Comissária da ONU exige que Cuba liberte presos em manifestações
Michelle Bachelet classificou como preocupante o fato dos presos estarem em locais desconhecidos; professora de relações internacionais explica a crise na ilha
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que Cuba liberte pessoas detidas em protestos contra o regime da ilha.
A alta comissária da organização para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, classificou como preocupante o fato dos presos estarem em locais desconhecidos e sem qualquer comunicação com as pessoas de fora.
Ela disse que todos os detidos por exercerem seus direitos devem ser libertados e pediu que a internet seja restabelecida na ilha. O governo cubano cortou o serviço para dificultar a comunicação entre os manifestantes.
Os protestos começaram há quase uma semana e foram motivados pela insatisfação popular com a falta de itens básicos de sobrevivência e a vacinação lenta contra a Covid-19. A população também exige mais liberdade e democracia.
O presidente Miguel Díaz-Canel reagiu aos comentários feitos por Joe Biden de que Cuba seria um estado falido.
No Twitter, o cubano disse um estado falido é aquele que, para agradar uma minoria reacionária e chantagista, é capaz de causar danos a 11 milhões de humanos.
Embargo dos EUA
Em entrevista à CNN nesta sexta-feira (16), a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Carolina Silva Pedroso explicou que recentes manifestações em Cuba podem ser resumidas em uma palavra: cansaço.
“O povo realmente está muito cansado de uma situação material bastante precária, que, em parte significativa, vem do embargo imposto pelos Estados Unidos“, disse Carolina. “Por isso também a crítica do presidente cubano no Twitter sobre a forma como os EUA lidam com Cuba há mais de 60 anos.”
Além dos embargos que impõe grandes restrições à Cuba, a lentidão da imunização contra a Covid-19 também foi um dos estopins para os protestos no país. “Cuba é um país que conseguiu desenvolver sua própria vacina, mas não tem os insumos para aplicar na população e isso também vem desses estrangulamentos externos”, apontou a professora.
Para Carolina, somado a esses dois fatores está mais um que ela entende que foi fundamental para levar a população cubana às ruas.
“A questão da internet, que também foi cortada, não à toa, nos últimos dias. A internet se tornou algo muito comum para os cubanos nos últimos anos e isso veio da aproximação com os EUA, no governo Obama, em que as empresas de tecnologia puderam prestar serviços na ilha.”
“Por um lado, a internet propicia uma maior comunicação, troca de dados e organização da população. Mas os cubanos que estão na ilha começam a ter noção, visualizar de maneira mais abrangente, o dia a dia das pessoas em outros países e até de cubanos que deixaram a ilha há anos e isso acaba gerando um incômodo”, disse Carolina.
(Com produção de Layane Serrano, da CNN, em São Paulo)