Corremos descalços até o som dos tiros cessar, conta aluno de escola atacada
Ataque à Escola Secundária de Ciências do Governo Kankara, na Nigéria, aconteceu na sexta-feira; número incerto de estudantes continua desaparecido
Hassan Abdul-Bashir, de 13 anos, estava na cama em seu dormitório quando um grupo de homens armados com rifles AK-47 atacaram a Escola Secundária de Ciências do Governo Kankara, no noroeste da Nigéria, na noite de sexta-feira (11).
“Eles comandaram a multidão como um pastor pastoreando as ovelhas”, disse Abdul-Bashir à CNN no sábado. Segundo ele, os homens armados pediam dinheiro aos alunos, saqueavam seus armários e levavam alguns de seus pertences.
“Eles atiraram no policial que guardava nossa escola. Eu os vi levando muitos alunos. Pode (haver) até 200 alunos, mas não tenho certeza”, disse ele. Os estudantes levados, incluindo o primo e amigo de Abdul-Bashir, continuam desaparecidos.
Após ser mandado para fora da escola, onde homens armados conduziam todos para os portões, o garoto decidiu fugir. Ele se escondeu sob um ônibus escolar com defeito e depois correu para a cerca da escola e conseguiu escapar.
Musa Adamu, um aluno do último ano do ensino médio da escola também ouvido pela CNN, disse que ele e muitos de seus colegas de quarto pularam da janela quando ouviram os tiros na sexta-feira.
“Fomos até a cerca, escalamos e pulamos”, disse o jovem de 18 anos. “O som dos tiros ficou mais alto, corremos em direções diferentes para a floresta. A maioria de nós estava descalça e continuamos correndo até ficarmos cansados e o som dos tiros cessar.”
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Adamu disse que passou a noite na floresta com cerca de 20 outros alunos. Só na manhã seguinte eles perceberam que haviam machucado as pernas e os pés durante a fuga. Eles voltaram para a cidade, encontrando outros estudantes escondidos na floresta no caminho.
“Quando chegamos à escola, vimos soldados, e eles nos pediram para entrar e escrever nossos nomes, depois de um tempo nos disseram para irmos arrumar nossas coisas e voltar para casa”, disse ele.
A polícia local disse à CNN que agressores em motocicletas emboscaram a escola secundária dos meninos em uma possível tentativa de sequestro para obter resgate.
O porta-voz da polícia de Katsina, Isa Gambo, disse em um comunicado que os reforços que chegaram ao local “forçaram os bandidos a recuar para a floresta”.
No sábado (12), em declarações à CNN, Gambo também disse que 200 alunos foram devolvidos em segurança à escola naquela manhã, mas sublinhou que é “muito cedo” para saber “quantos alunos estão desaparecidos ou se alguns deles foram raptados.”
O comunicado do porta-voz também afirma que “a polícia, o Exército Nigeriano e a Força Aérea Nigeriana estão trabalhando em estreita colaboração com as autoridades escolares para determinar o número real de alunos desaparecidos e/ou sequestrados”
Gambro acrescenta que equipes de busca estão trabalhando assiduamente com o objetivo de encontrar os alunos desaparecidos e que segurança extra foi implantada no local.
O comissário educacional do estado, Lawal Badmasi, disse que alguns dos alunos ainda estavam com os sequestradores. Não está claro quantas pessoas estavam na escola no momento do ataque, já que algumas podem ter voltado para casa após os exames, disseram as autoridades.
O exército estava visitando as casas das famílias dos estudantes para descobrir quem ainda está desaparecido ou pode ter sido sequestrado, disse Abdu Labaran à CNN.
Badmasi disse que 436 alunos foram contabilizados e que escolas secundárias governamentais semelhantes no estado normalmente têm cerca de 700 alunos.
No entanto, em declarações à CNN, dois alunos da instituição estimam que mais de 1.200 estudantes frequentam a escola.
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O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, condenou o “ataque de bandidos” e ordenou que o exército e a polícia perseguissem os agressores e “garantissem que nenhum estudante seja ferido ou desapareça”, disse o assistente de Buhari, Garba Shehu, à CNN no sábado.
De acordo com um relatório enviado ao presidente pelo governador local, Aminu Bello Masari, e pelo exército, os militares trocaram tiros com os pistoleiros em uma operação em andamento na floresta Zango/Paula, em Kankara, neste sábado.
Naquele momento, não havia relatos de vítimas de estudantes. As autoridades nigerianas disseram que o motivo do ataque não é claro, mas acrescentaram que a área já viu sequestros para ataques de resgate no passado.
O estudante de 13 anos Abdul-Bashir disse acreditar que os agressores eram Fulanis, membros da etnia tradicional de pastores nômades. A CNN não conseguiu verificar de forma independente essa afirmação.
Houve inúmeros confrontos violentos entre os agricultores Fulanis e cristãos no noroeste da Nigéria, de acordo com o Grupo de Crise Internacional. Segundo eles, a violência matou mais de 8 mil pessoas desde 2011 e obrigou mais de 200 mil a fugir de suas casas.