Coreia do Norte diz que testes de mísseis são prática para “ataques nucleares táticos” na Coreia do Sul
Regime de Kim testou mísseis balísticos sete vezes desde 25 de setembro, o último dos 25 eventos de lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro este ano, segundo um levantamento da CNN
A mídia estatal norte-coreana quebrou o silêncio sobre a recente onda de testes de mísseis do país, alegando que faziam parte de uma série de procedimentos simulados destinados a demonstrar sua prontidão para disparar ogivas nucleares táticas contra alvos em potencial na Coreia do Sul.
O regime de Kim testou mísseis balísticos sete vezes desde 25 de setembro, o último dos 25 eventos de lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro este ano, segundo um levantamento da CNN, elevando as tensões ao seu nível mais alto desde 2017.
Citando o líder Kim Jong Un, que supervisionou os exercícios, a estatal Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA, em inglês) disse que os testes, que coincidiram com exercícios militares próximos entre os Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, mostraram que Pyongyang está pronta para responder às tensões regionais envolvendo suas “grandes forças armadas”.
A KCNA disse que a série de sete exercícios das “unidades de operação nuclear tática” da Coreia do Norte mostrou que suas “forças de combate nuclear” estão “totalmente prontas para atingir e destruir os alvos nos locais pretendidos no tempo definido”.
Jeffrey Lewis, diretor do Programa de Não-Proliferação do Leste Asiático e professor do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, disse que os anúncios da Coreia do Norte na segunda-feira (10) indicam um potencial progresso em seu programa de mísseis.
“O que eu acho notável é que esses lançamentos não são enquadrados como testes dos próprios mísseis, mas sim das unidades que os lançam. Isso sugere que esses sistemas estão implantados”, disse Lewis no Twitter.
O que a Coreia do Norte estava testando?
A KCNA disse em 25 de setembro que trabalhadores da Coreia do Norte participaram de exercícios dentro de um silo sob um reservatório para praticar o que descreveu como carregamento de ogivas nucleares táticas para verificar o transporte rápido e seguro de armas nucleares.
Três dias depois, eles simularam o carregamento de uma ogiva nuclear tática em um míssil que, em caso de guerra, seria usado na “neutralização de aeroportos nas zonas de operação da Coreia do Sul”.
Em 6 de outubro, a Coreia do Norte realizou procedimentos que poderiam iniciar um ataque nuclear tático nas “principais instalações de comando militar dos inimigos” e, no domingo (9), nos portos inimigos, disse a mídia estatal de Pyongyang.
Entre as principais instalações militares na Coreia do Sul está o Camp Humphreys do Exército dos Estados Unidos, a maior instalação militar dos EUA fora do país, com uma população de mais de 36.000 militares norte-americanos, trabalhadores civis, contratados e familiares.
Especialistas dizem que a Coreia do Norte provavelmente fabricou algumas ogivas nucleares – “20 a 30 ogivas para entrega principalmente por mísseis balísticos de médio alcance”, escreveram Hans Kristensen e Matt Korda, do Projeto de Informação Nuclear da Federação de Cientistas Americanos, em setembro.
Mas sua capacidade de detoná-los com precisão no campo de batalha não foi comprovada.
Analistas observaram que, com os relatórios de segunda-feira, a Coreia do Norte quebrou seis meses de silêncio sobre seu programa de testes. Antes disso, geralmente um anúncio e imagens dos testes eram disponibilizados no dia seguinte.
Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Ewha Womans University em Seul, disse que Pyongyang tinha “múltiplas motivações” para fazer um anúncio na segunda-feira.
Além de fornecer uma “manchete patriótica” para o consumo doméstico no 77º aniversário de seu partido no poder, “está explicitando a ameaça nuclear por trás de seus recentes lançamentos de mísseis”, disse Easley.
“A reportagem da KCNA também pode ser o prenúncio de um próximo teste nuclear para o tipo de ogiva tática que armaria as unidades que Kim visitou em campo”, disse ele.
Autoridades sul-coreanas e norte-americanas alertam desde maio que a Coreia do Norte pode estar se preparando para seu primeiro teste nuclear desde 2017, com imagens de satélite mostrando atividade em seu local subterrâneo de testes nucleares.
Resposta dos EUA
A reportagem da KCNA disse que os exercícios recentes, de 25 de setembro a 9 de outubro, foram projetados para enviar um “forte alerta de reação militar aos inimigos” e verificar e melhorar as capacidades de combate do país.
No texto, Kim chamou a Coreia do Sul e os Estados Unidos de “os inimigos” e disse que a Coreia do Norte não precisa manter conversas com eles.
Kim enfatizou ainda que Pyongyang monitorará minuciosamente os movimentos militares dos inimigos e “tomará fortemente todas as contramedidas militares” se necessário, afirmou a KCNA.
Os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão realizaram exercícios militares durante a recente onda de exercícios do Norte.
Um grupo de ataque de porta-aviões da Marinha dos EUA participou de vários dias de exercícios bilaterais e trilaterais com unidades sul-coreanas e japonesas que terminaram no sábado, disse um comunicado da Força-Tarefa 70 da Marinha dos EUA.
“Nosso compromisso com a segurança regional e a defesa de nossos aliados e parceiros é demonstrado por nossa flexibilidade e adaptabilidade para mover este grupo de ataque para onde for necessário”, disse o contra-almirante Michael Donnelly, comandante da Força-Tarefa 70/Carrier Strike Group 5.
O Conselho de Segurança Nacional da Coreia do Sul neste domingo “condenou fortemente” os recentes lançamentos de mísseis balísticos da Coreia do Norte e disse que os militares sul-coreanos reforçarão ainda mais sua postura de defesa combinada e dissuasão por meio de exercícios militares conjuntos com os EUA e cooperação de segurança trilateral envolvendo o Japão.
O Estado-Maior Conjunto do Japão disse que o ambiente de segurança ao redor do Japão está se tornando “cada vez mais severo” e que os exercícios com a Marinha dos EUA estão fortalecendo a capacidade da aliança de responder a ameaças.