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    Como seis pessoas que votam pela 1ª vez nos EUA veem a eleição

    A CNN conversou nas últimas semanas com cidadãos norte-americanos naturalizados na Geórgia enquanto se preparavam para votar nas eleições presidenciais dos EUA

    Fila de eleitores para votação antecipada em Houston, no Texas, Estados Unidos
    Fila de eleitores para votação antecipada em Houston, no Texas, Estados Unidos Foto: Go Nakamura/Reuters (13.out.2020)

    Catherine E. Shoichet, da CNN

    Carlos Garcia temia que esse momento nunca chegasse.

    E Justine Okello está emocionado com sua chance de fazer algo que tantas pessoas ao redor do mundo não conseguem: votar.

    Mais imigrantes que se tornaram cidadãos norte-americanos como eles estão qualificados para votar em 2020 do que nunca. E a Geórgia – um estado altamente disputado nesta eleição – é onde este grupo está crescendo mais rápido, de acordo com o Pew Research Center.

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    A CNN conversou nas últimas semanas com cidadãos norte-americanos naturalizados na Geórgia enquanto se preparavam para votar nas eleições presidenciais dos EUA pela primeira vez. Eles nos disseram por que votar é importante para eles e quais questões estão avaliando ao irem às urnas. A conversa foi editada para ter mais fluidez e clareza.

    Alguns desses eleitores imigrantes têm candidatos que apoiam. Outros ainda estão considerando as opções. Todos estão prontos para você ouvir o que eles têm a dizer.

    Ele sente que está votando por aqueles que não têm voz

    Carlos Garcia, 40 • Operário • País de origem: México

    Quando a gente chega lá de fato, na frente do oficial de imigração, e levanta a mão para jurar lealdade aos Estados Unidos, é como… Bom, é por isso que eles chamam de sonho. Sim, é um sonho, porque você nem consegue acreditar que está acontecendo. É para isso que trabalhei, tanto, por 21 anos, e havia chegado a hora. Consegui, mas muitos de meus amigos não. É como se saísse um ronco imenso do seu estômago. Soltei o ar. 

    Estou calado há 21 anos, sem nenhuma representação oficial. Eu não conseguia sair das sombras. E, quando cheguei nesse momento, estava pronto para gritar a plenos pulmões. Vou votar pessoalmente. Quero experimentar pela primeira vez essa sensação, essa emoção de estar votando. E estou votando contra minha opressão. Esperei 21 anos por este momento. Posso esperar 21 horas na fila para votar. Eu não digo isso levianamente. Ninguém vai me impedir de votar.

    A maioria das pessoas que conheço não pode votar. E é por isso que eu sinto que é crucial para mim votar. Sinto que não é apenas o meu voto, mas estou votando em muitos de nós, possivelmente centenas, que não têm voz porque simplesmente não podem. E eu entendo a necessidade de ir lá e expressar nossa frustração com a forma como o sistema funciona.

    Fui muito investigado durante o processo de imigração. Acho que nossas autoridades precisam seguir os mesmos padrões que nos aplicam. Durante o processo de imigração, o caráter moral é uma das coisas mais importantes em julgamento. Se você mentir, isso pode desqualificar você. Ou se for pego em uma mentira. Ou simplesmente porque você esqueceu algo. Ou se seus dados não são precisos. Essa é uma das razões pelas quais estou votando contra este presidente, porque ele mentiu muito ao povo norte-americano.

    Ao votar, farei isso com muito orgulho, usando uma máscara com a bandeira dos EUA que meus vizinhos me deram de presente quando me tornei cidadão norte-americano. Eles são apoiadores radicais de (Donald) Trump. Vou usar a mesma máscara que me deram para votar contra Trump.

    No Afeganistão, ela achava que seu voto não teria importância. Aqui ela vê uma chance de mudança

    Khadija Barati, 43 • Bancária • País de origem: Afeganistão

    Eu era médica de combate no Afeganistão. Era arriscado. Eu me juntei ao exército norte-americano. Nem minha família sabia. Eu apenas disse a eles: “Estou trabalhando na clínica”. Porque era perigoso. Não foi fácil entrar, mas consegui. Eu disse: “Preciso me sentir em algum lugar em que esteja segura”. Quando entrei para a base norte-americana, senti que ganhara poder e respeito como mulher. Podia entrar na base sem medo, porque sabia que nossos conselheiros norte-americanos estavam atrás de nós e nos apoiavam.

    Quando deixei minha terra natal para vir aqui em busca de uma vida melhor e segura, me senti como se pertencesse aos Estados Unidos. Aqui é minha casa agora.

