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    Cientistas identificam vulcão do Alasca relacionado a ascensão do Império Romano

    Estudo observou que desastres naturais são conhecidos por criar um estado de exceção em que a economia de se torna inviável proporcionando mudanças sociais

    A cratera de 10 quilômetros de largura na ilha de Umnak, no Alasca, se formou durante a erupção do vulcão Okmok em 43 a.C. O evento causou algumas das condições climáticas mais extremas do Hemisfério Norte dos últimos 2.500 anos.
    A cratera de 10 quilômetros de largura na ilha de Umnak, no Alasca, se formou durante a erupção do vulcão Okmok em 43 a.C. O evento causou algumas das condições climáticas mais extremas do Hemisfério Norte dos últimos 2.500 anos. Foto: Kerry Key/Columbia University

    Katie Hunt,

    da CNN

    Nos anos seguintes ao assassinato de Júlio César na Roma antiga, em 44 a.C., são frequentes os relatos históricos de um frio incomum, escassez de alimentos, doenças e fome fazendo um pano de fundo a um momento crucial na história ocidental.

    Os historiadores suspeitavam, há muito tempo, que esse clima extremo inexplicável poderia estar ligado a uma erupção vulcânica, mas não conseguiram identificar onde ou quando ocorreu uma erupção ou a sua extensão. Os pesquisadores estudaram vulcões na Nicarágua, Sicília e Kamchatka, no extremo oriental da Rússia.

    Depois de analisar as cinzas presas no gelo e em outros materiais, um grupo internacional de cientistas e historiadores acredita que uma erupção, há mais de 2.000 anos do vulcão Okmok, no Alasca, foi a responsável pela mudança exrema de temperatura. A explosão maciça criou uma cratera de 10 quilômetros de largura – visível até hoje.

    “Encontrar evidências de que um vulcão do outro lado da Terra entrou em erupção e contribuiu efetivamente para a morte de romanos e a queda do sistema egípcio e a ascensão do Império Romano é fascinante”, comentou um dos autores do estudo, Joe McConnell, professor de hidrologia no Desert Research Institute, em Nevada, EUA. “As pessoas especulam sobre isso há muitos anos, por isso é emocionante poder fornecer algumas respostas”, disse McConnell.

    A facada em Júlio César dada pelos senadores de Roma desencadeou uma luta pelo poder, que acabou com a República Romana, saindo de uma política mais democrática para a ditadura do Império Romano. Outra consequência foi a queda do Egito para o domínio romano.

    O estudo disse que péssimas colheitas, fome e doenças resultantes da erupção provavelmente exacerbaram a agitação social e contribuíram para realinhamentos políticos nesta “conjuntura crítica da civilização ocidental”.

    “Embora não possamos provar como o clima extremo e as consequentes quebras de safra, escassez de alimentos e doenças epidêmicas tenham contribuído para a queda da República há 2 mil anos, parece lógico que ele tenha desempenhado um papel significativo”, opinou o professor.

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    Núcleo de gelo
    Um núcleo de gelo foi usado para desenvolver registros detalhados de precipitação vulcânica da erupção Okmok em 43 a.C..
    Foto: Joseph R. Mcconnel

    Núcleos de gelo no Ártico

    Para ligar o período de clima extremo inexplicável no Mediterrâneo à erupção maciça do vulcão Okmok – localizado na ilha de Umnak, na cadeia das Ilhas Aleutas, no Mar de Behring –, a equipe analisou cinzas vulcânicas. Conhecidas como tefra, as cinzas foram encontradas presas em núcleos de gelo do Ártico retirados da Groenlândia e da Rússia.

    “A equivalência de tefra foi precisa”, disse Gill Plunkett, co-autor do estudo e professor da Universidade Queen’s University, em Belfast, Irlanda do Norte. O estudo foi publicado na segunda-feira (22) na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences”.

    Ilha de Umnak, no Alasca
    A ilha de Umnak, no Alasca, mostrando a enorme cratera de 10 quilômetros de largura (canto superior direito) criada em grande parte pela erupção do Okmok no início do Império Romano. Imagem do Landsat-8 Operator Land Imager de 3 de maio de 2014.
    Foto: US Geological Survey

    “Comparamos a impressão digital química da tefra encontrada no gelo com aquela de vulcões que se acredita terem entrado em erupção naquele período, e ficou muito claro que a fonte da precipitação de 43 a.C. no gelo foi a erupção do Okmok”.

    Segundo os pesquisadores, a erupção produziu uma precipitação vulcânica que durou dois anos, reduzindo as temperaturas no Hemisfério Norte em até 7° C.

    A mudança de temperatura pode ser vista em registros de anéis de árvores na Escandinávia, Áustria e Califórnia, segundo o estudo, com um pinheiro da espécie Pinus longaeva, nas White Mountains da Califórnia, mostrando um anel de geada que sugere temperaturas abaixo de zero no início de setembro de 43 a.C.

    Da forma semelhante, registros climáticos colhidos em cavernas na China também mostraram quedas de temperatura nos três anos após a erupção. Os modelos dos pesquisadores sugeriram o verão e o outono que se seguiu à erupção do Okmok teria sido muito mais úmido do que o normal. O vulcão, por sinal, ainda está ativo e entrou em erupção pela última vez em 2008.

    Barra de gelo que mede erupções vulcânicas.
    Registros de antigas erupções vulcânicas explosivas podem ser encontrados na camada de gelo da Groenlândia e acessados através de operações de perfuração profunda.
    Foto: Dorthe Dahl-Jensen

    “Na região mediterrânea, essas condições úmidas e extremamente frias durante a primavera – uma estação importante para a agricultura – até o outono provavelmente reduziram as colheitas e agravaram os problemas de oferta de alimento durante as revoltas políticas em curso no período”, afirmou o co-autor Andrew Wilson, arqueólogo da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

    “Tais descobertas dão embasamento aos relatos de frio, fome, escassez de alimentos e doenças descritos por fontes antigas”.

    O estudo observou que desastres naturais (como uma erupção vulcânica) são conhecidos por criar um “estado de exceção no qual a economia de sempre se torna inviável e as normas políticas e culturais são suspensas, proporcionando espaço para rápidas mudanças sociais e políticas”.

    Os pesquisadores também identificaram uma erupção vulcânica menor e mais limitada em 44 a.C. no Monte Etna, na Itália.

    Segundo eles, a erupção poderia ajudar a explicar fenômenos incomuns descritos na época imediata da morte de Júlio César por escritores como Virgílio – halos solares, o sol escurecendo no céu ou três sóis aparecendo no céu, fenômenos que na época eram interpretados como presságios de eventos.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o orginal em inglês).