oito anos. No entanto, a sentença contra ela não é definitiva porque está pendente de recurso e não pode ser executada até que todas as instâncias sejam esgotadas. Desta forma, ela poderia sair candidata, mantendo-se por meio de recurso. Evidentemente, há uma margem de risco nesta manobra, que Cristina Kirchner achou por bem não adotar.

    Embora ela tenha se pronunciado, no ano passado, a respeito de não se candidatar à presidência da República, ainda havia alguma esperança por parte de seus correligionários para que ela mudasse de ideia. Afinal de contas, o atual presidente anunciou em abril deste ano que não tentará a reeleição, envolto que estava em uma onda de baixa popularidade provocada pela degradação econômica que vive o país, com a inflação elevada e a taxa de juros atingindo níveis estratosféricos.

    Sem o candidato natural no páreo, e os peronistas vivendo uma entressafra de grandes lideranças, a pressão para que Cristina Kirchner anunciasse sua candidatura cresceu. No entanto, o receio de ter sua candidatura impugnada falou mais alto.

    Com a decisão de Cristina Kirchner, está certo que o pleito argentino não terá os últimos três ocupantes da Casa Rosada. Além dela e de Fernández, Mauricio Macri, do Juntos pela Mudança, também anunciou que está fora do páreo. Com isso, a disputa dentro da coalisão de centro-direita fica entre o atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich. Dentro do Peronismo os candidatos em potencial são o ministro da Economia, Sergio Massa, o veterano político Daniel Scioli e o ministro do Interior, Eduardo de Pedro.