Com o calor, gafanhotos destroem lavouras em ilha italiana
Os agricultores podem se preparar para o próximo ano aplicando um pesticida ecologicamente seguro, à base de fungos
Nuvens de gafanhotos destruíram milhares de hectares de pastagens e lavouras na ilha da Sardenha, na Itália, prejudicando ainda mais a situação dos agricultores, que já estavam em dificuldade por causa da pandemia do novo coronavírus, segundo grupos agrícolas.
Com as altas temperaturas, esses insetos se propagaram e danificaram cerca de 15 mil hectares de pastagens na província de Nuoro, afirmou Michele Arbau, membro da associação agrícola Coldiretti na Sardenha.
“Agricultores perderam a colheita do verão [no hemisfério norte] e parte da safra do outono e inverno. Algumas poucas pessoas que cultivam cevada também tiveram que desistir”, disse ele.
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Durante os meses do verão, os gafanhotos são uma praga comum na ilha do Mediterrâneo, conhecida por suas belas praias e resorts exclusivos. Mas, neste ano, a infestação tem sido maior do que o normal.
Em 2019, esses insetos destruíram cerca de 2,5 mil hectares de plantações, no que foi descrita como a pior explosão desses animais desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Mudanças climáticas
Temperaturas mais extremas, causadas por mudanças climáticas, podem afetar o desenvolvimento e a propagação de insetos, como os gafanhotos, segundo Ignazio Floris, professor de entomologia (ramo da ciência que estuda os insetos) na Universidade de Sassari, noroeste da Sardenha.
O aumento da temperatura pode levar a longos períodos de seca, deixando os solos áridos e inviáveis para plantação, o que cria condições ideais para os insetos, que gostam de botar seus ovos em terra seca e não cultivada, explicou Floris.
Mudanças climáticas frequentes – como a seca de 2017, as chuvas intensas em 2018 e os dois extremos em 2019 na Sardenha – parecem contribuir para a infestação de gafanhotos, disse Arbau.
A invasão de gafanhotos aumenta os problemas vividos pelos italianos. O país foi o primeiro da Europa a ser fortemente atingido pela pandemia do novo coronavírus e ainda está se recuperando da doença, que já matou mais de 34 mil italianos – quarto país com mais mortes no mundo – e infectou quase 240 mil.
Durante o lockdown imposto em todo o país nos meses de março e abril, os agricultores italianos tiveram que lidar com a escassez de trabalhadores e uma onda de frio que destruiu vastas plantações de frutas.
Controle da praga
A ameaça mais recente vem dos gafanhotos marroquinos, uma espécie nativa do sul da Europa, incluindo a Sardenha. Eles são diferentes dos gafanhotos do deserto que causaram estragos na África Oriental.
A chave para conter a destruição causada por esses animais é o monitoramento antecipado, eliminando os ovos da superfície da lavoura sempre que possível, explicou Floris.
No entanto, quando esses insetos atingem a idade adulta – como agora –, não há muito que se possa fazer para controlá-los, disse Alexandre Latchininsky, especialista em gafanhotos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Os agricultores podem se preparar para o próximo ano aplicando um pesticida ecologicamente seguro, à base de fungos. “Recomendo que as organizações de agricultores considerem essa opção de biocontrole para 2021, quando eles com certeza enfrentarão esse problema de novo”, afirmou Latchininsky.