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    Com 39% dos hospitais fechados, médicos escolhem qual paciente vai sobreviver em Gaza

    Organizações de saúde relatam drama de médicos na tentativa de salvar vidas em meio à guerra; pacientes são operados sem anestesia

    Priscila Yazbek

    Médicos que atuam na Faixa de Gaza, em meio à guerra entre Israel e Hamas, enfrentam um quadro dramático, sendo obrigados a fazer a difícil escolha sobre quais pacientes salvar e seguir em frente, mesmo perdendo familiares e colegas durante o conflito.

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), médicos em Gaza têm realizado operações, incluindo amputações, sem anestesia.

    “Nada justifica o horror suportado pelos civis em Gaza”, disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, na terça-feira (7), durante uma conferência de imprensa em Genebra, destacando a “necessidade desesperada de água, combustível, alimentos e acesso seguro a cuidados de saúde para sobreviver”.

    Segundo a OMS, 39% dos hospitais em Gaza não estão funcionando. Com 14 hospitais e 45 centros de saúde primários fechados, mulheres têm de dar à luz em abrigos, nas suas casas, nas ruas, no meio dos escombros, ou em unidades de saúde sobrecarregadas.

    “O impacto psicológico das hostilidades também tem consequências diretas – e por vezes mortais – na saúde reprodutiva, incluindo um aumento de abortos espontâneos induzidos por stress, nados-mortos e nascimentos prematuros”, diz a OMS.

    A organização diz ainda que se os hospitais ficarem sem combustível, as vidas de cerca de 130 bebês prematuros que dependem de serviços neonatais e de cuidados intensivos ficarão ameaçadas, já que as incubadoras e outros equipamentos médicos deixarão de funcionar.

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    Ataques a instalações de saúde

    A OMS também afirma que as instalações de saúde continuam sob ataque. No dia 1º de novembro, o Hospital Al Hilo, que tem uma maternidade crucial, foi bombardeado.

    O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse, nesta terça-feira (7), que o seu comboio humanitário foi atacado quando entregava suprimentos médicos essenciais às instalações de saúde na Cidade de Gaza.

    E na sexta-feira, uma explosão perto da entrada do Hospital Al Shifa atingiu um comboio de ambulâncias que transportavam feridos que se preparavam para ir ao Egito. De acordo com o Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, 15 pessoas morreram e 60 ficaram feridas.

    Após o ataque, Israel reconheceu a ação, mas defendeu que a ambulância era “utilizada por uma célula terrorista do Hamas”.

    O secretário-geral da ONU, António Guterres, reagiu ao atentado, dizendo que estava horrorizado com o ataque. “As imagens dos corpos espalhados na rua em frente ao hospital são comoventes”, afirmou.

    Muitos profissionais de saúde também perderam a vida durante o conflito. De acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (Ocha), citando números do Ministério da Saúde palestino, gerido pelo Hamas, 192 profissionais de saúde foram mortos desde o início da guerra.

    Os Médicos Sem Fronteiras disseram que um dos seus colegas e vários membros da sua família foram mortos numa explosão no campo de refugiados de Al Shati nesta terça-feira (06).

    “Médicos Sem Fronteiras (MSF) está de luto pela perda de um dos membros da nossa equipe em Gaza, Mohammed Al Ahel, que foi morto junto com vários membros de sua família em 6 de novembro”, disse a instituição de caridade médica.

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    Médicos exaustos e operações sem anestesia

    De acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, mais de 10.000 pessoas foram mortas em Gaza desde 7 de outubro e outras 25.400 ficaram feridas.

    Em entrevista à CNN, a psicóloga e presidente do conselho do Médicos Sem Fronteiras-Brasil, Renata Santos, relatou o trabalho e as dificuldades da atuação dos profissionais de saúde em Gaza em meio aos bombardeios e a escassez de medicamentos.

    “Um colega nosso, cirurgião, teve que realizar uma amputação de uma criança sem anestesia suficiente para isso. Foi a forma que conseguiu fazer. Uma situação indescritível, catastrófica e desumanizante”, disse Renata.

    Em entrevista ao jornal The New York Times, médicos e enfermeiros que atuam nos hospitais em Gaza relatam que precisam decidir quais pacientes receberão ventiladores, quem será reanimado ou receberá tratamento médico.

    Eles tomam decisões exaustos, em meio aos gritos de crianças submetidas a amputações ou cirurgias cerebrais sem anestesia ou água limpa para lavar as feridas.

    A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) recebeu cinco caminhões de medicamentos por meio da travessia de Rafah. Mas apenas oito dos 35 medicamentos criticamente necessários foram recebidos.

    “Suprimentos médicos e medicamentos adicionais são urgentemente necessários para continuar a prestar serviços de saúde nos centros de saúde, nos postos médicos dos abrigos e nos hospitais”, diz a UNRWA.

    A agência acrescenta ainda que o estoque de combustível está muito baixo, tornando muito difícil a prestação de cuidados de saúde primários nos centros de saúde.

    Grande parte de Gaza está sem eletricidade depois de Israel ter cortado o fornecimento e a principal central elétrica ter ficado sem combustível há quase quatro semanas, diz a UNRWA.

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