    Esta é minha primeira vez em toda minha vida que irei votar. Não votei no Afeganistão porque achei que isso não tinha sentido, não ia contar; afinal, eles fazem o que querem. Mas aqui eu acredito que, quando você vota, você vai fazer algumas mudanças, porque eu acredito na justiça.

    Ainda estou ouvindo os candidatos. Não vou tomar nenhuma decisão com pressa, porque, como uma nova cidadã, não quero seguir apenas o que meus vizinhos dizem ou o que meus colegas de trabalho dizem ou o que a TV diz ou o que outras pessoas me dizem. Vou ser cuidadosa e ouvi-los. E não vou pensar apenas em mim. Eu sou uma refugiada. Não vou me concentrar apenas em uma coisa. Ser egoísta não é inteligente. Precisamos pensar em todos os cidadãos dos Estados Unidos, o que vai beneficiar a todos.

    Gosto de certas coisas em ambos os lados – o que Trump diz e o que Biden diz. Trump, agora mesmo, está pressionando as pessoas em meu país – o governo e o Talibã – para se sentarem juntos e conversarem, o que nunca aconteceu antes. Eu gosto disso. Não é apenas pensar em destruir. Não é só pensar em lutar, lutar, lutar. E Biden disse que, se ele se tornar presidente, será mais aberto a permitir que refugiados venham aqui. Isso é bom. Gosto da maneira como ele quer fazer isso. Hoje os Estados Unidos são um país poderoso no mundo por causa da diversidade de seu povo, por causa de todas as pessoas boas que vêm para cá.

    Eu realmente quero ter cuidado com meu voto. Vou ouvir meu coração e cérebro e pensar sobre isso. O que eles dizem é importante e, claro, o que eles fazem também.

    Ele vê a votação como um ato de cura

    Justine Okello, 35 • Gerente de programa • País de origem: Uganda

    A democracia é algo a ser valorizado. E a verdadeira democracia é onde as pessoas são levadas a sério, onde as vozes das pessoas são importantes.

    Ser um eleitor novo neste país é definitivamente um sentimento muito emocionante. Poder votar é algo que muitas pessoas ao redor do mundo não são capazes de fazer. As pessoas para as quais sirvo ao votar são refugiadas, pessoas que fogem de países porque sua nação não tem liderança, não está cuidando delas. E suas vozes não importam realmente. Mesmo que eles saiam e votem, nada realmente importa.

    Portanto, estar em um país onde a democracia é o ápice de servir ao povo, faz com que eu sinta muito orgulho de ser um norte-americano de Uganda, um cidadão deste país, cuja voz importa.

    É minha primeira vez votando. Eu estava aqui na última eleição presidencial e foi uma situação muito difícil de testemunhar. Não podia votar, não era cidadão. Agora posso realmente sair e participar desse dever cívico. É uma sensação muito boa. E estou animado para isso.

    Estou tendo uma sensação de esperança, esperando que o país possa se curar de muitas das dores que vem passando. Porque quando as pessoas saem e dão seu voto, elas estão na verdade descarregando muita dor e colocando-a no voto. E dizendo: “Ok, esta é a minha voz e é assim que vou desempenhar minha parte, para fazer a mudança que desejo”. Eu vejo isso como uma forma de cura.

    Ela diz que alguns em seu grupo de idosos têm medo de votar por causa da pandemia

    Jeum Ran Son, 84 • Dona de casa aposentada • País de origem: Coreia do Sul

    A primeira impressão que tenho sobre a eleição nos Estados Unidos é que é muito difícil, não só por causa do idioma, mas por precisar me registrar, ter que encontrar meu próprio local de votação. Parece que as eleições nos Estados Unidos são muito difíceis de fazer. Estou recebendo ajuda e um intérprete coreano nas urnas vai me apoiar. Vou votar pessoalmente. Por ser a primeira vez que votarei para presidente, queria ter essa experiência.

    Pessoalmente, eu queria votar em Trump. Mas ainda estou aprendendo mais sobre isso. Espero ser capaz de decidir quando chegar às urnas. Eu não sei tudo ainda. Pensando no futuro, não apenas para mim, mas para meus filhos e as gerações futuras, quero que eles recebam mais ajuda. Recebi muitos benefícios pessoalmente quando Trump se tornou presidente, então é por isso que estou inclinada a votar nele. Mas eu só quero alguém que possa tornar melhores as vidas de todos.

    Muita gente está sofrendo, especialmente com a Covid-19. Eu moro em um conjunto habitacional de idosos. Eu vejo os efeitos em meus vizinhos, meus amigos e seus filhos. Eu continuo a ouvir e ver seus familiares sofrendo. Também vejo muitos membros da igreja que estão perdendo empregos. Eles estão passando por momentos muito difíceis para pagar as contas, ou até mesmo conseguir alimentos e suprimentos básicos.

