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    Crise recente de imigrantes na Itália traz de volta divisões entre europeus e problema sem fim

    Na terça-feira (19), a primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, disse que não permitirá que o país “se torne o campo de refugiados da Europa“

    Derla Cardosoda CNN , São Paulo

    A Itália, país mais afetado pela pressão migratória na Europa, discute estratégias para resolver as entradas de refugiados em busca de asilo via Mediterrâneo.

    No episódio mais recente da “crise sem fim”, a ilha de Lampedusa, na Itália, que tem menos de sete mil habitantes, recebeu sete mil imigrantes em dois dias. O número alarmou o prefeito, que ligou para Roma e alertou que o “problema chegou a um ponto de não retorno”.

    Pressionada, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, tem feito duros posicionamentos nos últimos dias. Antes de falar na Assembleia-Geral da ONU, disse que “não vai deixar a Itália se tornar o campo de refugiados da Europa”.

    No discurso, pediu uma “guerra global” contra o tráfico humano. “Redes criminosas se aproveitam do desespero de milhões para embolsar facilmente bilhões. Vendem viagens à Europa com catálogos como se trabalhassem numa agência de turismo. Mas as viagens, e isso os catálogos não mostram, muitas vezes, levam a uma sepultura no fundo do Mar Mediterrâneo”, afirmou Meloni, na quarta-feira (20).

    A premiê italiana escreveu ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, para discutir o tema da imigração na próxima cúpula da União Europeia, em outubro.

    Países mais afetados, como a Itália, Grécia e Espanha, querem uma divisão mais justa dos refugiados entre o bloco.

    “A promessa de firmeza contra os imigrantes rendeu os 27% dos votos de Giorgia Meloni. A chegada dos imigrantes foi o principal chamariz eleitoral dela. O problema é que o contexto do norte da África empurrou essas pessoas cada vez mais para Itália”, avalia o professor de Relações Internacionais, Leonardo Trevisan, da ESPM.

    A representante da Agência de Refugiados da ONU para Itália, Chiara Cardoletti, classificou a situação em Lampedusa como “crítica” e disse que retirar as pessoas da ilha italiana deve ser uma “prioridade absoluta”.

    Apesar disso, a realocação dos refugiados enfrenta resistência dos outros países europeus. “A França não vai receber os imigrantes de Lampedusa. A França quer uma posição firme. Há muita imigração irregular na Europa, na França e na Itália, que é necessário combater. E não é acolhendo mais pessoas que vamos secar o fluxo”, afirmou o ministro francês do Interior, Gerald Darmanin, em entrevista à rede francesa TF1.

    A sugestão francesa é deportar de volta à África todos aqueles que não têm os requisitos necessários para pedir um visto de asilo de perseguição sexual, religiosa ou política.

    O papa Francisco desembarcou nessa sexta-feira (22) em Marselha, na França, dizendo que a crise dos imigrantes do Mediterrâneo “uma terrível falta de humanidade”. O pontífice deve tratar do assunto durante as reuniões com autoridades francesas, incluindo o presidente Emmanuel Macron.

    Sem citar o caso de Lampedusa, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, disse que o país precisa restringir a imigração ilegal, porque os “números estão explodindo”. O posicionamento veio depois de acusações de partidos conservadores de que o governo faz o suficiente. No fim de agosto, os pedidos de asilo no país subiram 78% em comparação com o ano passado.

    Países como a Hungria, querem cada vez mais restringir as entradas. No dia 2 de outubro, o governo húngaro vai realizar um referendo para que a população responda se concorda em receber imigrantes como parte de um plano de distribuição de refugiados do bloco.

    A onda recente de refugiados no Mediterrâneo é composta principalmente por pessoas que fogem da instabilidade política na Tunísia. Antes disso, a maioria saía da Líbia, país que vive em meio ao caos político e à crise humanitária há anos.

    Em setembro, a região norte do país foi devastada por uma grande enchente. A falta de um governo central e, em consequência, de uma rede de fiscalização efetiva transforma o litoral líbio na porta de saída mais usada pelos traficantes de pessoas.

    Veja também: Mortes após chuvas na Líbia podem passar de 20 mil

    No ano passado, a Itália endureceu as regras para a atuação de navios de organizações humanitárias que navegam no Mediterrâneo em busca de imigrantes em perigo.

    Pela norma, após um resgate, as embarcações devem buscar imediatamente um porto para levar os imigrantes, ou seja, não devem permanecer no mar em busca de mais pessoas para salvar. A pena para o descumprimento é a apreensão do navio da ONG, algo que já aconteceu algumas vezes.

    Por conta do aumento da fiscalização da Guarda Costeira italiana, traficantes de pessoas embarcam os imigrantes em barcos cada vez menores, que não conseguem, muitas vezes, completar a travessia em alto mar.

    As notícias de naufrágios com poucos ou nenhum sobrevivente são quase que diárias. Nada indica que isso vá mudar em breve.

    *Com informações de Reuters

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