Combustíveis devem integrar pauta da reunião de Biden e Bolsonaro, diz especialista
Em entrevista à CNN, a coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, Fernanda Magnotta analisou os possíveis assuntos abordados no encontro diplomático
A Cúpula das Américas, evento que reúne líderes do continente, começou nesta segunda-feira (6) e segue até o dia 10 de junho, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Entre as presenças confirmadas está a do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), que deve reunir-se com o chefe de estado americano, Joe Biden, durante a Cúpula.
Os assuntos da discussão ainda não foram divulgados, mas a coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, Fernanda Magnotta, analisa que o aumento global do preço dos combustíveis pode estar entre eles.
Em entrevista à CNN, a especialista afirmou que levantar o tópico em uma conversa com Biden seria um aceno do líder brasileiro para o consumo doméstico. “Compartilhar a ideia de que o Brasil levou assuntos de interesse dos brasileiros é algo que interessa ao governo Bolsonaro”, explicou.
No entanto, a discussão não seria o suficiente para aliviar a situação brasileira em relação aos altos preços nos postos de gasolina. “A regulação desses preços é algo sistêmico, complexo, que envolve interesses variados, e que não depende da interação bilateral, ou mesmo de uma ação que parta do governo norte-americano”, disse.
“Deve haver espaço para essa discussão (sobre o preço dos combustíveis), até porque ela não é algo que parte apenas do Brasil. O dilema da inflação, da elevação do preço dos alimentos, dos combustíveis, e os danos que isso tem causado politicamente em termos domésticos são uma realidade para vários desses líderes, inclusive para o Joe Biden. O presidente americano já divulgou nas últimas semanas uma série de medidas justamente tentando refrear esses efeitos”.
Outro tema que pode ser levantado durante a conversa é o meio ambiente, pauta na qual o Brasil pode sofrer pressão por parte do governo americano — Biden já fez falas críticas a Bolsonaro e ao crescente desmatamento na Amazônia. “(Bolsonaro) vai sofrer cobranças e pressões que virão dos EUA, mas imagino que o governo brasileiro deve tentar utilizar essa preocupação que os americanos têm com a agenda para tentar extrair alguns benefícios, quem sabe até alguns investimentos (…) Agora, se daí vai sair algum compromisso concreto, objetivo, uma solução definitiva — seja para a inflação, seja para o meio ambiente –, isso ainda é cedo para dizer”, disse Magnotta.
“O tom da reunião vai ser muito diplomático, tentando desviar das rusgas. Os americanos não vão tentar se comprometer muito, até porque eles sabem que as eleições (no Brasil) podem alterar o rumo da conversa”.
Relações entre EUA e Venezuela
Algumas ausências são notáveis na Cúpula das Américas: anfitrião do evento, os Estados Unidos decidiram não convidar Venezuela, Cuba e Nicarágua, que na visão do país, não possuem governos democráticos.
Em resposta à decisão, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, anunciou nesta segunda-feira (6) que não comparecerá ao evento.
A relação entre os EUA e a Venezuela, no entanto, são nebulosas no momento. Enquanto as sanções contra a Rússia estão em curso devido à guerra na Ucrânia, os EUA têm retomado algumas relações comerciais para a compra de combustíveis fósseis do país sul-americano — simultaneamente à continuidade da condenação do governo de Nicolás Maduro e à exclusão venezuelana da Cúpula.
“A política internacional é sempre feita de interesses. E por consequência também ela sempre desemboca em contradições, e até alguma hipocrisia. Nós acompanhamos por vários anos a elevação de sanções contra a Venezuela pelo lado norte-americano, e mais recentemente a flexibilização disso tudo, tentando conter o aumento no preço dos combustíveis e a inflação, que também prejudica a popularidade do presidente Biden entre outros líderes do mundo”, disse Fernanda Magnotta.
Outro ator internacional com quem os EUA negociaram recentemente é a Arábia Saudita, que também possui um governo percebido como não democrático, mas que é um significativo produtor de combustíveis fósseis. Joe Biden confirmou a repórteres recentemente que há a possibilidade que ele visite o país árabe. “De um lado não se pode dialogar com ditaduras, como é o caso da Venezuela. Mas do outro lado, no caso da Arábia Saudita — um governo que ele criticou durante a campanha, falou que ia ser muito duro — nesse caso recebe a concessão”.