Crise não deve fazer argentinos virem para o Brasil, avalia economista
Para Miguel Daoud, o país também se recupera da pandemia e não oferece oportunidades atraentes para estrangeiros
A crise política e econômica na Argentina não deve provocar um êxodo da população de lá para o Brasil, afirmou o economista Miguel Daoud em entrevista à CNN neste sábado (14).
“A Argentina atingiu um número muito elevado na pobreza, praticamente metade da população, uma grande parte na miséria absoluta. Você procura outro país quando há condições de lá se estabelecer com emprego, renda, e, infelizmente, o Brasil não tem condições de abrigar trabalhadores ou pessoas em condição de pobreza da Argentina. Não acredito na hipótese de haver uma invasão de argentinos por uma questão de miséria e desemprego, pois aqui eles também não teriam oportunidade, já que o Brasil tenta se recuperar de uma forte crise pela pandemia”, analisou o economista.
Na avaliação de Daoud, a relação econômica entre os dois países já foi melhor, e a redução no fluxo de comércio é “bastante preocupante” para o Brasil.
“O fluxo de comércio [da Argentina] com o Brasil teve uma redução significativa. Para o Brasil é bastante preocupante, pois a relação comercial entre os dois está calçada em produtos de valor agregado, e a Argentina é um grande produtor de commodities, como trigo e milho, que de certa forma estabiliza um pouco da inflação no Brasil. Até pouco tempo atrás, o Brasil era o maior parceiro comercial da Argentina, hoje a China ocupa esse lugar.”
Ainda segundo o economista, desavenças políticas precisam ser deixadas de lado e a relação comercial entre os dois países necessita de “pragmatismo”.
“Com a eleição de [Jair] Bolsonaro, com foco na direita, e a Argentina na esquerda, acabou causando um estranhamento, isso sem dúvida acaba atrapalhando muito. Se houvesse um entendimento coerente, com pragmatismo e troca de produtos, ambos estariam bem. O importante para ambos é a relação comercial”.
(Publicado por Daniel Fernandes)
