Como as eleições na Eslováquia podem prejudicar a Ucrânia na guerra
O candidato Robert Fico declarou que pretende parar envio de munições e armas para a Ucrânia caso eleito
“Somos um país pacífico. Não enviaremos uma munição sequer para a Ucrânia“, disse o candidato nas eleições da Eslováquia Robert Fico para cerca de 300 apoiadores em um comício na semana passada na cidade de Banovce nad Bebravou, no oeste do país.
A Eslováquia vai às urnas em 30 de setembro, e o ex-primeiro-ministro populista é favorito na disputa.
Caso ele cumpra sua promessa, isso representará uma mudança radical na Eslováquia, até agora uma forte aliada de sua vizinha do leste, a Ucrânia, na guerra contra a Rússia.
O país forneceu armas e forte apoio político à Ucrânia dentro da União Europeia e da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
“Eles terão que se sentar de qualquer maneira e chegar a um acordo”, disse Fico sobre os países em guerra. “A Rússia nunca deixará a Crimeia, nunca deixará os territórios que controla.”
A vitória de Fico não é garantida. Nenhum partido é cotado para garantir a maioria no Parlamento, e a formação de um governo de coalizão pode ser difícil. Diplomatas ocidentais e autoridades em Kiev também dizem que um país pequeno como a Eslováquia só pode atuar até certo ponto para alterar a política da União Europeia e da Otan.
Mas Fico chamou a atenção de Bruxelas e de outros países ao criticar as sanções contra a Rússia e pedir uma reaproximação com Moscou quando a guerra terminar e ao se comprometer a vetar a adesão da Ucrânia à Otan, caso essa possibilidade surja.
Na campanha, ele disse que a guerra “começou em 2014, quando nazistas e fascistas ucranianos começaram a assassinar cidadãos russos em Donbas e Luhansk”, ecoando a justificativa de Moscou para apoiar os separatistas que tomaram terras no leste da Ucrânia.
Seu partido está pouco à frente nas pesquisas de intenção de voto em um país onde os eleitores estão cansados da dor econômica causada pelas restrições da pandemia, da alta inflação ligada à guerra na Ucrânia e do aumento de imigrantes ilegais.
“Não devemos apoiá-los [a Ucrânia] com armas, porque o mal só gera mais mal”, disse a aposentada Eleonora Tanacova, 68 anos, ao ouvir o discurso de Fico na última quinta-feira. “Esta guerra nunca terá fim se continuarmos a apoiá-los.”
Mas o pragmatismo de Fico durante seus mandatos, quando ele levou a Eslováquia para a zona do euro e evitou, em grande parte, brigas com parceiros da União Europeia e da Otan, atenuou essas preocupações.
“Tropas russas em sua fronteira e um relacionamento fraturado com seus aliados, é isso que você quer?”, disse um dos diplomatas do país. “Ou ele voltará a ser o pragmático que tem sido?”
Um segundo diplomata acredita que Fico hesitará em cortar o fornecimento de armas para a Ucrânia além dos estoques já esgotados do Exército, dada a importância econômica dos fabricantes de munição e de uma base de reparos.
E Bruxelas tem influência. Em questões de Estado de Direito, ela pode reter o apoio financeiro da União Europeia para a Eslováquia, que precisa muito dele com o déficit fiscal previsto em 6,85% do PIB este ano, o mais alto da zona do euro.
Além disso, o partido socialmente conservador SMER-SSD, de Fico, está apenas um pouco à frente nas últimas pesquisas, com 19,4% de apoio, contra 18,2% do partido liberal Eslováquia Progressista (PS) e muito depende do desempenho dos partidos menores.