Cientistas fazem cócegas em ratos para aprender sobre atividade cerebral durante brincadeiras
Pesquisadora espera que estudo ajude as pessoas a apreciar a importância da brincadeira, tanto para crianças quanto para adultos
Brincar foi observado e documentado em muitas espécies – e não apenas em mamíferos. No entanto, de acordo com o Dr. Michael Brecht, professor de neurobiologia de sistemas e computação neural na Universidade Humboldt em Berlim, brincar é algo que os pesquisadores não entendem profundamente.
Para aprender mais sobre a neurociência por trás desse comportamento generalizado, ele e seus colegas brincaram e fizeram cócegas em ratos e observaram a atividade cerebral dos roedores.
Os pesquisadores identificaram uma parte do cérebro que está ativa tanto quando os ratos estão brincando quanto quando recebem cócegas, revelando suas descobertas em um estudo publicado em 28 de julho na revista Neuron.
O comportamento lúdico, disse Brecht, está presente até certo ponto em todos os mamíferos, especialmente quando são jovens. A brincadeira ativa é amplamente observada em pássaros e foi observada em alguns peixes, sapos e répteis, mostraram estudos.
As brincadeiras podem assumir muitas formas, como lutas violentas e jogos com regras complexas, mas existem algumas características de identificação comuns.
“Em primeiro lugar, não é feito quando animais ou humanos não se sentem bem – quando estão estressados, não brincam. E é em si gratificante”, disse Brecht.
“Você faz isso por diversão”, ao contrário de uma tarefa realizada como uma transação para obter uma recompensa, como um presente ou um contracheque.
A brincadeira também costuma ser acompanhada de vocalizações – nos humanos, é o riso. “Tanto os animais quanto os humanos podem ser muito vocais”, disse.
Essas vocalizações conectam e ajudam a garantir que todos continuem se divertindo. Nos ratos, o equivalente ao riso é um guincho ultrassônico, muito agudo para o ouvido humano.
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Os pesquisadores estudaram como brincar e receber cócegas afetavam a atividade cerebral dos ratos.
Estudos científicos anteriores mostraram que ratos não apenas riem quando brincam — eles também riem quando recebem cócegas. E embora fazer cócegas não seja divertido (ou às vezes até doloroso) se estiver acontecendo contra a vontade, em pequenas doses, tende a ser agradável para o receptor.
“Os ratos adoram receber cócegas”, disse Brecht. Além do mais, ele disse, “há uma relação muito clara entre cócegas e diversão em ratos”.
Desenvolver uma melhor compreensão de como uma brincadeira funciona dentro do cérebro, em um nível básico, pode fornecer informações importantes sobre como aprendemos, crescemos e nos adaptamos aos desafios da vida.
Brecht disse que o comportamento lúdico pode ter se desenvolvido em animais e humanos como um meio de treinar o cérebro.
“Acho que pode ser mais valioso do que as pessoas pensam”, acrescentou.
Área-chave do cérebro
Para saber mais sobre como brincar e receber cócegas afetam a atividade cerebral dos ratos, os pesquisadores elaboraram uma série de experimentos.
A equipe se concentrou em uma região do mesencéfalo chamada cinzenta periaquedutal, ou PAG, porque, juntamente com os comportamentos associados à ansiedade e ao medo, demonstrou estar envolvida com vocalizações e risos.
Os pesquisadores jogaram “jogos de perseguição manual” com seus ratos e gentilmente fizeram cócegas neles, enquanto minúsculas sondas neurais sem fio registravam a atividade cerebral dos ratos.
A equipe descobriu que tanto as cócegas quanto as brincadeiras iluminavam as regiões PAG dos ratos. Além disso, em testes em que os cientistas inibiram a atividade nessa parte do cérebro, os ratos mostraram-se menos inclinados a brincar ou rir quando receberam cócegas.
“Não era apenas que havia muitas células que respondiam a brincadeiras ou cócegas” nesta parte do PAG, disse Brecht, mas também que os cérebros dos ratos respondiam a ambas as atividades da mesma maneira.
Ele disse que, embora suspeite que outras partes do cérebro além do PAG estejam envolvidas com esses comportamentos, é uma estrutura que é “muito importante na brincadeira. E é algo que nos falta – a brincadeira é muito difícil de estudar e não há muitos circuitos cerebrais específicos para brincar”.
Brincar como adaptação evolutiva
A Dra. Alexa Veenema, professora associada de neurociência comportamental na Michigan State University, disse que o desenho do estudo foi “muito inteligente” ao simular o riso que normalmente vem de brincadeiras sociais entre ratos.
Veenema, que não estava envolvida neste projeto, concordou com a conclusão de Brecht de que fazer cócegas e brincar usam alguns dos mesmos circuitos cerebrais.
Ela disse: “deve ser evolutivamente importante. Sabemos que, se privarmos ratos ou primatas não humanos e até mesmo crianças dessas interações sociais, essas interações lúdicas, isso afetará seu funcionamento social mais tarde”.
Tanto Veenema quanto Brecht disseram que esperam que o estudo ajude as pessoas a apreciar a importância da brincadeira, tanto para crianças quanto para adultos.
“Talvez uma lição seja se envolver nesse comportamento, independentemente da sua idade, e se divertir um pouco todos os dias por meio de um comportamento lúdico”, disse Veenema.