    E antes, havia muitas reuniões e oportunidades para sair. Agora que a pandemia nos atingiu, os centros de idosos fecharam. É difícil e posso sentir isso. Parece que também afetou meus amigos. Eles têm menos energia.

    A eleição é um tema de conversa que surge muito entre nós. Tem gente que está entusiasmada, que se prepara para votar. E tem gente que está desligada e não tem interesse no processo eleitoral, não tem interesse na eleição em si. Muitos deles, porque são idosos, por causa dos seus problemas de saúde, estão hesitantes, ou não têm tanta vontade de ir votar pessoalmente. Falo com eles e digo, não é só para nós. É para as gerações futuras.

    Ela sente que os latinos foram esquecidos

    Paola Jesse, 42 • Paralegal • País de origem: Guatemala

    Depois de receber meu certificado de cidadania, uma das primeiras coisas que fiz foi me registrar para votar. Vejo as notícias e o que está acontecendo e trabalho com imigrantes, então conheço a realidade do que está acontecendo no país e no mundo. E eu disse: preciso tentar fazer a diferença de alguma forma além do meu trabalho.

    Para mim, as questões são discriminação, igualdade de oportunidades e assistência médica. Eu vejo essa segregação que está acontecendo. Inclui brancos e afro-americanos. Mas às vezes sinto que os latinos são esquecidos, como se estivéssemos no meio, e parece que ninguém se importa. Os latinos precisam falar, dizer o que pensamos e fazer valer nossa voz. Trabalhamos muito, pagamos impostos e precisamos ter as mesmas oportunidades que o resto das pessoas que nasceram aqui. Enquanto estivermos trabalhando muito, acredito que merecemos e por isso é importante que eu vote.

    Não é que Biden seja meu candidato ideal, mas não posso dar meu voto a Trump. Ele vai contra todos os meus valores e crenças. Cada dia eu sinto que está pior, as coisas que ele fala, o jeito que ele fala das pessoas e as humilha e insulta. Não importa se você não concorda com eles, você não precisa insultar as pessoas. Você sempre tem que respeitá-las.

    Eu vejo todas essas brigas na TV entre as pessoas que deveriam ser um exemplo para nós no governo e cuidar de nós. Parece que eles não se importam com as pessoas que realmente trabalham e pagam seu salário. Os democratas não querem pagar por algo e então os republicanos dizem que pagam, ou vice-versa. Eles brigam. E fico pensando: por quê? Eles deviam se preocupar com as pessoas e não com seus egos, quem diz “não” primeiro, quem está tentando deixar o outro louco. Eles só se preocupam com sua briga e quem ganhá-la. E no final as pessoas estão pagando as consequências.

    Estou muito grata a este país e me sinto segura aqui. Sei que nenhum país é perfeito. E sou muito grata aos EUA, mas também sei que pode melhorar. Às vezes é frustrante ver todas essa luta e no final, nada acontecer. Com esta eleição, estou esperançosa, mas, ao mesmo tempo, com medo.

    Ele é um cidadão norte-americano há apenas algumas semanas, mas se sente assim há décadas

    Melchor Salcedo Lara, 54 • Jardineiro • País de origem: México

    Estou aqui há 31 anos. Morei mais aqui do que no México. Já me sentia um cidadão norte-americano. Mas eu tinha que concluir minha jornada.

    Não tinha ideia de como iniciar o processo de cidadania, quais eram as etapas necessárias. Daí, estavam oferecendo aulas gratuitas na Associação Latino-Americana e eu percebi que tinha que arriscar. Tenho um amigo norte-americano que me ajudou muito a reunir todos os meus documentos e fazer o processo.

    Tornei-me cidadão dos Estados Unidos em setembro. Agora tenho que votar, porque tenho o direito e o privilégio deste grande país – meu país. Eu amo este país. Sinto que faço parte deste país. E gostaria de fazer parte da mudança deste país.

    Há algumas coisas que entendo nos republicanos, mas não entendo Donald Trump. Acho, então, que os democratas são minha escolha, apoiando as pessoas não brancas, porque, afinal, eu também sou uma pessoa não branca.

    Já vi racismo, pessoas dizendo: “Volte para o seu país”. Este é o meu país. Graças a Donald Trump, tivemos muitos ataques contra latinos. Ele criou um ódio que se espalhou por todo o país. E isso me afetou.

    Mesmo assim, estou 100% confiante de que este é um bom país para se viver. Um ótimo país. E vai continuar sendo assim. Vou votar em um grupo com meus amigos. Usarei três máscaras para proteger aqueles ao meu redor. As máscaras são importantes – elas não são uma questão partidária, e sim uma questão humana. Todos os norte-americanos devem se unir para combater a pandemia e tornar este país ainda maior.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).