Com abstenção alta de indígenas, conservador Lasso derrota correísta no Equador
Candidato preferido do mercado conquistou os eleitores céticos e se tornou presidente com 52% dos votos em uma eleição marcada pela abstenção de indígenas
O banqueiro equatoriano Guillermo Lasso venceu as eleições de domingo (11) no Equador e tornou-se o primeiro candidato a derrotar o correísmo desde a ascensão de Rafael Correa ao cenário político o país, em 2007. Lasso obteve 52% dos votos, contra 48% de Andrés Arauz, ex-ministro de Correa.
A abstenção em larga margem da população indígena, que no primeiro turno votou em peso no candidato Yaku Perez, foi decisiva para a vitória de Lasso. Um dos principais focos de oposição ao correísmo desde o tempo em que Correa era presidente, a Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie), defendeu a abstenção. Um em cada seis eleitores se abstiveram ontem.
Lasso substituirá Lenín Moreno, ex-vice de Correa, eleito em 2017, que rompeu com o padrinho político durante o mandato e se aproximou de setores conservadores e ligados ao mercado financeiro. Essa é a terceira eleição do banqueiro, que também foi derrotado por Correa em 2013.
Com propostas de reduzir o gasto público e atrair investimento privado, Lasso conseguiu o apoio de um país descontente com a crise econômica e a má gestão da pandemia. A crise durou praticamente todo o governo de Moreno, parte em consequência da queda do barril do petróleo e o alto custo do aparato estatal.
Correa hoje vive na Bélgica, depois de ter sido denunciado pela Justiça equatoriana por casos de corrupção. Ele diz ser alvo de perseguição política.
O presidente eleito, de 65 anos, agora terá que encontrar maneiras de relançar uma economia estagnada enquanto usa a mesma cartilha pró-mercado do presidente Lenin Moreno, que reforçou as finanças do governo, mas lutou para criar empregos e não procurou reeleição.
“Um terço dos equatorianos vive na pobreza e apenas três em cada dez têm acesso a empregos”, disse Lasso em um comício de campanha na semana passada. “São dois objetivos que devem levar ao diálogo 100% dos dirigentes políticos equatorianos”.
A terceira campanha de Lasso para a presidência se concentrou em atrair investimentos estrangeiros para criar empregos e expandir os investimentos no setor agrícola.
Propostas muito diferentes das promessas de Arauz de distribuir US $ 1.000 a um milhão de famílias pobres e devolver o país aos programas de bem-estar social do ex-presidente Rafael Correa, mentor de Arauz.
Lasso pode ter se beneficiado de uma campanha de protesto do líder indígena Yaku Perez, que pediu aos apoiadores que votassem nulo em protesto contra o que ele chamou de fraude eleitoral no primeiro turno em fevereiro.
Lasso é visto como tendo maior capacidade de negociar com o FMI, mas ele também disse que recusaria os planos do fundo de aumentar os impostos – o que poderia complicar seus esforços para manter o equilíbrio das contas do governo.
Para garantir qualquer recuperação econômica, Lasso dependerá de uma reestruturação da paralisada campanha de vacinação Covid-19 do país, que tem sido atormentada por alegações de nepotismo e uma porta giratória de ministros da saúde que renunciaram ou foram demitidos.